domingo, 27 de maio de 2018

Brasil vive dias de anomia social

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

A anomia social ocorre quando os indivíduos se sentem incitados a violar as normas para poder alcançar as metas (Dicionário Infopédia).
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Acabou a fantasia. Não falta mais nada. Com o governo Temer estatelado no chão e pedindo água, os militares já voltaram ao poder.

Agora é cada um por si, salve-se quem puder.

Vivemos estes últimos dias na mais completa anomia social, com a falência das instituições e a falta de autoridade do poder constituído.

As imagens da sexta-feira de tropas militares desfilando nas estradas e nas cidades, cidadãos desesperados brigando pela última comida nas prateleiras vazias ou para abastecer seus carros nos postos sem combustível, remédios faltando nas farmácias e nos hospitais, animais morrendo por falta de ração, trabalhadores andando horas a pé para não faltar ao serviço com medo de perder o emprego, voos cancelados, casamentos adiados, estudantes sem aulas: o Brasil caiu na realidade, dois anos depois do golpe parlamentar.

Diante do caos, falam agora em novo golpe militar. Mas para quê, se eles já comandam o Palácio do Planalto a pedido do próprio governo, diante do fracasso dos civis?

Ademais, a situação chegou a tal ponto que os militares não parecem dispostos neste momento a assumir diretamente esta massa falida, com o país convulsionado por crises de diferentes latitudes.

Corremos, isto sim, o risco de eleger um militar pelo voto direto, apenas 33 anos após o fim da ditadura.

Quem mais ganhou com este movimento selvagem dos caminhoneiros foi Jair Bolsonaro, o ex-capitão do Exército que virou deputado e lidera todas as pesquisas presidenciais.

Em meio à desordem instalada e ao desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, ganhou mais força o seu discurso beligerante.

Até quem sabe que se trata de um sujeito absolutamente despreparado para comandar o país agora já admite correr este risco porque “alguém precisa colocar ordem nessa porra”, como diria o filósofo Romero Jucá.

É nestas horas que os “salvadores da pátria” ganham força para arregimentar mais adeptos, agora com o poderoso instrumento das redes sociais, que Bolsonaro domina como nenhum outro candidato.

Foi por estas mesmas redes, ocupadas em grande parte por celerados e idiotas de todo tipo, protegidos pelo anonimato, que os grevistas alastraram em poucas horas o movimento por todo o país, diante de um governo desmoralizado, inerte e perdido, e uma sociedade assustada, desarticulada e sem lideranças confiáveis.

Sem entender o que estava acontecendo e tudo o que rola por trás dessa paralisação dos caminhoneiros que pararam o país, milhões de internautas deram seu apoio num primeiro momento, até que também fossem obrigados a parar, por falta de combustível nos postos e ônibus parados nas garagens.

Agora, com as Forças Armadas mais uma vez convocadas para intervir e dar um jeito nisso, diante da falência do poder civil, presidenciáveis pararam suas campanhas para refazer seus discursos.

Vão prometer o que Bolsonaro já vinha fazendo faz tempo: mais segurança para todos, como se a imensa desigualdade social, causa principal dos nossos problemas, pudesse ser resolvida a bala.

Com a habitual lucidez, o jurista Oscar Vilhena Vieira, professor de direito constitucional da FGV-SP, resumiu desta forma o momento dramático que estamos vivendo, em sua coluna na Folha deste sábado, sob o título “Tempestade social”:

“A crescente militarização da vida brasileira nos últimos anos não é um acidente, mas sim uma consequência da incapacidade dos sucessivos governos, em diferentes gradações, de construir um projeto de país que a todos beneficie”.

Temo que quando esta construção começar o Brasil já não seja mais nosso, posto que há cada vez menos gente se beneficiando e mais se lambuzando com a desgraça alheia.

Bom final de semana a todos, se possível.

E vida que segue.

Um comentário:

  1. Não sei qual a intenção de expressar tanto desconhecimento da realidade.
    O que ocorre, é uma paralização de trabalhadores autonomos, que estão tendo perdas financeiras com seu trabalho, insatisfeitos com a corrupção como todos os brasileiros.

    Romero Jucá, "dito" filósofo, deveria sim estar preso, por ser um dos líderes da roubalheira, essa sim, constituida.

    Não esta nada "faltando", além do que já faltava.

    Vergonha, patriotismo, bom senso, respeito, dignidade dos politicos.

    Incentivo para que continuem, são trabalhadores independentes que não estão trabalhando.

    Não há exercito algum, tomando medida alguma.

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