quarta-feira, 15 de agosto de 2018

As “direitas liberais” e as eleições

Por Benedito Tadeu César

Basta fazer um retrospecto histórico para constatar que nunca um candidato "liberal" ganhou uma eleição presidencial no Brasil apresentando um claro programa de políticas liberais.

Nem o general Eurico Gaspar Dutra, que era “liberal”, mas que se elegeu porque recebeu o apoio de Vargas contra o brigadeiro Eduardo Gomes, que era ainda mais “liberal”.

Nem Jânio Quadros, que se elegeu com a proposta do combate à corrupção, tendo a vassoura como símbolo.

Nem Sarney, que não se elegeu nem indiretamente e só assumiu em decorrência da morte de Tancredo Neves.

Nem Collor de Mello, que também se elegeu com a proposta do combate à corrupção e com a promessa de "caça aos Marajás".

Nem FHC, que se elegeu e se reelegeu em decorrência do Plano Real.

Nas eleições deste ano, todos os candidatos de direita têm a mesma proposta e o mesmo discurso: privatizar, "austerizar" o orçamento e combater a "corrupção".

Nenhum deles poderá esconder suas propostas “liberais”.

Minha avaliação é a de que eles queimaram a munição antes do tempo.

A retomada do crescimento econômico prometida para após o golpe não veio, o desemprego aumentou, o combate à corrupção já não entusiasma tanto, o PT se recompôs e aumentou sua militância e filiações e Lula cresceu, nas intenções de voto, mesmo preso.

As direitas e o “centrão” farão tudo para vencer e culparão Lula e o PT por todos os males do Brasil.

Claro que o povo pode ser enganado e manipulado, mas "o povo não é bobo" (como sabe a rede globo) e sabe onde o sapato lhe aperta.

Teremos uma eleição dura e desleal, mas as chances da chapa triplex Lula-Haddad-Manu são reais.

É muito difícil fazer qualquer prognóstico sobre o que irá acontecer com o Brasil depois das eleições deste ano.

Tudo indica que a chapa Lula-Haddad-Manu irá ao segundo turno.

Se esta chapa ganhar a eleição, o que é muito provável que ocorra, mesmo com a união de toda a direita e do "centro", mais a pressão da grande mídia corporativa e as montanhas de dinheiro que "azelites" gastarão para criminalizar a chapa triplex, confundir e intimidar o povo, não consigo antever qual será a reação dos reacionários.

Darão o golpe definitivo?

Matarão Lula?

Depois das eleições de 1966, dois anos após o golpe de abril de 1964 que implantou a ditadura militar (1964/1985), os golpistas foram derrotados nos principais estados do país, nos quais foram eleitos políticos contrários ao golpe.

A reação foi a eliminação dos partidos políticos, que foram proibidos e substituídos pelos partidos do Sim (a Arena que depois se tornou PDS e que agora é o PP) e pelo partido do Sim, Senhor (MDB, que já foi PMDB e voltou a ser o MDB de hoje).

Foram também suprimidas as eleições diretas para os governos estaduais e para as prefeituras de capitais e áreas de "segurança nacional", além das estâncias hidrominerais.

Somente 16 anos depois, em 1982, é que ocorreram novamente eleições diretas para esses governos. As eleições presidenciais diretas só ocorreram em 1989.

Agora, o golpe não é militar, mas é jurídico-parlamentar-midiático, com o "judissiário" e o mp comandando o circo.

O que eles farão, quando a derrota for consumada?

Usarão a força bruta ou se submeterão à vontade popular?

Eu, de minha parte, estou convencido que temos que pagar para ver, pois esta é a única possibilidade de recuperarmos o país, de voltar a esperança de crescimento, de emprego e de desenvolvimento com inserção social e bem-estar coletivo.

* Benedito Tadeu César é cientista político, professor da UFRGS (aposentado), integrante das coordenações do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, do Comitê Gaúcho do Projeto Brasil-Nação e do M3D - Movimento Democracia, Diálogo e Diversidade.

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