terça-feira, 7 de agosto de 2018

Bolsonaro e os apoiadores 'bolsonazistas'

Por Célio Turino, na revista Fórum:

Não costumo comentar sobre esse sujeitinho de abjeta figura, mas, devido às recentes entrevistas dele aos programas Roda Viva e GloboNews, sinto que devo responder por qual motivo considero que a candidatura do sujeito e as atitudes e comportamentos dos Bolsonazistas não podem ser toleradas. Vamos à entrevista na GloboNews.

Bolsonaro balbuciou ignorâncias e respostas prontas, ensaiadas, nada além disso, revelando total despreparo para qualquer cargo público; a resposta dele com o editorial do Marinho, foi uma boa resposta ensaiada, e só; a resposta da Globo foi deprimente, ainda mais colocada na boca da Miriam Leitão. 

Por isso vou me deter à situação de Miriam Leitão na entrevista; mesmo discordando das atuais posições políticas dela, não é correto tratá-la com desdém, seja de um lado ou de outro, é desumano o que os Bolsonazistas estão fazendo, e não podemos admitir isso. Imaginemos uma moça de 19 anos, presa, torturada grávida, jogada nua em uma cela escura; na cela, uma jiboia. Uma menina, mal saída da adolescência. Quando saiu da prisão pesava 40 quilos. Décadas depois, coube a ela conduzir uma entrevista com homem que zombou desta situação para o filho dela (para o filho dela!), dizendo: “Tenho pena da cobra”. Tentem se colocar no lugar da Miriam Leitão, ao menos um pouco, não digo por política, digo por humanidade.

Em nome de convicções políticas jamais se pode descer degraus de civilização, relevando a atitude odienta de um homem como Bolsonaro, um misógino, que defende que mulheres ganhem menos que homens, quando em seus empregos; um terrorista ganancioso, posto na reserva do exército porque queria explodir bombas em quartéis, e tudo por motivação salarial; um político carreirista, que sempre conviveu em partidos corruptos, que fez fortuna na política e hoje é dono de um patrimônio milionário, com mansões, apartamentos de luxo e carrões, em valor mínimo de R$ 15 milhões, o que equivale, no mínimo, ao dobro de tudo que ele e os pimpolhos, também políticos de negócio, amealharam ao longo da vida, exatamente, o dobro, e isso se não gastassem um único real com alimentação e outras despesas (eu fiz essa conta e publiquei artigo a respeito, isso há um ano). Um homem abjeto, que se jacta de ter por herói um torturador sanguinário como o Ustra.

Sabem o que o Ustra fez? Ele era chefe do DOI-Codi em São Paula, em cuja dependência, torturavam-se pessoas e exercitavam-se técnicas de terror, como introduzir camundongos em vaginas de meninas torturadas, moças de vinte anos, ou levar crianças para assistirem aos pais sendo torturados. Uma criança que passou por uma situação dessas, aos cinco anos de idade, junto ao irmão de três, aos sete anos havia menstruado e aos 21 entrou na menopausa.

Não há nada que justifique a conduta de um Bolsonaro e seus apoiadores, como o Dr. Bumbum, ou o sujeito que espancou e atirou a esposa do apartamento, em Garapuava, ou do outro sujeito que matou a namorada, em Campinas, há um ano. É um padrão, e são tantos e tão abjetos. É essa “gente de bem” que está com Bolsonaro!

Essa escalada de desumanidade, de barbárie, de ódio, tem que ser detida antes que o Brasil se transforme numa imensa Síria. Escrevo de coração aberto. Neste ano não se trata de disputa entre esquerda ou direita, nem mesmo entre partidos políticos, ou entre corruptos e não corruptos. Até porque os “heróis” da “luta contra a corrupção” não são bons exemplos.

O fato é que boa parte do Poder Judiciário, MP e Polícia Federal pratica peculato corporativo e abuso de poder, mesmo falando em moralidade. O mesmo a dizer sobre a imprensa golpista e políticos oportunistas, como um certo senador, que recebeu dinheiro para arquivar Comissão Parlamentar sobre a Petrobras, em 2009, e agora tenta posar de porta-voz da Lava-Jato. Apenas em salários acima do teto constitucional, os Juízes embolsam R$ 7,2 bi por ano, isso mesmo; afora os generosíssimos acordos de leniência que MP fez com Odebrecht e afins, mantendo intactas as fazendas, mansões e fortunas dos grandes corruptores e ladrões da nação, tudo em troca de espetáculos políticos e nada além disso; afora as vistas grossas da PF com o tráfico, vide o helicoca e o poder do PCC.

O que estará em jogo nos próximos dois meses é Civilização ou Barbárie. Também se o Brasil vai virar um Narcoestado ou não, registro. É por isso que o modo de pensar, ser e agir de Bolsonaro e apoiadores bolsonazistas não pode ser tolerado.

PS – para não dizer que esqueci da entrevista no Roda Viva, esse programa cada vez menor. Bolsonaro cometeu crime de injúria racial contra os descendentes dos africanos. Ele agiu como os neonazistas da Alemanha, ao promoverem o revisionismo histórico sobre o holocausto, negando que tenha havido, ou então atribuindo ao povo judeu o seu próprio infortúnio, ao afirmarem que eram os “Sonderkommando” (prisioneiros em campos de concentração que tinham a responsabilidade de policiar os demais prisioneiros, levando-os às câmaras de gás, limpando recintos e enterrando mortos); registre-se que esses , depois de cumprirem seus trabalhos, também eram levados à morte pelos nazistas. 

Quando Bolsonaro afirma que os portugueses jamais pisaram na África, e que eram os africanos que levavam os escravizados para o tráfico, além de contrariar a história, ele age da mesma forma que os neonazistas e pratica ofensa e injúria racial, insultando os antepassados de todos descendentes de africanos no Brasil, ao colocar as vítimas como responsáveis pela própria desgraça (como muitos fazem com as mulheres estupradas, culpando-as pelo estupro). Espero que seja processado também por isso.

Um comentário:

  1. Que artigo, bom, velho! Célio Turino, prazer em lhe conhecer! Fascistas não passarão!

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