sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Lula, o Papa e as agências de checagem

Do blog Socialista Morena:

No início de junho, as agências de checagem ligadas à mídia comercial brasileira acusaram sites alternativos de promoverem “fake news” por haver noticiado a entrega de um terço enviado pelo papa Francisco a Lula. A Agência Lupa e o Aos Fatos citaram textualmente o Diário do Centro do Mundo, Brasil 247 e Revista Fórum, omitindo que o portal UOL, ao qual a Lupa é ligada, foi um dos primeiros em dar a notícia. Ainda disseram ser falso que o consultor do Vaticano Juan Grabois, que visitou Lula na prisão em Curitiba e entregou o terço, era ligado ao papa. Parceiras do Facebook, as agências notificaram a rede social, que ameaçou tirar as páginas do DCM, Fórum e 247 do ar. Quem tentava compartilhar conteúdo dos três sites e dos outros acusados recebia um aviso do Facebook de que eles eram suspeitos de ser disseminadores de notícias falsas.

De nada adiantou Grabois reafirmar que o terço foi enviado pelo papa. As agências continuaram a insistir que não era verdade. Rendida diante das evidências, a Lupa trocou a etiqueta inicial aplicada na checagem sobre o envio do terço do Papa a Lula por “de olho”, e assim continua. Já o Aos Fatos mantém em seu site até hoje que o presente de Francisco a Lula não passou de “um boato”.

Pois bem: nesta quinta-feira pela manhã o papa Francisco recebeu no Vaticano o ex-ministro da Defesa e Relações Exteriores Celso Amorim, junto com o ex-ministro argentino Alberto Fernández e o ex-ministro chileno Carlos Ominami. Eles tiveram uma audiência de cerca de uma hora, em que discutiram a situação política e jurídica do caso Lula, do Brasil e da América do Sul.

O papa recebeu um exemplar em italiano do livro A verdade vencerá (Boitempo Editorial), onde, em longa entrevista, Lula dá sua versão sobre a perseguição judicial que tem sofrido. Francisco então escreveu de próprio punho um bilhete para o ex-presidente em que diz: “A Luiz Inácio Lula da Silva, com minha bênção e pedindo-lhe que reze por mim”.

Sobre o encontro, disse Amorim: “O assunto principal foi a situação do presidente Lula, que ele tem acompanhado com interesse e com preocupação. Ele antes, como se sabe, já mencionou em uma homilia como têm se passado os golpes na América Latina. Essa é uma preocupação constante do Papa, e ele quis ouvir com muito interesse toda a situação como se deu no Brasil, toda a evolução política”.

E agora? O que dirão as agências de checagem após ficar evidente que o papa está acompanhando a situação de Lula e que não é nada inverossímil que tenha mesmo enviado o terço ao ex-presidente preso? As agências se retratarão por acusar os sites alternativos de disseminar fake news? Ou vão duvidar que a caligrafia seja mesmo do papa?

Checar notícias é uma tarefa séria que deveria ser feita com todo o cuidado possível para não cometer injustiças. Sem a devida apuração, as agências de checagem contribuem apenas para aprofundar o monopólio midiático em nosso país.

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