Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:
Por volta das 14h30 da terça-feira (11/9), após uma tensa (e intensa) reunião do comitê executivo do Partido dos Trabalhadores (PT), foi decidido por unanimidade que o candidato a presidente, a partir de então, seria oficialmente Fernando Haddad, acompanhado de Manuela D’Ávila como vice.
Um longo par de horas depois, durante o ato de anúncio da substituição, foi lida uma carta escrita por Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ele entrega o seu apoio pessoal aos dois, dizendo, com todas as letras: “peço a todos os que iriam votar por mim, que votem em Haddad e em Manuela”.
Apesar de ser absolutamente previsível, o anúncio oficial trouxe um detalhe essencial: a menos que ocorra o improvável, este é o fim da história de Lula da Silva – o mais popular presidente deste último meio século da história brasileira – disputando eleições: ele só poderá ser candidato novamente quando tiver 93 anos de idade.
Mas continuará, evidentemente, exercendo um papel destacado, como principal líder político do país.
Às vésperas do anúncio, o PT seguia dividido entre os que defendiam insistir na estratégia dos recursos na Justiça para manter a candidatura de Lula, e os que diziam que agora cada dia é essencial, reivindicando a oficialização de Haddad como candidato desde já.
Por sua vez, o ex-mandatário Lula da Silva, clausurado em uma cela de quinze metros quadrados, oscilava entre momentos de forte indignação e uma preocupante prostração. Tudo isso ficou plasmado na “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada durante o anúncio da substituição da candidatura: a capitulação de um combatente inconformado, mas que desiste de se opor ao inevitável.
O inevitável, neste caso, é o resultado da farsa jurídica, que contou com o pleno e essencial respaldo da imprensa hegemônica e a evidente cumplicidade da Justiça, em todos os níveis, da primeira instância ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Não há uma única prova contra o ex-presidente, não há uma conta clandestina, não há nada de nada. Pura ignomínia. E a confirmação do evidente: a confabulação entre magistrados, meios de comunicação, políticos de partidos corruptos e corrompidos, o mercado financeiro e todos os setores do empresariado alcançou seu objetivo final: impedir que o golpe institucional que destituiu a presidenta Dilma Rousseff em 2016 deixasse de atingir sua vítima principal, que era precisamente Lula da Silva, impedindo sua candidatura para voltar à Presidência.
A partir de agora se intensificarão os aspectos da mais confusa e tumultuada disputa eleitoral desde o retorno da democracia, em 1985.
Pela primeira vez, existe um candidato viável na ultradireita, o capitão reformado e atual deputado Jair Bolsonaro, com forte respaldo popular.
E pela primeira vez, a direita e a centrodireita carecem de candidatos viáveis em termos eleitorais: há quase uma certeza de que a disputa final será entre um energúmeno ultradireitista e um candidato de esquerda ou de centroesquerda, seja entre Bolsonaro e Fernando Haddad, o escolhido de Lula, ou entre o ex-militar e o desenvolvimentista Ciro Gomes.
A facada sofrida por Bolsonaro no dia 6 de setembro seria, segundo os seus esperançados seguidores, suficiente para criar uma comoção e liquidar a eleição já no primeiro turno.
A primeira pesquisa de intenção de votos realizada após a agressão teve como resultado exatamente o contrário: Bolsonaro cresceu somente dois pontos, dentro da chamada “margem de erro”. E sua rejeição de manteve alta, acima dos 42%, confirmando que ele seria derrotado por todos os demais adversários em um eventual segundo turno.
Ciro Gomes cresceu três importantes pontos porcentuais, a ambientalista e evangélica Marina Silva despencou quatro, e Haddad, que ainda não havia sido sacramentado por Lula, mais que duplicou seu índice eleitoral.
Tecnicamente, existe um empate entre os três e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Contudo, os dois candidatos da direita, Marina e Alckmin, aparecem em problemas: a primeira começou a enfrentar a esperada tendência de queda significativa, e o segundo mostra que não consegue decolar.
A partir de agora, estão definidas as regras do jogo, e com que cartas se dará a disputa.
Sociólogos, analistas políticos e especialistas em projeções eleitorais traçam mil e uma versões, tentando prever o que acontecerá.
Em geral, há uma unanimidade a respeito de alguns fatores óbvios. Entre eles, o fato de que o cenário mais provável é o de Bolsonaro indo para o segundo turno, contra Haddad ou Gomes, e que será derrotado nessa segunda instância – a menos que ocorra alguma reviravolta que, por enquanto parece praticamente impossível. Faltando menos de um mês para a votação no primeiro turno, Haddad dá mostras de ter mais poder de fogo para crescer, mas Gomes também se mostra forte.
O centro dramático, no entanto, é outro: Lula. Apesar de preso e impedido, seguirá presente em todos os debates.
E assim ficará patente a falência geral do sistema judicial brasileiro, o perverso e indecente papel dos meios hegemônicos de comunicação, a podridão exposta do sistema político, enfim, um país em frangalhos.
Esse país em frangalhos é o que Michel Temer e sua quadrilha deixarão como legado ao sucessor.
* Publicado originalmente no jornal argentino Pagina/12. Tradução de Victor Farinelli.
Por volta das 14h30 da terça-feira (11/9), após uma tensa (e intensa) reunião do comitê executivo do Partido dos Trabalhadores (PT), foi decidido por unanimidade que o candidato a presidente, a partir de então, seria oficialmente Fernando Haddad, acompanhado de Manuela D’Ávila como vice.
Um longo par de horas depois, durante o ato de anúncio da substituição, foi lida uma carta escrita por Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ele entrega o seu apoio pessoal aos dois, dizendo, com todas as letras: “peço a todos os que iriam votar por mim, que votem em Haddad e em Manuela”.
Apesar de ser absolutamente previsível, o anúncio oficial trouxe um detalhe essencial: a menos que ocorra o improvável, este é o fim da história de Lula da Silva – o mais popular presidente deste último meio século da história brasileira – disputando eleições: ele só poderá ser candidato novamente quando tiver 93 anos de idade.
Mas continuará, evidentemente, exercendo um papel destacado, como principal líder político do país.
Às vésperas do anúncio, o PT seguia dividido entre os que defendiam insistir na estratégia dos recursos na Justiça para manter a candidatura de Lula, e os que diziam que agora cada dia é essencial, reivindicando a oficialização de Haddad como candidato desde já.
Por sua vez, o ex-mandatário Lula da Silva, clausurado em uma cela de quinze metros quadrados, oscilava entre momentos de forte indignação e uma preocupante prostração. Tudo isso ficou plasmado na “Carta ao Povo Brasileiro”, divulgada durante o anúncio da substituição da candidatura: a capitulação de um combatente inconformado, mas que desiste de se opor ao inevitável.
O inevitável, neste caso, é o resultado da farsa jurídica, que contou com o pleno e essencial respaldo da imprensa hegemônica e a evidente cumplicidade da Justiça, em todos os níveis, da primeira instância ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Não há uma única prova contra o ex-presidente, não há uma conta clandestina, não há nada de nada. Pura ignomínia. E a confirmação do evidente: a confabulação entre magistrados, meios de comunicação, políticos de partidos corruptos e corrompidos, o mercado financeiro e todos os setores do empresariado alcançou seu objetivo final: impedir que o golpe institucional que destituiu a presidenta Dilma Rousseff em 2016 deixasse de atingir sua vítima principal, que era precisamente Lula da Silva, impedindo sua candidatura para voltar à Presidência.
A partir de agora se intensificarão os aspectos da mais confusa e tumultuada disputa eleitoral desde o retorno da democracia, em 1985.
Pela primeira vez, existe um candidato viável na ultradireita, o capitão reformado e atual deputado Jair Bolsonaro, com forte respaldo popular.
E pela primeira vez, a direita e a centrodireita carecem de candidatos viáveis em termos eleitorais: há quase uma certeza de que a disputa final será entre um energúmeno ultradireitista e um candidato de esquerda ou de centroesquerda, seja entre Bolsonaro e Fernando Haddad, o escolhido de Lula, ou entre o ex-militar e o desenvolvimentista Ciro Gomes.
A facada sofrida por Bolsonaro no dia 6 de setembro seria, segundo os seus esperançados seguidores, suficiente para criar uma comoção e liquidar a eleição já no primeiro turno.
A primeira pesquisa de intenção de votos realizada após a agressão teve como resultado exatamente o contrário: Bolsonaro cresceu somente dois pontos, dentro da chamada “margem de erro”. E sua rejeição de manteve alta, acima dos 42%, confirmando que ele seria derrotado por todos os demais adversários em um eventual segundo turno.
Ciro Gomes cresceu três importantes pontos porcentuais, a ambientalista e evangélica Marina Silva despencou quatro, e Haddad, que ainda não havia sido sacramentado por Lula, mais que duplicou seu índice eleitoral.
Tecnicamente, existe um empate entre os três e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Contudo, os dois candidatos da direita, Marina e Alckmin, aparecem em problemas: a primeira começou a enfrentar a esperada tendência de queda significativa, e o segundo mostra que não consegue decolar.
A partir de agora, estão definidas as regras do jogo, e com que cartas se dará a disputa.
Sociólogos, analistas políticos e especialistas em projeções eleitorais traçam mil e uma versões, tentando prever o que acontecerá.
Em geral, há uma unanimidade a respeito de alguns fatores óbvios. Entre eles, o fato de que o cenário mais provável é o de Bolsonaro indo para o segundo turno, contra Haddad ou Gomes, e que será derrotado nessa segunda instância – a menos que ocorra alguma reviravolta que, por enquanto parece praticamente impossível. Faltando menos de um mês para a votação no primeiro turno, Haddad dá mostras de ter mais poder de fogo para crescer, mas Gomes também se mostra forte.
O centro dramático, no entanto, é outro: Lula. Apesar de preso e impedido, seguirá presente em todos os debates.
E assim ficará patente a falência geral do sistema judicial brasileiro, o perverso e indecente papel dos meios hegemônicos de comunicação, a podridão exposta do sistema político, enfim, um país em frangalhos.
Esse país em frangalhos é o que Michel Temer e sua quadrilha deixarão como legado ao sucessor.
* Publicado originalmente no jornal argentino Pagina/12. Tradução de Victor Farinelli.
Se alguém pensa que a eleição ocorrerá de forma pacífica, está bem enganado. Forças, que sabemos onde estão, estão criando BOCA DE URNA em véspera de eleição, tipo prender sequestrador com camiseta do PT ou apresentar denúncia que não pode ser rebatida.
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