Por Paulo Nogueira Batista Jr., na revista CartaCapital:
Os ministros das Finanças e presidentes do Banco Central passaram a se reunir regularmente. Os presidentes e primeiros-ministros passaram a realizar cúpulas anuais, a primeira na Rússia, em 2009. Desde 2011, por inciativa brasileira, eles vêm se encontrando, também, à margem das cúpulas do G-20. Assim, desde aquele ano, os líderes dos cinco países reúnem-se duas vezes por ano, e todos os cinco comparecem sempre.
Até 2017, participei da maioria dessas reuniões, no âmbito do FMI, do G-20 e do próprio processo BRICS, e posso dar testemunho da importância que os BRICS adquiriram. Logo foram percebidos como contraponto ao G-7, o grupo dos principais países desenvolvidos. Com a aguda crise econômica que atingiu os EUA e a Europa em 2008, os BRICs (ainda sem a África do Sul) foram rapidamente reconhecidos como instância de interlocução pelos demais países.
O secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, chegou a pedir, em duas ocasiões, para participar das reuniões ministeriais dos BRICS. Fato insólito, que reflete a fragilidade dos EUA na fase mais aguda da crise de 2008-2009.
Qual foi o papel do Brasil nos BRICS? Não pense, leitor, que vou puxar a brasa para a nossa sardinha. Posso dizer, tranquilamente, que o Brasil foi o motor dos BRICS. Dos cinco países, o nosso era o que mostrava ter mais iniciativa e capacidade de formulação. Isso culminou na cúpula dos BRICS de Fortaleza, em 2014, que foi, no meu entender, a mais importante das dez realizadas até agora.
Na ocasião, foram assinados os acordos que levaram à criação do fundo monetário dos BRICS, chamado de Arranjo Contingente de Reservas, e o banco dos BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). Com o estabelecimento de mecanismos de financiamento, a cooperação alcançou novo patamar. Não teríamos chegado a esse ponto sem a atuação do Brasil, particularmente dos ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores.
As condições mudam a partir de 2015. O governo Dilma mergulha na crise que levaria ao impeachment e o Brasil perde capacidade de atuar. Com o governo Temer, o problema agrava-se. O Brasil continua presente nos BRICS, mas já não tem o mesmo peso nem exerce a mesma influência.
A atuação do governo Temer nos BRICS, como em quase tudo mais, tem sido marcada pela mediocridade. Permita-me, leitor, contar um episódio revelador. Aconteceu na cúpula de 2017, em Xiamen, na China. Ainda era vice-presidente do NBD e estava lá. Na véspera da cúpula, os presidentes Temer e Zuma, que já haviam chegado a Xiamen, foram convidados pelo presidente Xi Jinping para um evento com empresários.
Eis o que presenciei. Toca uma música solene e os presidentes adentram o recinto. O presidente chinês na frente e o brasileiro e o sul-africano atrás, como dois vassalos. Xi Jinping fala primeiro, por cerca de 40 minutos, e em seguida o protocolo anuncia que ele não poderá ficar para ouvir os discursos dos outros presidentes. Para completar a cena humilhante, volta a ressoar a música solene, e Xi Jinping se retira, seguido novamente pelos outros dois presidentes. Foi um papelão.
No período 2015-2018, aconteceu um eclipse do Brasil. E um Brasil ativo faz falta. Percebe-se certa perda de dinamismo e qualidade dos BRICS. O NBD, principal realização do grupo, tem pouco a mostrar nos seus três primeiros anos. A China está cada vez mais atuante, mas ela tem agenda estreita e self-serving, como observou um graduadodiplomata com quem conversei semana passada em Brasília.
Tudo isso pode mudar, a depender das eleições brasileiras. O novo governo brasileiro exercerá a presidência de turno dos BRICS em 2019. E indicará o novo presidente do NBD em 2020. O Brasil terá a oportunidade de destravar o banco e revigorar o processo BRICS.
A recém-realizada cúpula dos líderes dos BRICS, na África do Sul, marca dez anos de existência do grupo. O processo começou em 2008, por iniciativa da Rússia, que procurou Brasil, China e Índia. A África do Sul só se juntaria ao grupo mais tarde, para propor atuação conjunta. No FMI, onde eu era o diretor-executivo pelo Brasil, as cadeiras do Brasil, Rússia, Índia e China começaram a coordenar-se sistematicamente em diversos temas. O mesmo aconteceu no âmbito do G-20 e das capitais.
Os ministros das Finanças e presidentes do Banco Central passaram a se reunir regularmente. Os presidentes e primeiros-ministros passaram a realizar cúpulas anuais, a primeira na Rússia, em 2009. Desde 2011, por inciativa brasileira, eles vêm se encontrando, também, à margem das cúpulas do G-20. Assim, desde aquele ano, os líderes dos cinco países reúnem-se duas vezes por ano, e todos os cinco comparecem sempre.
Até 2017, participei da maioria dessas reuniões, no âmbito do FMI, do G-20 e do próprio processo BRICS, e posso dar testemunho da importância que os BRICS adquiriram. Logo foram percebidos como contraponto ao G-7, o grupo dos principais países desenvolvidos. Com a aguda crise econômica que atingiu os EUA e a Europa em 2008, os BRICs (ainda sem a África do Sul) foram rapidamente reconhecidos como instância de interlocução pelos demais países.
O secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, chegou a pedir, em duas ocasiões, para participar das reuniões ministeriais dos BRICS. Fato insólito, que reflete a fragilidade dos EUA na fase mais aguda da crise de 2008-2009.
Qual foi o papel do Brasil nos BRICS? Não pense, leitor, que vou puxar a brasa para a nossa sardinha. Posso dizer, tranquilamente, que o Brasil foi o motor dos BRICS. Dos cinco países, o nosso era o que mostrava ter mais iniciativa e capacidade de formulação. Isso culminou na cúpula dos BRICS de Fortaleza, em 2014, que foi, no meu entender, a mais importante das dez realizadas até agora.
Na ocasião, foram assinados os acordos que levaram à criação do fundo monetário dos BRICS, chamado de Arranjo Contingente de Reservas, e o banco dos BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD). Com o estabelecimento de mecanismos de financiamento, a cooperação alcançou novo patamar. Não teríamos chegado a esse ponto sem a atuação do Brasil, particularmente dos ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores.
As condições mudam a partir de 2015. O governo Dilma mergulha na crise que levaria ao impeachment e o Brasil perde capacidade de atuar. Com o governo Temer, o problema agrava-se. O Brasil continua presente nos BRICS, mas já não tem o mesmo peso nem exerce a mesma influência.
A atuação do governo Temer nos BRICS, como em quase tudo mais, tem sido marcada pela mediocridade. Permita-me, leitor, contar um episódio revelador. Aconteceu na cúpula de 2017, em Xiamen, na China. Ainda era vice-presidente do NBD e estava lá. Na véspera da cúpula, os presidentes Temer e Zuma, que já haviam chegado a Xiamen, foram convidados pelo presidente Xi Jinping para um evento com empresários.
Eis o que presenciei. Toca uma música solene e os presidentes adentram o recinto. O presidente chinês na frente e o brasileiro e o sul-africano atrás, como dois vassalos. Xi Jinping fala primeiro, por cerca de 40 minutos, e em seguida o protocolo anuncia que ele não poderá ficar para ouvir os discursos dos outros presidentes. Para completar a cena humilhante, volta a ressoar a música solene, e Xi Jinping se retira, seguido novamente pelos outros dois presidentes. Foi um papelão.
No período 2015-2018, aconteceu um eclipse do Brasil. E um Brasil ativo faz falta. Percebe-se certa perda de dinamismo e qualidade dos BRICS. O NBD, principal realização do grupo, tem pouco a mostrar nos seus três primeiros anos. A China está cada vez mais atuante, mas ela tem agenda estreita e self-serving, como observou um graduadodiplomata com quem conversei semana passada em Brasília.
Tudo isso pode mudar, a depender das eleições brasileiras. O novo governo brasileiro exercerá a presidência de turno dos BRICS em 2019. E indicará o novo presidente do NBD em 2020. O Brasil terá a oportunidade de destravar o banco e revigorar o processo BRICS.
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