terça-feira, 6 de março de 2018

PIB esquálido e investimentos em queda

Por Marcelo Manzano, no site da Fundação Perseu Abramo:

O tíbio desempenho do PIB em 2017 (+1%) reforça o diagnóstico da grave situação econômica em que o país se encontra. Fortemente apoiado no bom momento das nossas exportações e no crescimento do consumo das famílias  -  tonificado com a liberação de recursos do FGTS - o “pibinho” de 2017 carrega alguns sinais preocupantes sobre as possibilidades de uma recuperação mais consistente da economia brasileira nos próximos trimestres.

Em primeiro lugar, o volume total de investimentos voltou a registrar queda pelo quarto ano consecutivo (-1,8%) o que derrubou a taxa de investimento como proporção do PIB a 15,6%, a mais baixa da série histórica iniciada em 1996. Tal resultado reflete em grande medida mais um ano de forte retração do setor de construção civil (-5%), notadamente afetado pela queda dos investimentos em infraestrutura que seguem definhando em decorrência do desmonte das bases de financiamento de longo prazo e da desastrosa política de desalavancagem praticada pelos dirigentes das principais empresas estatais brasileiras.

Em segundo lugar, a fraca variação do PIB no último trimestre de 2017 (+0,1%) reforçou o entendimento de que o efeito carry over (que diz respeito à propriedade de arrasto do dinamismo econômico de um ano para o outro) deverá ficar em apenas 0,4%, o que constitui um indicativo de que a recuperação em 2018 será menos potente do que vinham apostando o mercado e o governo.

Considerando ainda que a propulsão externa deverá minguar (as exportações caíram 0,9% no último trimestre, enquanto as importações avançaram 1,6%), que a agricultura perderá vigor (no último trimestre ficou estagnada e deverá cair ao longo de 2018) e que não se dispõe de novas doses de oxigênio “ex machina” (como o FGTS), o pouco de dinamismo que deveremos ter em 2018 deverá vir da recuperação de uma fração do setor manufatureiro que de forma retardada ainda atende às encomendas dos segmentos que cresceram no ano passado, da maior folga fiscal que o governo federal acumulou na medida em que foi incapaz de cumprir com as metas de gasto primário em 2017 e de uma esperada ampliação do consumo das famílias apoiado principalmente na volta do crédito. Noves fora, é muito pouco para um país cuja renda per capita encolheu cerca de 10% nos últimos três anos.

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