Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A gravidade do momento em que vivemos pode ser resumida pelos movimentos de uma personagem, a advogada Janaína Pascoal. Cumprindo uma trajetória didática, que apenas surpreende os mais ingênuos, a principal formuladora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, acaba de gravar um vídeo no qual declara apoio a Jair Bolsonaro, candidato presidencial que é a versão brasileira do fascismo e lidera todas as pesquisas de opinião quando Lula é excluído dos levantamentos.
Em 20 de abril de 2016, quando subiu a tribuna da Câmara para dar seu voto pelo afastamento de uma presidente eleita por mais de 51,4 milhões de brasileiros, o Bolsonaro fez uma declaração reveladora -- talvez uma das mais reveladoras daquela tarde terrível - sobre o processo em curso no país:
"Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim", disse.
Na época, a declaração já causou escândalo e constrangimento. "Houve apologia a uma figura que cometeu tortura e também desrespeito a imagem da própria presidente", reagiu Felipe Santa Cruz, presidente da OAB/RJ, anunciando a disposição de pedir a cassação de Bolsonaro no STF porque "a apologia à tortura, ao fascismo e a tudo que é antidemocrático é intolerável".
Dois anos e dois meses depois, o apoio da advogada do impeachment a Bolsonaro encerra um capítulo do processo político que derrubou Dilma Rousseff, instalou um grupo de aventureiros sem escrúpulos nem remorsos no Planalto e hoje organiza a entrega das riquezas do país ao império norte-americano.
Hoje todos concordam que não havia, nunca houve e nunca ninguém acreditou seriamente na existência de qualquer prova jurídica para pedir o afastamento da presidente. O processo não respeitava as regras da democracia. Jamais se sustentou na prova de qualquer crime de responsabilidade. Era a política por outros meios -- espúrios, a margem do eleitorado.
Formuladora da denúncia, Janaína produziu o pretexto jurídico para um processo político que quebrou as instituições e jogou o país num abismo político no qual banqueiros, empresários dos oligopólios de mídia e ministros do STF instituíram um governo próprio, dispensado de prestar contas aos brasileiros -- e até resolver, às costas do eleitorado, quem pode e quem não pode disputar a presidência.
"O fascismo à espreita na reta final", escrevi neste espaço (18/10/2014), quando faltava uma semana para o segundo turno da eleição presidencial. Não há dúvida de que este era o processo em curso: "a intolerância e o ódio cresceram no Brasil como uma consequência inevitável de um movimento destinado a criminalização da política e dos políticos -- em particular do Partido dos Trabalhadores". Alguns exemplos daquele momento.
Ao oferecer postos de trabalho para profissionais da medicina em pontos miseráveis do Brasil, o programa Mais Médicos levantou a raiva de entidades corporativas do país inteiro, dando origem a um grupo de 100 000 internautas que, intitulado "Dignidade Médica", propunha castração de "nordestinos" e profissionais pouco qualificados, como recepcionistas de consultório e enfermeiras. Militantes com a camisa do PT passaram a ser espancados nas ruas, enquanto Fernando Henrique Cardoso sentenciava: "O PT está fincado nos menos informados, que concidem de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT. É porque são menos informados".
Imaginando que seria o grande beneficiário pela tragédia produzida numa democracia conquistada com muita dificuldade e inegáveis sacrifícios, o PSDB pagou R$ 40 000 para Janaína Pascoal alinhavar uma denuncia conveniente a seus propósitos de instalar-se no Planalto -- sem voto.
Deu errado, sabemos todos. Os tucanos não perceberam, mas em sua irresponsabilidade, seu oportunismo, chegaram ao ponto de empunhar a enxada que cavou a própria sepultura.
Embora não tenham sido "purificados", expressão de Janaína que inclui as masmorras da Lava Jato, Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, tornaram-se dinossauros fora de combate. Geraldo Alckmin não sai do lugar, o que volta a atiçar João Dória.
Nesse universo, Janaína Pascoal achou seu lugar ao lado de Bolsonaro.
Ninguém pode se mostrar surpreso, concorda?
A gravidade do momento em que vivemos pode ser resumida pelos movimentos de uma personagem, a advogada Janaína Pascoal. Cumprindo uma trajetória didática, que apenas surpreende os mais ingênuos, a principal formuladora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, acaba de gravar um vídeo no qual declara apoio a Jair Bolsonaro, candidato presidencial que é a versão brasileira do fascismo e lidera todas as pesquisas de opinião quando Lula é excluído dos levantamentos.
Em 20 de abril de 2016, quando subiu a tribuna da Câmara para dar seu voto pelo afastamento de uma presidente eleita por mais de 51,4 milhões de brasileiros, o Bolsonaro fez uma declaração reveladora -- talvez uma das mais reveladoras daquela tarde terrível - sobre o processo em curso no país:
"Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim", disse.
Na época, a declaração já causou escândalo e constrangimento. "Houve apologia a uma figura que cometeu tortura e também desrespeito a imagem da própria presidente", reagiu Felipe Santa Cruz, presidente da OAB/RJ, anunciando a disposição de pedir a cassação de Bolsonaro no STF porque "a apologia à tortura, ao fascismo e a tudo que é antidemocrático é intolerável".
Dois anos e dois meses depois, o apoio da advogada do impeachment a Bolsonaro encerra um capítulo do processo político que derrubou Dilma Rousseff, instalou um grupo de aventureiros sem escrúpulos nem remorsos no Planalto e hoje organiza a entrega das riquezas do país ao império norte-americano.
Hoje todos concordam que não havia, nunca houve e nunca ninguém acreditou seriamente na existência de qualquer prova jurídica para pedir o afastamento da presidente. O processo não respeitava as regras da democracia. Jamais se sustentou na prova de qualquer crime de responsabilidade. Era a política por outros meios -- espúrios, a margem do eleitorado.
Formuladora da denúncia, Janaína produziu o pretexto jurídico para um processo político que quebrou as instituições e jogou o país num abismo político no qual banqueiros, empresários dos oligopólios de mídia e ministros do STF instituíram um governo próprio, dispensado de prestar contas aos brasileiros -- e até resolver, às costas do eleitorado, quem pode e quem não pode disputar a presidência.
"O fascismo à espreita na reta final", escrevi neste espaço (18/10/2014), quando faltava uma semana para o segundo turno da eleição presidencial. Não há dúvida de que este era o processo em curso: "a intolerância e o ódio cresceram no Brasil como uma consequência inevitável de um movimento destinado a criminalização da política e dos políticos -- em particular do Partido dos Trabalhadores". Alguns exemplos daquele momento.
Ao oferecer postos de trabalho para profissionais da medicina em pontos miseráveis do Brasil, o programa Mais Médicos levantou a raiva de entidades corporativas do país inteiro, dando origem a um grupo de 100 000 internautas que, intitulado "Dignidade Médica", propunha castração de "nordestinos" e profissionais pouco qualificados, como recepcionistas de consultório e enfermeiras. Militantes com a camisa do PT passaram a ser espancados nas ruas, enquanto Fernando Henrique Cardoso sentenciava: "O PT está fincado nos menos informados, que concidem de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT. É porque são menos informados".
Imaginando que seria o grande beneficiário pela tragédia produzida numa democracia conquistada com muita dificuldade e inegáveis sacrifícios, o PSDB pagou R$ 40 000 para Janaína Pascoal alinhavar uma denuncia conveniente a seus propósitos de instalar-se no Planalto -- sem voto.
Deu errado, sabemos todos. Os tucanos não perceberam, mas em sua irresponsabilidade, seu oportunismo, chegaram ao ponto de empunhar a enxada que cavou a própria sepultura.
Embora não tenham sido "purificados", expressão de Janaína que inclui as masmorras da Lava Jato, Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes Ferreira, tornaram-se dinossauros fora de combate. Geraldo Alckmin não sai do lugar, o que volta a atiçar João Dória.
Nesse universo, Janaína Pascoal achou seu lugar ao lado de Bolsonaro.
Ninguém pode se mostrar surpreso, concorda?
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