quinta-feira, 3 de maio de 2018

Apesar da crise, lucros bilionários dos bancos

Por Tiago Pereira, na Rede Brasil Atual:

A taxa de desemprego subiu de 11,8% para 13,1% no último trimestre, e os "sem trabalho" somam 13,689 milhões de pessoas. A produção industrial caiu 0,1% em março, na comparação com o mês anterior. Para onde quer que se olhe, ainda são visíveis os sinais da crise na economia, ou pelo menos de uma retomada mais lenta que se previa. Mas há pelo menos um setor que passa ileso pelas turbulências econômicas do país.

Aberta a temporada de divulgação de balanços trimestrais, somente os três maiores bancos privados que atuam no Brasil – Itaú Unibanco, Santander e Bradesco – registraram lucro líquido somado de aproximadamente R$ 14,3 bilhões, apenas no primeiro trimestre de 2018.

Para o economista Ladislau Dowbor, autor do livro A Era do Capital Improdutivo (Outras Palavras & Autonomia Literária), o lucro dos bancos em cenário de crise não se trata de uma exceção ou aparente contradição, mas justamente revelam o funcionamento de um sistema que, em vez de irrigar a economia real por meio de créditos ao setor produtivo – função essencial básica do sistema financeiro –, vem "sugando" recursos, tanto das famílias e do setor produtivo, como do próprio Estado, por meio dos títulos da dívida pública.

À RBA, ele explica que as altas taxas de juros cobradas pelos bancos – que resistem em cair, apesar da redução da taxa básica (Selic) – tem levado a um "enforcamento" das famílias, que, endividadas, têm a sua capacidade de consumo destruída. Sem consumo, as empresas diminuem o ritmo, reduzindo os salários e a própria produção, ou demitindo, em último caso.

"A título de comparação, aqui, no Brasil, um empréstimo às famílias está na faixa de 100% a 150% ao ano, segundo pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). Isso é surrealista. Na França, pego empréstimos de até 20 mil euros por 3,5% ao ano. Lá – como no resto do mundo – não existem juros ao mês, essa é uma forma de encobrir a monstruosidade que se cobra aqui", diz o economista, que também é professor titular de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

São cerca de cerca de 61,7 milhões de pessoas com o crédito "negativado" na praça, que ficaram inadimplentes e caíram no cadastro de devedores. Segundo Dowbor, se alargado esse número para as famílias, chega-se praticamente à metade da população brasileira sem capacidade de consumo.

Mas as taxas cobradas pelos bancos não interferem apenas no consumo das famílias. Dowbor cita relatos de empresários que afirmam gastar mais com juros de empréstimos bancários do que com a própria folha de pagamento dos funcionários das empresas.

"Não há economia que possa funcionar assim. Nem o empresário pode desenvolver a atividade produtiva, porque está ganhando muito pouco, nem o consumidor consegue expandir a sua demanda, porque estão enforcados. Se a gente soma a dívida das famílias e a dívida das empresas, basicamente das pequenas e médias – porque as grandes pegam dinheiro via BNDES ou no exterior, a juros internacionais em torno de 5% ao ano –, alcança-se um estoque de dívida de R$ 3,1 trilhões, que pagam juros de maneira tal que se retira quase R$ 1 trilhão da economia, cerca de 16% do PIB."

Em vez de oferecer crédito para a produção e o consumo, esses bancos ainda aplicam as poupanças dos cidadãos em títulos da dívida pública, que têm também altas taxas e retorno garantido. Com isso, as instituições financeiras são ainda remuneradas pelo dinheiro do próprio cidadão, por meio de recursos de impostos utilizados para pagar os juros desses títulos públicos. Perguntado se os bancos estariam, portanto, roubando o conjunto da sociedade, Dowbor diz que o termo técnico para isso é "usura", também conhecido como "agiotagem", segundo ele.

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