Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:
Até agora, os candidatos a presidente se movimentaram como atores num palco nacional fictício, iluminado pela mídia, numa ilusória desconexão com a política nos estados, onde os governadores e candidatos a governador serão peças da maior relevância. Dificilmente um candidato a presidente vai longe sem dispor de boas alianças com governadores ou caciques estaduais. São eles que levam a campanha aos municípios, onde a vida real acontece. O jogo dos palanques regionais está atrasado mas teve marco importante com a reunião dos governadores do Nordeste e de Minas, ontem em Recife.
Oficialmente, eles se reuniram para tratar dos problemas regionais , reclamar do governo Temer, que não está honrando compromissos, e protestar contra a privatização da Eletrobrás, especialmente a da subsidiária Chesf. O que fazia lá o petista Fernando Pimentel ? A desculpa é que o norte de Minas integra o mapa do semiárido mas, como os outros, também foi ao Recife para tratar de eleições.
Na noite de quinta-feira ele jantou com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, chefe da corrente regional mais forte no PSB. O acordo em marcha pressupõe que o PSB convença o ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, a desistir de sua candidatura ao governo para apoiar a reeleição de Pimentel. Em troca, o PT sacrificaria a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco (o que pode abrir feridas), e apoiaria a reeleição de Câmara. Um dos candidatos a senador será o petista Humberto Costa.
Bom para o PT, bom para o PSB, e ainda pode ser bom para Ciro Gomes, do PDT. Se o PSB fechar com a candidatura dele a presidente, Lacerda pode vir a ser seu vice, destronando a opção por um empresário do Sudeste, como Benjamin Steinbruch (PP) ou Josué de Castro (PR). Ou ainda ser candidato a senador na chapa de Pimentel, o que esbarraria na candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff, pivô do desentendimento entre Pimentel e o MDB local. A candidatura dela parece fadada ao sacrifício em nome das alianças regionais.
Outros acordos certamente foram examinados, embora o debate sobre o apoio do PT a Ciro Gomes, já defendido por governadores como Camilo Santana (CE) e Rui Costa (BA), esteja bloqueado pela decisão petista de levar a candidatura Lula ao limite. O maior inconveniente da estratégia é exatamente o de imobilizar os governadores petistas na montagem de suas alianças, pois sendo a candidatura de Lula incerta, os parceiros acabam tomando outro rumo.
Lá estava o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB. Como diz o deputado Luiz Couto (PT-PB), “o PT tem para com ele enorme gratidão, por ter lutado contra o impeachment e a prisão de Lula até mais que alguns petistas”. O PT apoiará o candidato a governador que ele indicar, ficando com a vaga de senador. Mas se o PSB optar por Ciro, Coutinho não poderá ficar amarrado ao PT. Agora é ver até onde os governadores petistas vão conciliar a diretriz partidária com seus interesses locais.
À primeira vista, Ciro é o que tem avançado mais no jogo dos palanques regionais. Já a centro-direita está em desvantagem também nisso. Geraldo Alckmin (PSDB), o melhor posicionado numa corrente que tem outros quatro candidatos - Rodrigo Maia (DEM), Henrique Meirelles (MDB), Flavio Rocha (PRB) e João Amoedo (Novo) – conta, por ora, apenas com o apoio de PSD, PTB e PPS, partidos com pouco mando estadual. Destes, apenas o PSD tem governadores. O de Santa Catarina, Raimundo Colombo, apoiará o tucano. Robinson Faria (RN) apoiará o conterrâneo Flávio Rocha.
Os demais candidatos do centro, por seus índices irrisórios nas pesquisas, não seduzem os governadores. Bolsonaro, dizendo-se contra tudo e todos, não tem buscado palanques regionais. Antes das convenções de julho, a bola vai rolar forte nos gramados estaduais.
Eu entendo perfeitamente os pressupostos políticos que condicionam e impulsionam o raciocínio político da Teresa. Sou capaz de tecer diversas considerações semelhantes, pois já as fiz no passado. Entretanto,sempre me desagradou a restritividade dessa zona de análise, onde o povo, o homem comum, figura como ser passivo, que se posiciona em função de considerações similares às que o levam a escolher uma marca de sabonete e não a outra, movido por escolhas pouco fundamentadas, a ponto de poder votar na direita no 1° turno e na esquerda, no 2°. A luta institucional não irá mudar o Brasil. O golpe de. 2016 foi a derrota do reformismo, que mais que ninguem o PT e Lula representaram no Brasil, foi o desfecho previsto pelos que não recomendavam a linha política petista, embora não lhe recusasse apoios eleitorais. O golpe inaugurou uma nova fase da luta de classes no Brasil, revelando que o caminho das transformações políticas, econômicas e sociais somente será trilhado quando os trabalhadores e o povo se converterem em protagonistas. As eleições de 2018 não são uma questão de vida ou morte para o futuro da luta de classes. Sinceramente, eu que sempre me dediquei para eleger um os governos do PT, nunca concordei, entretanto, com a mistificacao
ResponderExcluirde Lula e com a supervalorizacao das chamadas "conquistas" dos governos do PT. Para mim, eleger estes governos somente se justificava porque eles ofereciam melhores condições para organizar, mobilizar e conscientizar o povo. O que mais me deixou perplexo é que se deu precisamente o contrário. PS: como é difícil digitar em um celular. AVATAR Lincoln bicalho roque