Por Cíntia Alves, no Jornal GGN:
Quem pensa que Geraldo Alckmin não está se preparando para atravessar um corredor polonês de perguntas sobre corrupção precisa conferir o desempenho do candidato na primeira sabatina do SBT, UOL e Folha. O tucano já é o tipo que transforma uma questão objetiva sobre propina ao PSDB, com envolvimento pessoal de seu cunhado, numa propaganda sobre como "contrariou" os interesses de poderosos e articulou a redução do valor dos pedágios em São Paulo, pensando na economia do povo.
É deslizando como um sabonete que o tucano vai tentando reduzir o impacto dos escândalos que, volta e meia, recaem sobre si ou correligionários. Em todas as oportunidades, Alckmin se esforça para não entrar no mérito das acusações. Para isso, agarra-se a questões técnicas que tenham a ver com o assunto e fomenta, assim, a imagem de gestor hábil ao mesmo tempo em que explica nenhuma das imputações. .
Por exemplo, quando o jornalista da Folha abordou o ex-governador com a denúncia feita por representantes da CCR, de que o consórcio teria repassado R$ 5 milhões para a campanha tucana por meio do cunhado, Alckmin respondeu: "É um absurdo verdadeiro. Eu nunca vi ninguém ajudar alguém que sabe de antemão que vai trabalhar contra seus interesses."
Por mais de 3 minutos (na TV, isso é quase uma eternidade), Alckmin teve a permissão para falar sem interrupções sobre como, lá em 2010, revisou todos contratos, reduziu valores dos pedágios, "quebrou o monopólio do Sem Parar" e entrou na Justiça contra as concessionárias. Quando os jornalistas começaram a dar sinais de impaciência diante da tergiversação, ele terminou com: "Minhas campanhas foram feitas rigorosamente dentro da lei sem nenhuma ostentação." Não foi contrariado.
Carlos Nascimento, do SBT, reforçou a pergunta sobre a denúncia do caixa 2 de R$ 5 milhões e, mais uma vez, Alckmin saiu pela tangente alegando que a acusação partiu de uma delação que está "sob sigilo". Por conta disso, ele e seu advogado "não sabem o que é" que está em apuração, embora o assunto esteja "o tempo inteiro na imprensa".
Depois de alguns minutos mais de esforço para não comentar a acusação no mérito, Alckmin pediu licença para olhar diretamente para a câmera e desabafar no ouvido do eleitor.
"Me permita falar com quem está nos acompanhando. Tenho 40 anos de vida pública. Fui presidente e vereador numa época em que vereador não ganhava um centavo. Fui deputado estadual e, que eu saiba, fui o único caso de quem contribuiu e não se aposentou como deputado estadual. Não pedi o dinheiro de volta, dei tudo para o Estado e para o povo. Fui deputado federal duas vezes, contribui para a Previdência, poderia ter uma previdência complementar há 15 anos, mas nunca requeri. Ficou tudo para o governo federal e o povo. Me aposentei pelo INSS depois de 42 anos de contribuição, comecei a trabalhar com 21 anos dando aula em cursinho para ajudar a pagar a faculdade de Medicina, que meu pai era funcionário público, com 5 mil reais de aposentadoria [não ficou claro de quem era a aposentadoria]. Moro no mesmo apartamento. Me sinto indignado! Há uma tendência no Brasil de defenestrar a política e dizer que é todo mundo igual. Não, não é", exclamou.
Mais insistente que os colegas do UOL e Folha, Carlos Nascimento refez a pergunta: qual era, afinal, a função do cunhado acusado de receber propina na campanha?
"Simpatizante do PSDB", respondeu Alckmin. "Ele é casado com uma banqueira, o sogro dele é banqueiro, dono de uma financeira. É um simpatizante do partido, nada mais que isso. Aliás nem tem relação com o governo."
Mas, candidato, o senhor que fala tanto sobre gestão eficiente, não acha que faltou ao seu governo alguma atitude para acabar com a corrupção que ocorria bem abaixo do seu nariz?
Alckmin, o gestor, rebateu com "tudo no governo do Estado é licitação, e não tem uma que não seja judicializada." E envenderou-se pela crise econômica que, pasmem, não afetou os investimentos em São Paulo, e desembocou nos "desafios" que o próximo presidente terá para atrair mais investidores.
Na sequência, Carlos Nascimento trouxe à tona as denúncias acerca de obras do Rodoanel e do Metrô, com trens comprados a preços exorbitantes sem que a linha sequer estivesse pronta. Alckmin, então, deu um sermão sobre como concessões ao setor privado tem lá seus problemas, porque as empresas "quebram" ou entram em crise e atrasam as obras mesmo.
De qualquer forma, garantiu que "nenhum centavo de prejuízo para o Estado" ocorreu com problemas no Metrô. E, aproveitando o insight, voltou à questão da fiscalização e requereu os créditos por ter iniciado a investigação que pegou os supostos desvios do esquema Paulo Preto na Dersa.
"Você sabia que ele [Paulo Preto] tinha 113 milhões de dólares lá fora?", questionou Nascimento. "Não, e se isso for provado, ele tem que dizer qual a origem do dinheiro."
Quando quem está na mira da Justiça é tucano, o direito à defesa é sublinhado pelo ex-governador.
Sobre Eduardo Azeredo, que recebeu ordem de prisão pela condenação do mensalão tucano, Alckmin tentou sair pela tangente com "eu não sou advogado, não li o processo, não conheço." Carlos Nascimento insistiu: "O senhor conhece a história." Alckmin resumiu com "cumpra-se a decisão da Justiça."
E Aécio Neves (réu no Supremo), Beto Richa (processado na vara de Sergio Moro), Fernando Capez (presidente da Assembleia Legislativa acusado na Máfia da Merenda)? O candidato vai subir no palanque deles?
Alckmin respondeu que Aécio não é candidato, mas sim Anastasia, que "deve ganhar no primeiro turno." Beto Richa "vai se explicar" e Capez não mereceu comentário.
Questionado sobre como pretende financiar a campanha a presidente, se com recursos indiretos das empreiteiras envolvidas na Lava Jato, Alckmin entrou na defensiva. Disse que seu patrimônio é R$ 1,3 milhão, "praticamente o mesmo de 4 anos atrás". Emendou que sua última campanha "arrecadou e deixou de gastar R$ 9 milhões", logo, não fazem sentido as denúncias de caixa dois. "Eu acredito no julgamento do povo", que vai saber separar o joio do trigo, apontou o tucano.
Ao final da questão, disse que vai usar o dinheiro do fundo eleitoral e fazer arrecadação de pessoa física, além de "abrir um crowdfunding" para financiamento coletivo. Pretende gastar até R$ 70 milhões da verba do partido, se possível menos do que isso, nos dois turnos.
Quando o assunto mudou de curso e chegou aos adversários, Alckmin disse que Bolsonaro e PT são a mesma coisa e que com Ciro Gomes (PDT) dá para conversar porque ele já foi "ministro do PSDB" e foi um bom governador.
É deslizando como um sabonete que o tucano vai tentando reduzir o impacto dos escândalos que, volta e meia, recaem sobre si ou correligionários. Em todas as oportunidades, Alckmin se esforça para não entrar no mérito das acusações. Para isso, agarra-se a questões técnicas que tenham a ver com o assunto e fomenta, assim, a imagem de gestor hábil ao mesmo tempo em que explica nenhuma das imputações. .
Por exemplo, quando o jornalista da Folha abordou o ex-governador com a denúncia feita por representantes da CCR, de que o consórcio teria repassado R$ 5 milhões para a campanha tucana por meio do cunhado, Alckmin respondeu: "É um absurdo verdadeiro. Eu nunca vi ninguém ajudar alguém que sabe de antemão que vai trabalhar contra seus interesses."
Por mais de 3 minutos (na TV, isso é quase uma eternidade), Alckmin teve a permissão para falar sem interrupções sobre como, lá em 2010, revisou todos contratos, reduziu valores dos pedágios, "quebrou o monopólio do Sem Parar" e entrou na Justiça contra as concessionárias. Quando os jornalistas começaram a dar sinais de impaciência diante da tergiversação, ele terminou com: "Minhas campanhas foram feitas rigorosamente dentro da lei sem nenhuma ostentação." Não foi contrariado.
Carlos Nascimento, do SBT, reforçou a pergunta sobre a denúncia do caixa 2 de R$ 5 milhões e, mais uma vez, Alckmin saiu pela tangente alegando que a acusação partiu de uma delação que está "sob sigilo". Por conta disso, ele e seu advogado "não sabem o que é" que está em apuração, embora o assunto esteja "o tempo inteiro na imprensa".
Depois de alguns minutos mais de esforço para não comentar a acusação no mérito, Alckmin pediu licença para olhar diretamente para a câmera e desabafar no ouvido do eleitor.
"Me permita falar com quem está nos acompanhando. Tenho 40 anos de vida pública. Fui presidente e vereador numa época em que vereador não ganhava um centavo. Fui deputado estadual e, que eu saiba, fui o único caso de quem contribuiu e não se aposentou como deputado estadual. Não pedi o dinheiro de volta, dei tudo para o Estado e para o povo. Fui deputado federal duas vezes, contribui para a Previdência, poderia ter uma previdência complementar há 15 anos, mas nunca requeri. Ficou tudo para o governo federal e o povo. Me aposentei pelo INSS depois de 42 anos de contribuição, comecei a trabalhar com 21 anos dando aula em cursinho para ajudar a pagar a faculdade de Medicina, que meu pai era funcionário público, com 5 mil reais de aposentadoria [não ficou claro de quem era a aposentadoria]. Moro no mesmo apartamento. Me sinto indignado! Há uma tendência no Brasil de defenestrar a política e dizer que é todo mundo igual. Não, não é", exclamou.
Mais insistente que os colegas do UOL e Folha, Carlos Nascimento refez a pergunta: qual era, afinal, a função do cunhado acusado de receber propina na campanha?
"Simpatizante do PSDB", respondeu Alckmin. "Ele é casado com uma banqueira, o sogro dele é banqueiro, dono de uma financeira. É um simpatizante do partido, nada mais que isso. Aliás nem tem relação com o governo."
Mas, candidato, o senhor que fala tanto sobre gestão eficiente, não acha que faltou ao seu governo alguma atitude para acabar com a corrupção que ocorria bem abaixo do seu nariz?
Alckmin, o gestor, rebateu com "tudo no governo do Estado é licitação, e não tem uma que não seja judicializada." E envenderou-se pela crise econômica que, pasmem, não afetou os investimentos em São Paulo, e desembocou nos "desafios" que o próximo presidente terá para atrair mais investidores.
Na sequência, Carlos Nascimento trouxe à tona as denúncias acerca de obras do Rodoanel e do Metrô, com trens comprados a preços exorbitantes sem que a linha sequer estivesse pronta. Alckmin, então, deu um sermão sobre como concessões ao setor privado tem lá seus problemas, porque as empresas "quebram" ou entram em crise e atrasam as obras mesmo.
De qualquer forma, garantiu que "nenhum centavo de prejuízo para o Estado" ocorreu com problemas no Metrô. E, aproveitando o insight, voltou à questão da fiscalização e requereu os créditos por ter iniciado a investigação que pegou os supostos desvios do esquema Paulo Preto na Dersa.
"Você sabia que ele [Paulo Preto] tinha 113 milhões de dólares lá fora?", questionou Nascimento. "Não, e se isso for provado, ele tem que dizer qual a origem do dinheiro."
Quando quem está na mira da Justiça é tucano, o direito à defesa é sublinhado pelo ex-governador.
Sobre Eduardo Azeredo, que recebeu ordem de prisão pela condenação do mensalão tucano, Alckmin tentou sair pela tangente com "eu não sou advogado, não li o processo, não conheço." Carlos Nascimento insistiu: "O senhor conhece a história." Alckmin resumiu com "cumpra-se a decisão da Justiça."
E Aécio Neves (réu no Supremo), Beto Richa (processado na vara de Sergio Moro), Fernando Capez (presidente da Assembleia Legislativa acusado na Máfia da Merenda)? O candidato vai subir no palanque deles?
Alckmin respondeu que Aécio não é candidato, mas sim Anastasia, que "deve ganhar no primeiro turno." Beto Richa "vai se explicar" e Capez não mereceu comentário.
Questionado sobre como pretende financiar a campanha a presidente, se com recursos indiretos das empreiteiras envolvidas na Lava Jato, Alckmin entrou na defensiva. Disse que seu patrimônio é R$ 1,3 milhão, "praticamente o mesmo de 4 anos atrás". Emendou que sua última campanha "arrecadou e deixou de gastar R$ 9 milhões", logo, não fazem sentido as denúncias de caixa dois. "Eu acredito no julgamento do povo", que vai saber separar o joio do trigo, apontou o tucano.
Ao final da questão, disse que vai usar o dinheiro do fundo eleitoral e fazer arrecadação de pessoa física, além de "abrir um crowdfunding" para financiamento coletivo. Pretende gastar até R$ 70 milhões da verba do partido, se possível menos do que isso, nos dois turnos.
Quando o assunto mudou de curso e chegou aos adversários, Alckmin disse que Bolsonaro e PT são a mesma coisa e que com Ciro Gomes (PDT) dá para conversar porque ele já foi "ministro do PSDB" e foi um bom governador.
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