Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
– Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!
– Não era para mim não. Era para vender.
– Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
– Mas eu vendia mais caro.
– Mais caro?
– Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
– Mas eram as mesmas galinhas, safado.
– Os ovos das minhas eu pintava.
– Que grande pilantra…
Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.
– Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…
– Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.
Ou, no caso, um ovigopólio.
– E o que você faz com o lucro do seu negócio?
– Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
– Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
– Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
– E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
– Às vezes. Sabe como é.
– Não sei não, excelência. Me explique.
– É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.
– Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
– Sim. Mas primário, e com esses antecedentes.
Então, Jair Bolsonaro demitiu sua açaissessora Walderice Santos da Conceição, que levava água para seus cachorros na casa de praia de Mambucaba, em Angra dos Reis, que, segundo o deputado “de vez em quando dá água pros cachorros lá” de sua casa de veraneio.
Walderice vai ficar sem os seus R$ 1,351, o imenso “assalto” que fazia aos cofres públicos do país.
Bolsonaro, talvez – e só talvez – ficará sem alguns votos, que não o impedirá nem de dar mandatos para seu filhos nem de achar quem dê água para seus cachorros.
A Folha, naquele elitismo que sua “folhice” a leva a usar , diz que a Wal se dedicava ao “comércio de açaí”. É, tinha uma portinha para vender o tal negócio, quase o mesmo que uma banquinha de camelô, nada que lhe desse mais que uns trocados.
Ontem vi no Metrô um rapaz vendendo headfones a R$ 5 e, tecnicamente, posso dizer que ele se dedica ao “comércio de eletrônicos”…
Vai acontecer algo a Jair Bolsonaro? Acaso vão cobrar que ressarça os cofres públicos por ter dado de beber aos cachorros à custa do Estado ou será só Walderice pagará por isso?
No mesmo dia do desastre da Wal, fica-se sabendo do patrimônio de quase meio bilhão de João Amoedo, o candidato do tal do Partido Novo.
É dele, sem dúvida e foi arduamente construído como diretor de um banco e dono de uma financeira que, como se sabe, são aquelas instituições que extorquem os necessitados, cobrando-lhes os juros da agiotagem que este país denomina de mercado financeiro.
A Wal entrega um açaí e cobra um açaí. A financeira entrega uma geladeira e cobra três.
Não preciso dizer mais e deixo que fale, melhor que eu, sobre isso, o genial Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica “E por falar de ladrão de galinhas”:
Walderice vai ficar sem os seus R$ 1,351, o imenso “assalto” que fazia aos cofres públicos do país.
Bolsonaro, talvez – e só talvez – ficará sem alguns votos, que não o impedirá nem de dar mandatos para seu filhos nem de achar quem dê água para seus cachorros.
A Folha, naquele elitismo que sua “folhice” a leva a usar , diz que a Wal se dedicava ao “comércio de açaí”. É, tinha uma portinha para vender o tal negócio, quase o mesmo que uma banquinha de camelô, nada que lhe desse mais que uns trocados.
Ontem vi no Metrô um rapaz vendendo headfones a R$ 5 e, tecnicamente, posso dizer que ele se dedica ao “comércio de eletrônicos”…
Vai acontecer algo a Jair Bolsonaro? Acaso vão cobrar que ressarça os cofres públicos por ter dado de beber aos cachorros à custa do Estado ou será só Walderice pagará por isso?
No mesmo dia do desastre da Wal, fica-se sabendo do patrimônio de quase meio bilhão de João Amoedo, o candidato do tal do Partido Novo.
É dele, sem dúvida e foi arduamente construído como diretor de um banco e dono de uma financeira que, como se sabe, são aquelas instituições que extorquem os necessitados, cobrando-lhes os juros da agiotagem que este país denomina de mercado financeiro.
A Wal entrega um açaí e cobra um açaí. A financeira entrega uma geladeira e cobra três.
Não preciso dizer mais e deixo que fale, melhor que eu, sobre isso, o genial Luís Fernando Veríssimo, em sua crônica “E por falar de ladrão de galinhas”:
*****
E por falar em ladrão de galinhas...
Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram para a delegacia.
E por falar em ladrão de galinhas...
Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e levaram para a delegacia.
– Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!
– Não era para mim não. Era para vender.
– Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!
– Mas eu vendia mais caro.
– Mais caro?
– Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
– Mas eram as mesmas galinhas, safado.
– Os ovos das minhas eu pintava.
– Que grande pilantra…
Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.
– Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega…
– Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.
Ou, no caso, um ovigopólio.
– E o que você faz com o lucro do seu negócio?
– Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois perguntou:
– Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
– Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
– E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
– Às vezes. Sabe como é.
– Não sei não, excelência. Me explique.
– É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso, finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.
– O que e isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
– Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
– Sim. Mas primário, e com esses antecedentes.
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