Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) está destinado a se transformar num caso emblemático da intervenção militar no Rio de Janeiro. Depois de abrir mochilas de crianças e fotografar moradores de favelas em busca de antecedentes criminais, o general Braga Neto encontra-se diante de um caso sério, que deve ser apurado e esclarecido, com o julgamento e punição dos responsáveis.
Todos os indícios sobre a morte de Marielle Franco configuram um caso óbvio de execução criminosa e crime encomendado. Um automóvel emparelhou com o carro que conduzia a vereadora para casa. Foram feitos 9 disparos que ainda mataram o motorista Anderson Pedro Gomes. Também atingida por estilhaços, a assessora Fernanda Chaves chegou a ser levada para um hospital próximo, sendo liberada na madrugada.
Não custa lembrar que há um mês, enxovalhado pelo Carnaval da Paraíso do Tuiti, que traduzia a indignação de um país contra um governo ilegítimo e desastrado, Michel Temer formou uma rede nacional de rádio e televisão para anunciar: "Você sabe que o crime organizado quase tomou conta do Rio. É como uma metástase, que se espalha pelo país e ameaça a tranquilidade do povo".
Temer também disse: "Decretei intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Assim exigiram as circunstâncias".
Pois é.
Quinta vereadora mais votada em 2016, com uma atuação destacada em defesa dos direitos humanos e na denúncia da violência policial, o currículo de Marielle Franco confere um caráter político inegável ao caso. Nascida no complexo da Maré, formou-se em sociologia pela PUC e fez mestrado na Universidade Federal Fluminense, com uma tese de mestrado sobre as Unidades de Polícia Pacificadora. Sua morte é inaceitável e preocupante.
Na campanha eleitoral de 2016, no Estado do Rio de Janeiro, nove pré-candidatos a vereadores foram assassinatos em oito meses. O detalhe é que nenhum deles disputava eleições na capital, mas em cidades da Baixada Fluminense -- o que demonstra um novo grau de periculosidade na morte de Marielle Franco.
Assassinada um mês depois que Michel Temer colocou o Rio de Janeiro sob "intervenção militar," como diz o decreto assinado em ambiente de fim de carnaval em Brasília, a morte de Marielle confirma uma verdade conhecida tanto pelos estudiosos como pelo cidadão comum.
Mostra que a militarização da segurança publica é um recurso fácil de anunciar mas de eficácia duvidosa para cumprir objetivos legítimos do ponto de vista de uma sociedade.
Primeiro país do continente a afastar as Forças Armadas das atividades ligadas a soberania do país para o combate ao crime organizado, com o argumento de que era preciso enfrentar o narcotráfico, o México amarga um fracasso vergonhoso nessa área, como demonstram estatísticas oficiais do Sistema Nacional de Segurança Pública.
Num país onde os assassinatos de inocentes são acompanhados do desaparecimento das vítimas em fossas clandestinas, dificultando ainda mais a identificação das vítimas e apuração de responsabilidades, a militarização da segurança no México produziu resultados assustadores, que mostram uma elevação da violência para um patamar de barbárie.
A soma do total de desaparecimentos até 2006, período em a polícia das cidades e Estados mexicanos respondia pela segurança interna, atingia 247 pessoas.
Em 2007, o ano da estreia da militarização, já ocorreu um salto superior a 100%: foram 619 desaparecimentos. Em crescimento contínuo desde então, essa contabilidade macabra chegou o numero de 4951 em 2016 e ficou em 2403 em 2017. Em uma década de militarização, os desaparecimentos atingiram 32.277 pessoas.
O rebaixamento das funções das Forças Armadas é coerente com uma visão enfraquecida da soberania nacional, sinalizada pela assinatura de um tratado de livre comércio, o Nafta, que colocou as grandes decisões de política econômica nas mãos dos Estados Unidos. Sua diplomacia, que no passado deu exemplos de independência, também se tornou instrumento do vizinho rico e poderoso. As vítimas da violência incluem tanto acerto de contas entre bandos ligados ao gráfico como perseguição a militantes da luta social.
Deu para entender a gravidade da morte de Meirelle Franco, certo?
(A relação entre o vertiginoso crescimento da violência no México e as mudanças estruturais ocorridas no país estão bem explicadas num vídeo [aqui] gravado por Luiz Vasquez, professor aposentado da Universidade Autônoma).
O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) está destinado a se transformar num caso emblemático da intervenção militar no Rio de Janeiro. Depois de abrir mochilas de crianças e fotografar moradores de favelas em busca de antecedentes criminais, o general Braga Neto encontra-se diante de um caso sério, que deve ser apurado e esclarecido, com o julgamento e punição dos responsáveis.
Todos os indícios sobre a morte de Marielle Franco configuram um caso óbvio de execução criminosa e crime encomendado. Um automóvel emparelhou com o carro que conduzia a vereadora para casa. Foram feitos 9 disparos que ainda mataram o motorista Anderson Pedro Gomes. Também atingida por estilhaços, a assessora Fernanda Chaves chegou a ser levada para um hospital próximo, sendo liberada na madrugada.
Não custa lembrar que há um mês, enxovalhado pelo Carnaval da Paraíso do Tuiti, que traduzia a indignação de um país contra um governo ilegítimo e desastrado, Michel Temer formou uma rede nacional de rádio e televisão para anunciar: "Você sabe que o crime organizado quase tomou conta do Rio. É como uma metástase, que se espalha pelo país e ameaça a tranquilidade do povo".
Temer também disse: "Decretei intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Assim exigiram as circunstâncias".
Pois é.
Quinta vereadora mais votada em 2016, com uma atuação destacada em defesa dos direitos humanos e na denúncia da violência policial, o currículo de Marielle Franco confere um caráter político inegável ao caso. Nascida no complexo da Maré, formou-se em sociologia pela PUC e fez mestrado na Universidade Federal Fluminense, com uma tese de mestrado sobre as Unidades de Polícia Pacificadora. Sua morte é inaceitável e preocupante.
Na campanha eleitoral de 2016, no Estado do Rio de Janeiro, nove pré-candidatos a vereadores foram assassinatos em oito meses. O detalhe é que nenhum deles disputava eleições na capital, mas em cidades da Baixada Fluminense -- o que demonstra um novo grau de periculosidade na morte de Marielle Franco.
Assassinada um mês depois que Michel Temer colocou o Rio de Janeiro sob "intervenção militar," como diz o decreto assinado em ambiente de fim de carnaval em Brasília, a morte de Marielle confirma uma verdade conhecida tanto pelos estudiosos como pelo cidadão comum.
Mostra que a militarização da segurança publica é um recurso fácil de anunciar mas de eficácia duvidosa para cumprir objetivos legítimos do ponto de vista de uma sociedade.
Primeiro país do continente a afastar as Forças Armadas das atividades ligadas a soberania do país para o combate ao crime organizado, com o argumento de que era preciso enfrentar o narcotráfico, o México amarga um fracasso vergonhoso nessa área, como demonstram estatísticas oficiais do Sistema Nacional de Segurança Pública.
Num país onde os assassinatos de inocentes são acompanhados do desaparecimento das vítimas em fossas clandestinas, dificultando ainda mais a identificação das vítimas e apuração de responsabilidades, a militarização da segurança no México produziu resultados assustadores, que mostram uma elevação da violência para um patamar de barbárie.
A soma do total de desaparecimentos até 2006, período em a polícia das cidades e Estados mexicanos respondia pela segurança interna, atingia 247 pessoas.
Em 2007, o ano da estreia da militarização, já ocorreu um salto superior a 100%: foram 619 desaparecimentos. Em crescimento contínuo desde então, essa contabilidade macabra chegou o numero de 4951 em 2016 e ficou em 2403 em 2017. Em uma década de militarização, os desaparecimentos atingiram 32.277 pessoas.
O rebaixamento das funções das Forças Armadas é coerente com uma visão enfraquecida da soberania nacional, sinalizada pela assinatura de um tratado de livre comércio, o Nafta, que colocou as grandes decisões de política econômica nas mãos dos Estados Unidos. Sua diplomacia, que no passado deu exemplos de independência, também se tornou instrumento do vizinho rico e poderoso. As vítimas da violência incluem tanto acerto de contas entre bandos ligados ao gráfico como perseguição a militantes da luta social.
Deu para entender a gravidade da morte de Meirelle Franco, certo?
(A relação entre o vertiginoso crescimento da violência no México e as mudanças estruturais ocorridas no país estão bem explicadas num vídeo [aqui] gravado por Luiz Vasquez, professor aposentado da Universidade Autônoma).
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