Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Podemos estar num momento de viragem na conjuntura social e política, com desdobramentos importantes nestes meses que precedem a eleição deste ano crucial para o futuro do país. Vai depender do humor das ruas e das investigações sobre a execução da vereadora Marielle. Vai depender da capacidade do governo de oferecer respostas às questões ainda pendentes sobre os rumos da intervenção no Rio.
Neste domingo haveria uma pajelança na cidade, com a presença do presidente Michel Temer, para marcar o primeiro mês da intervenção. Não havia resultados a celebrar mas era uma boa “photo opportunity”. É notório que Temer contava com os efeitos de sua “jogada de mestre” para viabilizar eventual candidatura à reeleição. Em 30 dias, segundo a plataforma Fogo Cruzado, houve 688 tiroteios e 149 mortes violentas, bem mais que no mesmo período do ano passado: 390 tiroteios e 130 mortes. Com a execução da vereadora, estando a cidade sob o tacão federal na área de segurança, o jeito foi cancelar o evento.
O governo investe tudo nas investigações, colocando na linha de frente o ministro Jungmann, da Segurança Pública, num arranjo não-convencional em que a Polícia Federal parece ter assumido o comando, embora a responsabilidade formal seja da Polícia Civil. E continua devendo respostas sobre a quê veio a intervenção. Qual é o plano de ação estratégico, para além das incursões a algumas comunidades e qual é o orçamento garantido, inclusive para reequipamento das polícias. Jungmann prometeu divulgar as verbas nesta semana mas sabe-se que o governo ainda nem fez os remanejamentos necessários no orçamento federal.
Apesar do evidente improviso, cerca de 80% da população, segundo pesquisas, apoiaram a intervenção: algo precisava ser feito. Sem respostas, o crédito pode se dissipar. Se rumos claros e convincentes forem apresentados, pode se manter ou até crescer. Afinal, agora a população do Rio ficou na encruzilhada: ou aposta na intervenção, com improviso e tudo, ou se rende ao medo, ao mando do tráfico e das milícias.
Aqui entra o humor das ruas. O crime chocante tirou as pessoas da zona de recolhimento, pois em conforto nem se pode falar no Brasil atual. Os protestos aconteceram em várias capitais. Na sexta-feira, houve uma segunda manifestação no Rio, mas já sem a força da de quinta-feira, no velório da vereadora e de seu motorista. É cedo para saber se a comoção vai se dissipar ou se acenderá alguma onda rebelde, como a de 2013, que começou com o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público paulista, evoluiu para críticas à corrupção e à representação política. Ali brotou a nova direita que dois anos depois daria verniz popular ao movimento do MDB-PSDB para derrubar Dilma com o impeachment.
Agora a agenda da insegurança domina a cena. O governo é altamente impopular, e há pela frente uma eleição desconjuntada. O candidato favorito pode ser preso e inabilitado, o de extrema direita ocupa o segundo lugar e ao centro faltam votos e sobram candidatos. A eleição está logo ali mas a travessia até lá vai ser dura. Ao Rio, o governo tem que oferecer respostas esta semana, sobre o crime e sobre a intervenção.
Lava-Jato, 4 anos
O balanço da Operação Lava Jato em seu quarto aniversário, na sexta-feira, foi ofuscado pela tragédia no Rio. E por duas notas negativas. Uma, com a divulgação de vídeos em que autoridades americanas confessam uma “cooperação informal”, inclusive no caso triplex do Guarujá. Cooperação, manda a lei, tem que passar pelo Ministério da Justiça. Com base nelas a defesa de Lula voltou a pedir a anulação de seu julgamento junto. No mínimo, ganha tempo. Outra foi o anúncio de que só agora as investigações vão chegar a São Paulo, onde nunca avançaram sobre as denúncias de corrupção em obras contratadas pelos governos tucanos.
Podemos estar num momento de viragem na conjuntura social e política, com desdobramentos importantes nestes meses que precedem a eleição deste ano crucial para o futuro do país. Vai depender do humor das ruas e das investigações sobre a execução da vereadora Marielle. Vai depender da capacidade do governo de oferecer respostas às questões ainda pendentes sobre os rumos da intervenção no Rio.
Neste domingo haveria uma pajelança na cidade, com a presença do presidente Michel Temer, para marcar o primeiro mês da intervenção. Não havia resultados a celebrar mas era uma boa “photo opportunity”. É notório que Temer contava com os efeitos de sua “jogada de mestre” para viabilizar eventual candidatura à reeleição. Em 30 dias, segundo a plataforma Fogo Cruzado, houve 688 tiroteios e 149 mortes violentas, bem mais que no mesmo período do ano passado: 390 tiroteios e 130 mortes. Com a execução da vereadora, estando a cidade sob o tacão federal na área de segurança, o jeito foi cancelar o evento.
O governo investe tudo nas investigações, colocando na linha de frente o ministro Jungmann, da Segurança Pública, num arranjo não-convencional em que a Polícia Federal parece ter assumido o comando, embora a responsabilidade formal seja da Polícia Civil. E continua devendo respostas sobre a quê veio a intervenção. Qual é o plano de ação estratégico, para além das incursões a algumas comunidades e qual é o orçamento garantido, inclusive para reequipamento das polícias. Jungmann prometeu divulgar as verbas nesta semana mas sabe-se que o governo ainda nem fez os remanejamentos necessários no orçamento federal.
Apesar do evidente improviso, cerca de 80% da população, segundo pesquisas, apoiaram a intervenção: algo precisava ser feito. Sem respostas, o crédito pode se dissipar. Se rumos claros e convincentes forem apresentados, pode se manter ou até crescer. Afinal, agora a população do Rio ficou na encruzilhada: ou aposta na intervenção, com improviso e tudo, ou se rende ao medo, ao mando do tráfico e das milícias.
Aqui entra o humor das ruas. O crime chocante tirou as pessoas da zona de recolhimento, pois em conforto nem se pode falar no Brasil atual. Os protestos aconteceram em várias capitais. Na sexta-feira, houve uma segunda manifestação no Rio, mas já sem a força da de quinta-feira, no velório da vereadora e de seu motorista. É cedo para saber se a comoção vai se dissipar ou se acenderá alguma onda rebelde, como a de 2013, que começou com o aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público paulista, evoluiu para críticas à corrupção e à representação política. Ali brotou a nova direita que dois anos depois daria verniz popular ao movimento do MDB-PSDB para derrubar Dilma com o impeachment.
Agora a agenda da insegurança domina a cena. O governo é altamente impopular, e há pela frente uma eleição desconjuntada. O candidato favorito pode ser preso e inabilitado, o de extrema direita ocupa o segundo lugar e ao centro faltam votos e sobram candidatos. A eleição está logo ali mas a travessia até lá vai ser dura. Ao Rio, o governo tem que oferecer respostas esta semana, sobre o crime e sobre a intervenção.
Lava-Jato, 4 anos
O balanço da Operação Lava Jato em seu quarto aniversário, na sexta-feira, foi ofuscado pela tragédia no Rio. E por duas notas negativas. Uma, com a divulgação de vídeos em que autoridades americanas confessam uma “cooperação informal”, inclusive no caso triplex do Guarujá. Cooperação, manda a lei, tem que passar pelo Ministério da Justiça. Com base nelas a defesa de Lula voltou a pedir a anulação de seu julgamento junto. No mínimo, ganha tempo. Outra foi o anúncio de que só agora as investigações vão chegar a São Paulo, onde nunca avançaram sobre as denúncias de corrupção em obras contratadas pelos governos tucanos.
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