Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Em reunião com aliados no diretório do PSDB em Teresina, no Piauí, um homem pediu a Geraldo Alckmin “a receita de tucano para não ser preso”.
“Não sei se entendi bem a pergunta”, desconversou o presidenciável tucano, e acrescentou: “A rigor, a Justiça não tem cor. É para todos”.
No aeroporto de São Luís, havia apenas 20 políticos maranhenses para recepcioná-lo. Poucos jornalistas apareceram.
Num encontro com universitários, em que citou muitos números e estatísticas, o empresário Mauro Fecury, amigo de José Sarney, que organizou o evento, achou graça do que ouviu do presidenciável:
“Muito bom, ele é professor. Professor de cursinho. Só falta dançar mais no palco…”.
No dia seguinte, no centro de convenções, em que a maior parte da claque veio do interior do estado em troca de almoço grátis, a platéia se esvaziou antes do candidato falar, e Alckmin se despediu contando uma piada sem graça.
Assim terminou a fracassada incursão do tucano pelo Nordeste neste final de semana, a primeira da sua nova campanha presidencial, segundo o relato de Thais Bilenky, na Folha.
Não era para menos: Geraldo Alckmin tem na região apenas 3% de intenções de voto no último Datafolha, na mesma pesquisa em que Lula aparece com 50%.
Tanto insistiram para o candidato viajar que ele resolveu se arriscar logo em território hostil, de onde não deve ter voltado com boas lembranças.
O calvário dos tucanos em apuros foi completado nesta segunda-feira com a revelação de que “Suíça vê série de depósitos a operador na gestão Serra”, estampada na manchete do mesmo jornal.
Nomeado por Geraldo Alckmin e promovido por José Serra a diretor de engenharia da Dersa em maio de 2007, o operador Paulo Vieira de Souza, mais conhecido como Paulo Preto, abriu logo em seguida quatro contas na Suíça até 2009, que somavam US$ 34,4 milhões.
As defesas do operador e do ex-governador, que negam as acusações, simplesmente não quiseram comentar as informações do Ministério Público suíço enviadas ao Brasil.
Segundo delatores, o total de propina repassado a Paulo Preto teria chegado a R$ 173 milhões durante o governo de José Serra.
A primeira vez em que se revelou a existência do operador Paulo Vieira de Souza foi em 2010, durante o último debate da campanha presidencial, quando Dilma Rousseff perguntou a José Serra sobre as atividades do correligionário.
Como Alckmin fez em Teresina, na ocasião Serra desconversou, fez que não sabia de nada, insinuou que não tinha ideia de quem se tratava, e por muito tempo não se tocou mais no assunto.
Paulo Preto, que só seria preso no último dia 6 de abril, voltaria ao noticiário recentemente, com as delações das grandes empreiteiras, mas durante as investigações Serra nunca foi sequer chamado pelas autoridades brasileiras para dar esclarecimentos sobre as denúncias feitas pelo Ministério Público da Suíça.
A parte que toca a Alckmin foi remetida pelo Superior Tribunal de Justiça para a Justiça Eleitoral de São Paulo, bem longe da Lava Jato.
Em Teresina, um tucano curioso continua esperando a receita para este mistério da impunidade.
Eles podem ficar em apuros, mas sempre escapam, pelo menos enquanto Paulo Preto não abrir o bico.
Vida que segue.
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