quarta-feira, 14 de março de 2018

Os negócios enrolados de Alckmin e Aécio

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

O cidadão declara à Receita que tem R$ 700 mil em cotas de uma rádio da família. Um ano depois, vende estas mesmas cotas por R$ 6 milhões a uma irmã.

Um bom negócio? Sem dúvida, mas se este cidadão é o senador Aécio Neves, ex-presidenciável tucano, que viu seu patrimônio triplicar depois da eleição de 2014, passando de R$ 2,5 milhões em 2015 para R$ 8 milhões no ano seguinte, tem alguma coisa estranha sob este angu mineiro.

O repentino enriquecimento de Aécio foi revelado após a quebra do seu sigilo fiscal no inquérito da Lava Jato que investiga o senador no caso daqueles R$ 2 milhões que pediu a Joesley Batista para pagar advogados, com áudio gravado e o vídeo da entrega do dinheiro a um parente.

A rádio Arco Íris, de propriedade da família Neves, deve ser um fenômeno empresarial num ramo que enfrenta sérias dificuldades. Afiliada da rádio Jovem Pan, uma rede que defende tudo o que tem de mais atrasado na política brasileira, a Arco Íris, que ocupa o quinto lugar em audiência na Grande BH, deve estar valendo uma fortuna.

Ficamos sabendo que entre 2014 e 2016, Aécio recebeu R$ 3,1 milhões a título de lucros e dividendos não tributáveis (só no Brasil deve existir isso), segundo reportagem publicada nesta terça-feira na Folha, que teve acessos aos documentos da investigação.

Não vai dar em nada, eu sei, mas esta semana dois grão-tucanos apareceram no noticiário enrolados em negócios familiares mal explicados, para dizer o mínimo.

Sei também que meus amigos tucanos não gostam que se toque nestes assuntos desagradáveis, vão dizer que não se deve misturar família com política, mas está nos jornais, fazer o quê?

“Firma de Alckmin usa prédio de cunhado suspeito de caixa 2 - Empresas do governador e sua família têm ou tiveram como sede edifício citado em delação da Odebrecht”, noticiou a mesma Folha um dia antes, ao revelar os negócios familiares do governador paulista que vai disputar pela segunda vez a Presidência.

Adhemar Ribeiro, o cunhado de Geraldo Alckmin, irmão da primeira-dama, já apareceu várias vezes no noticiário, sempre ligado a arrecadação de “caixa dois” para campanhas eleitorais, mas não se ficou sabendo que fim levaram as investigações.

As três empresas da família Alckmin ocupam escritórios no prédio de Ribeiro, o imponente Wall Street Empreendimentos da avenida Nove de Julho, desde 2016, quando Alckmin foi derrotado por Lula e abriu a Humanitas Palestras.

Uma agência de imprensa da filha Sophia deixou o prédio apenas 18 dias depois de o STF avalizar a delação da Odebrecht.

Carlos Armando Paschoal, ex-superintendente da construtora em são Paulo e um dos delatores da Odebrecht, contou em detalhes como Adhemar Ribeiro atuou na campanha de Alckmin.

Segundo Paschoal, depois de uma primeira reunião no escritório de Alckmin em que foi apresentado ao cunhado, de julho a outubro de 2010 eles se encontraram várias vezes em locais escolhidos por Ribeiro para fazer os repasses de dinheiro.

Só em novembro do ano passado o STJ receberia um pedido de abertura de inquérito contra Alckmin pelo suposto recebimento de R$ 10 milhões em “caixa dois” revelado por dois delatores da Odebrecht.

Como costuma acontecer nos inquéritos envolvendo tucanos, o caso tramita em segredo de Justiça - e não se fala mais no assunto.

A assessoria de Alckmin informou que “as salas foram cedidas em razão do parentesco entre Adhemar Ribeiro e a família Alckmin, em dezembro de 2006, num momento em que o governador não detinha cargo público, e sem cobrança de aluguéis”. Alckmin sempre negou irregularidades em campanhas eleitorais.

E vida que segue.

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