Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A memória dos lances truculentos da campanha de 2018 já está marcada por uma cena lamentável, no debate da Rede TV. Foi aquele instante no qual, referindo-se a Lula como "bandido", Jair Bolsonaro exigiu que a tribuna que fora reservada ao candidato do PT fosse retirada dos estúdios. Bolsonaro não só obteve a concordância interesseira dos demais concorrentes - apenas Guilherme Boulos discordou - mas garantiu uma segunda punição ao candidato que lidera as pesquisas presidenciais. Se Lula já fora impedido de comparecer ao debate, o público ficou privado de um símbolo - a tribuna vazia - que serviria para recordar, a todo momento, que o mais popular presidente do Brasil encontra-se na prisão.
Esse episódio absurdo, mancha inevitável na biografia daqueles que deram o braço a Bolsonaro, ajuda a lembrar a importância de se denunciar o veto à participação de Lula na campanha eleitoral, que acaba de ser condenado pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Não há dúvida de que a presença de Lula na campanha pela presidência da República representa a melhor alternativa para o país recuperar a democracia, assegurando às brasileiras e brasileiros o direito de decidir, livremente, quem irá governar o país entre 2019 e 2023. Não custa lembrar que foi em torno dessa garantia democrática que milhões foram às ruas, em 1984, na gigantesca mobilização popular que preparou o fim da ditadura de 64.
Em agosto de 2018, quando falta pouco mais de um mês para o primeiro turno da campanha presidencial, a melhor forma para se ampliar a luta pela participação direta de Lula na disputa presidencial reside numa providência urgente. Enquanto os direitos de Lula como candidato não forem restaurados, discussão que será acompanhada com a aspereza de sempre pelo condomínio jurídico-midiático que tenta governar o país acima das instituições, é preciso assegurar a presença, nos próximos debates presidenciais, de seu substituto legal, Fernando Haddad.
Toda e qualquer medida -- da Justiça Eleitoral, das emissoras de TV ou mesmo dos próprios concorrentes -- para impedir a presença de Haddad nestes encontros sem a presença de Lula deve ser repudiada como uma nova versão de um velho reflexo autoritário da elite brasileira, o golpe dentro do golpe. Este segundo veto ofende o princípio constitucional básico que protege a liberdade de formar partidos políticos e garante o direito de disputar eleições em igualdade de condições.
Qualquer que seja o pretexto empregado, uma negativa a esse direito apenas confirmará a suspeita de que se pretende não apenas punir o maior líder politico de nossa história republicana, o que já é em si monstruoso, mas seu representante legítimo. Seria mais um passo autoritário, uma nova audácia sem escrúpulos, destinada a punir não mais um indivíduo -- condenado sem provas, nunca é demais lembrar -- mas arrancar uma ideia pela raiz, medida que constitui o sonho maligno das tiranias desde os tempos do absolutismo que enforcou Tiradentes.
Até o 7 de outubro, data do primeiro turno, irão ocorrer mais sete debates. O próximo, na Jovem Pan, está marcado para 27 de agosto. O penúltimo deve ocorrer na Record, em 30 de setembro, e o último, na Globo, em 4 de outubro.
Caso Lula ou Haddad continuem proibidos, os brasileiros estarão chamados a assistir a uma encenação nos limites da nova paisagem política, que vai se desenhando pelos articuladores da semi-ditadura em construção no país. Neste universo artificial, marcado pela ausência do candidato em condições de representar a maioria dos brasileiros e brasileiras, as contradições reais da herança Michel Temer & Henrique Meirelles ficam de fora, pela exclusão das ideias e propostas que não chegam ao público pela falta de que seja seu porta-voz. Reduzindo-se o horizonte de projetos em discussão, já se condiciona os limites e fronteiras das opções oferecidas em 2018. O que se pretende é um debate entre a direita e a extrema-direita, visão que o próprio Fernando Haddad anunciou tempos atrás.
Alguma dúvida?
A memória dos lances truculentos da campanha de 2018 já está marcada por uma cena lamentável, no debate da Rede TV. Foi aquele instante no qual, referindo-se a Lula como "bandido", Jair Bolsonaro exigiu que a tribuna que fora reservada ao candidato do PT fosse retirada dos estúdios. Bolsonaro não só obteve a concordância interesseira dos demais concorrentes - apenas Guilherme Boulos discordou - mas garantiu uma segunda punição ao candidato que lidera as pesquisas presidenciais. Se Lula já fora impedido de comparecer ao debate, o público ficou privado de um símbolo - a tribuna vazia - que serviria para recordar, a todo momento, que o mais popular presidente do Brasil encontra-se na prisão.
Esse episódio absurdo, mancha inevitável na biografia daqueles que deram o braço a Bolsonaro, ajuda a lembrar a importância de se denunciar o veto à participação de Lula na campanha eleitoral, que acaba de ser condenado pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Não há dúvida de que a presença de Lula na campanha pela presidência da República representa a melhor alternativa para o país recuperar a democracia, assegurando às brasileiras e brasileiros o direito de decidir, livremente, quem irá governar o país entre 2019 e 2023. Não custa lembrar que foi em torno dessa garantia democrática que milhões foram às ruas, em 1984, na gigantesca mobilização popular que preparou o fim da ditadura de 64.
Em agosto de 2018, quando falta pouco mais de um mês para o primeiro turno da campanha presidencial, a melhor forma para se ampliar a luta pela participação direta de Lula na disputa presidencial reside numa providência urgente. Enquanto os direitos de Lula como candidato não forem restaurados, discussão que será acompanhada com a aspereza de sempre pelo condomínio jurídico-midiático que tenta governar o país acima das instituições, é preciso assegurar a presença, nos próximos debates presidenciais, de seu substituto legal, Fernando Haddad.
Toda e qualquer medida -- da Justiça Eleitoral, das emissoras de TV ou mesmo dos próprios concorrentes -- para impedir a presença de Haddad nestes encontros sem a presença de Lula deve ser repudiada como uma nova versão de um velho reflexo autoritário da elite brasileira, o golpe dentro do golpe. Este segundo veto ofende o princípio constitucional básico que protege a liberdade de formar partidos políticos e garante o direito de disputar eleições em igualdade de condições.
Qualquer que seja o pretexto empregado, uma negativa a esse direito apenas confirmará a suspeita de que se pretende não apenas punir o maior líder politico de nossa história republicana, o que já é em si monstruoso, mas seu representante legítimo. Seria mais um passo autoritário, uma nova audácia sem escrúpulos, destinada a punir não mais um indivíduo -- condenado sem provas, nunca é demais lembrar -- mas arrancar uma ideia pela raiz, medida que constitui o sonho maligno das tiranias desde os tempos do absolutismo que enforcou Tiradentes.
Até o 7 de outubro, data do primeiro turno, irão ocorrer mais sete debates. O próximo, na Jovem Pan, está marcado para 27 de agosto. O penúltimo deve ocorrer na Record, em 30 de setembro, e o último, na Globo, em 4 de outubro.
Caso Lula ou Haddad continuem proibidos, os brasileiros estarão chamados a assistir a uma encenação nos limites da nova paisagem política, que vai se desenhando pelos articuladores da semi-ditadura em construção no país. Neste universo artificial, marcado pela ausência do candidato em condições de representar a maioria dos brasileiros e brasileiras, as contradições reais da herança Michel Temer & Henrique Meirelles ficam de fora, pela exclusão das ideias e propostas que não chegam ao público pela falta de que seja seu porta-voz. Reduzindo-se o horizonte de projetos em discussão, já se condiciona os limites e fronteiras das opções oferecidas em 2018. O que se pretende é um debate entre a direita e a extrema-direita, visão que o próprio Fernando Haddad anunciou tempos atrás.
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