Por Carlos Fernandes, no blog Diário do Centro do Mundo:
Dizem que para ver a ilha é preciso sair da ilha.
Essa afirmativa é correta e profunda de inúmeras maneiras. Para quem enxerga determinadas situações de fora, as condições que as definem podem parecer óbvias. Mas para quem as vivenciam internamente, imersas e enclausuradas num universo próprio onde confundem-se as causas e efeitos de seus atos, a ilusão é sempre um conselheiro mais afetuoso, ainda que nada confiável.
A abolicionista e humanitária americana, Harriet Tubman, uma vez declarou que havia libertado mil escravos e que poderia ter libertado outros mil, isso se eles soubessem que eram escravos.
É esse tipo de ilusão sobre os próprios fatores de nossa existência que impede uma avaliação honesta sobre o papel individual que cada ator – enquanto ser transformador do mundo – exerce na sociedade no qual está inserido.
E isso serve para todas as camadas sociais.
É bem verdade que quanto mais destituído de informação – e consequentemente de maior poder de transformação – maior será o nível de alienação do indivíduo.
O que torna ainda mais patética a grande e recente descoberta pela qual passou o nosso atual presidente da República.
Michel Temer, enquanto chefe de Estado, é devidamente informado sobre todos os indicadores do país que finge governar. Inclusive, obviamente, os seus índices sôfregos e risíveis de aprovação popular.
Obtuso por natureza, sempre culpou a sua estratosférica rejeição àquela velha máxima que reza que o povo é “ignorante por não perceber que fazem o bem quando lhes retiram direitos e conquistas”.
Para que a realidade lhe saltasse aos olhos, foi preciso se desencastelar e sair do seu círculo de bandidos, corruptos e babões sempre dispostos a dizer o que quer ouvir.
No Brasil real, onde prédios despencam sobre seres humanos pela absoluta falta de interesse público em resolver a garantia constitucional de habitação para todos, Temer se deparou com um país que não lhe contaram.
Humilhado e escorraçado pelo povo presente no desastre do edifício em chamas no Largo do Paissandu, o desnorteado presidente soube que fora do Palácio do Jaburu a vida não anda tão bela.
Não imagino o esforço que fez ao declarar, poucos dias depois, que o “desemprego não cresceu”, sob sua avaliação, apenas “aumentou o número dos que procuram emprego”.
É um ficcionista nato, reconheçamos. Mas não existe ficção que suporte o inexorável peso da realidade.
Michel Temer foi instado a prestar contas com o desastre que produziu a partir da sua traição e do seu golpe.
Diante a visão do cenário de terra arrasada, já avisou aos seus ministros que não irá concorrer à eleição (reeleição é somente para quem um dia já foi eleito).
A realidade lhe caiu com a dureza que lhe é peculiar. Temer vê, impotente, suas intenções de ainda possuir algum protagonismo nas eleições de outubro, esvaírem-se pelos seus dedos como as areias do tempo que contam os seus anos.
Michel Temer se tornou de fato um velho. Não simplesmente um velho de idade, que a todos é implacável e pode atestar dignidade e sabedoria, mas um velho da política, da ética e da decência.
O que lhe sobrou agora, depois de uma vida inteira de práticas questionáveis no submundo do poder, é que hoje não passa de um insignificante à espera de um destino nebuloso.
Seria digno de pena, se não merecesse cada insulto que lhe dirigem.
Dizem que para ver a ilha é preciso sair da ilha.
Essa afirmativa é correta e profunda de inúmeras maneiras. Para quem enxerga determinadas situações de fora, as condições que as definem podem parecer óbvias. Mas para quem as vivenciam internamente, imersas e enclausuradas num universo próprio onde confundem-se as causas e efeitos de seus atos, a ilusão é sempre um conselheiro mais afetuoso, ainda que nada confiável.
A abolicionista e humanitária americana, Harriet Tubman, uma vez declarou que havia libertado mil escravos e que poderia ter libertado outros mil, isso se eles soubessem que eram escravos.
É esse tipo de ilusão sobre os próprios fatores de nossa existência que impede uma avaliação honesta sobre o papel individual que cada ator – enquanto ser transformador do mundo – exerce na sociedade no qual está inserido.
E isso serve para todas as camadas sociais.
É bem verdade que quanto mais destituído de informação – e consequentemente de maior poder de transformação – maior será o nível de alienação do indivíduo.
O que torna ainda mais patética a grande e recente descoberta pela qual passou o nosso atual presidente da República.
Michel Temer, enquanto chefe de Estado, é devidamente informado sobre todos os indicadores do país que finge governar. Inclusive, obviamente, os seus índices sôfregos e risíveis de aprovação popular.
Obtuso por natureza, sempre culpou a sua estratosférica rejeição àquela velha máxima que reza que o povo é “ignorante por não perceber que fazem o bem quando lhes retiram direitos e conquistas”.
Para que a realidade lhe saltasse aos olhos, foi preciso se desencastelar e sair do seu círculo de bandidos, corruptos e babões sempre dispostos a dizer o que quer ouvir.
No Brasil real, onde prédios despencam sobre seres humanos pela absoluta falta de interesse público em resolver a garantia constitucional de habitação para todos, Temer se deparou com um país que não lhe contaram.
Humilhado e escorraçado pelo povo presente no desastre do edifício em chamas no Largo do Paissandu, o desnorteado presidente soube que fora do Palácio do Jaburu a vida não anda tão bela.
Não imagino o esforço que fez ao declarar, poucos dias depois, que o “desemprego não cresceu”, sob sua avaliação, apenas “aumentou o número dos que procuram emprego”.
É um ficcionista nato, reconheçamos. Mas não existe ficção que suporte o inexorável peso da realidade.
Michel Temer foi instado a prestar contas com o desastre que produziu a partir da sua traição e do seu golpe.
Diante a visão do cenário de terra arrasada, já avisou aos seus ministros que não irá concorrer à eleição (reeleição é somente para quem um dia já foi eleito).
A realidade lhe caiu com a dureza que lhe é peculiar. Temer vê, impotente, suas intenções de ainda possuir algum protagonismo nas eleições de outubro, esvaírem-se pelos seus dedos como as areias do tempo que contam os seus anos.
Michel Temer se tornou de fato um velho. Não simplesmente um velho de idade, que a todos é implacável e pode atestar dignidade e sabedoria, mas um velho da política, da ética e da decência.
O que lhe sobrou agora, depois de uma vida inteira de práticas questionáveis no submundo do poder, é que hoje não passa de um insignificante à espera de um destino nebuloso.
Seria digno de pena, se não merecesse cada insulto que lhe dirigem.
Não precisamos denegrir Michel Temer, ele próprio faz isto melhor do que qualquer um de nos.
ResponderExcluir