Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Chamou-me a atenção no Roda Viva de segunda-feira a meiguice dos entrevistadores com o presidenciável tucano Geraldo Alckmin, em contraste com a crueldade mostrada quando esteve lá há poucas semanas a candidata Manuela D´Ávila, do PCdoB.
A começar pelo apresentador Ricardo Lessa, que não interrompeu nenhuma vez o tucano e só levantou a bola, parecia mais uma agradável happy-our entre amigos para discutir os rumos da campanha eleitoral.
Com uma bancada formada por representantes dos grandes veículos e uma especialista em educação, Alckmin fez da cadeira giratória no centro da arena um palanque.
Estava tão à vontade que nem se deu ao trabalho de responder ao que lhe perguntavam, naquele tom monocórdico de professor de latim de colégio de freiras.
Na maior parte do programa, limitou-se a enumerar estatísticas e alguns chavões de todas as campanhas, prometendo que com ele tudo vai melhorar.
Não havia entre os interrogadores nenhum coordenador de campanha de Bolsonaro para encurralar o entrevistado, como fizeram com Manuela, não a deixando completar as frases.
Se os caros amigos do Balaio se derem ao trabalho de pegar as duas entrevistas no site da TV Cultura, verão quais são os limites da liberdade de expressão defendida pelos donos da mídia.
Em outros tempos, ainda se procurava disfarçar um pouco para manter uma certa equidade, mas agora é tudo tão na cara que desisti de ver o programa no segundo bloco.
Para dizer bem a verdade, foi uma entrevista chata e chocha, que nada trouxe de novo para ajudar o eleitor a fazer suas escolhas em outubro.
A única novidade foi Alckmin revelar que tem a intenção de extinguir o Ministério do Trabalho, sem dizer o que colocar no lugar para equilibrar o jogo de forças dentro do governo.
Mesmo quando negou que fosse o candidato da continuidade do governo de Michel Temer, do qual o PSDB faz parte desde o início, o candidato não foi contestado, embora tenha formado a mesma aliança do atual presidente.
Disse apenas que é preciso olhar para o futuro e esquecer o passado, como se o país fosse começar de novo no caso de sua eventual vitória.
Quem ainda não sabia em qual candidato votar, ou seja, metade do eleitorado brasileiro, continua com as mesmas dúvidas. Foi tempo perdido.
É mais fácil bater em Manuela do que confrontar o ex-governador de São Paulo para arrancar dele respostas mais objetivas.
Vida que segue.
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