segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Forças Armadas ensaiam bote final?

Por Bepe Damasco, em seu blog: 

Nunca fui de dar crédito a teorias conspiratórias com base em suposições, conjecturas e teses especulativas. Mas quando a realidade bate à porta é diferente. Nesses casos o melhor a fazer é se preparar para enfrentar a tormenta.

O sentimento nacionalista, que marcou sucessivas gerações das forças armadas brasileiras, foi banido da caserna. Lideradas por generais, almirantes e brigadeiros da ativa, e insuflados pelos radicais fascistas da reserva que gravitam em torno do Clube Militar, as tropas hoje se colocam na linha de frente dos defensores da rapinagem do patrimônio nacional.

Que ninguém se iluda: os militares se mantiveram em silêncio diante do fim da lei de partilha do petróleo, que resultou no crime de lesa pátria da entrega do pré-sal às petroleiras estrangeiras, por um único e simples motivo: a cúpula das três armas está sintonizada com os interesses imperialistas como nunca antes na nossa história.

Igualmente o ultraneoliberalismo do governo golpista de Temer conta com forte apoio fardado. O antipetismo visceral e doentio, que tomou o lugar do anticomunismo de outrora entre os oficiais de baixa e de alta patente, explica a passividade ante o fim da CLT (coisa que nem a ditadura ousou fazer) imposto pela reforma trabalhista, o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, o projeto de reforma trabalhista e tudo que é modalidade de roubo dos direitos do povo.

E o moralismo udenista presente hoje nas forças armadas é seletivo e tem viés político-ideológico. Por isso, só enxergam corrupção em Lula e no PT. A roubalheira generalizada promovida pela gangue que ocupa o governo da República depois do golpe de estado não incomoda nem um pouco. Não é por acaso que o inominável capitão nazista, antes rejeitado pelo alto oficialato, hoje é o candidato da maioria esmagadora dos militares.

Como Temer é essencialmente um governante frouxo e rejeitado pela quase unanimidade do povo brasileiro, o comandante do Exército, general Villas Bôas, não se peja em dar opiniões políticas, pressionar o STF para manter Lula preso e, absurdo dos absurdos, posar como chefe de um poder supremo e despótico avisando que os quartéis não aceitam a candidatura de Lula.

Em qualquer democracia minimamente consolidada, que tem como um de seus pilares fundamentais a subordinação das forças armadas ao poder civil, Villas Bôas seria demitido e preso. No Brasil, o monopólio midiático, pedra angular da ditadura de novo tipo que vivemos, reverbera suas declarações com a maior naturalidade.

Só não vê quem não quer: os militares se preparam para não aceitar uma eventual e cada dia mais possível vitória de Fernando Haddad. Primeiro integrarão, junto com o Judiciário corrompido e a mídia, uma força tarefa voltada para impedir a todo custo que isso ocorra, com farto apelo a ameaças, denúncias, chantagens, calúnias e toda sorte de baixarias e sujeiras. Se nada disso der certo, tentarão uma intervenção direta ou apoiarão uma manobra antidemocrática qualquer para impedir a posse do candidato do Lula.

Desde já, cabe à esquerda e às forças democráticas investirem na mobilização do povo, única força capaz de não permitir que o fiapo de democracia que ainda nos resta seja arrebentado de vez.

3 comentários:

  1. O general Vilas Boas declarou para BBC: «As FFAA continuam as mesmas de 1964, com os mesmos objetivos. E' chegada a hora de consentir que o período que engloba 1964 é história e assim deve ser percebido.» Será que só os militares brasileiros não terão a força moral de exigir justiça para os colegas que expuseram suas vidas no esfôrço de combater a alienação política, social e cultural do Brasil?. Será possível o fortalecimento moral sem o reexame das atrocidades perpetradas por oficiais militares psicopatas e entreguistas? Como explicar a ausência de militares até na defesa das conquistas tecnológicas e materiais inéditas obtidas nos governos do PT?
    Aos golpistas de 1964 foi clara a necessidade de impor uma férrea seleção e formação dos oficiais de modo a garantir o caráter anti-nacional da burguesia que os comanda e o ódio inoculado no mundo — entre nós em particular —, pelos anglo-sionistas. Essa estória parece com o triste flagelo humano das meninas pobres thailandesas criadas e educadas para atender a crescente demanda do turismo sexual naquele pais. Um tal de Bini Pereira, general da reserva, escreveu artigo publicado na primeira página de O Estado de S. Paulo ameaçando abrir um “conflito sangrento entre irmãos”. Por que? Porque o MST fora convocado por Lula para partecipar das manifestações públicas em defesa da Petrobrás (!!); outro exemplo é o papagaio Mourão que decorou para repetir no comício de outubro de 2015 o que fora publicado no Estadão em 18 de março de 1964; Bolsonaro, um terrorista, que representa também o atual comando das FFAA, teve acolhida “heroica” na AMAN aos gritos de “lider”. Foi em agosto de 2014. Aos cadetes, prometeu “levar o Brasil para a direita” e que “muitos morrerão” (convicto que nessa eventualidade ele não será um dos muitos, talvez um dos primeiros). Bolsonaro, ex-aluno daquela academia, esteve envolvido em planos terroristas de explodir bombas naquela escola, por dinheiro (Sic). A notícia saiu na Veja, edição número 999, de 27 de outubro de 1987. Aqueles cadetes sabiam disso?
    A seleção capilar do pessoal militar é ideologicamente rigorosa que até soldados rasos selecionados para servirem como agentes de segurança responsáveis pelo controle do acesso ao Palácio do Planalto, Palácio da Alvorada e Granja do Torto, sob as ordens do general oriundo da famigerada familia Etchegoyen, entenderam que podiam utilizar pistolas do exército para assaltar pedestres e depois voltarem para seus postos de trabalho. Eram três militares que faziam parte do quadro de funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da presidência da República. Aconteceu em outubro de 2016. O atual comando das FFAA, permanentemente adestrado como braço armado de uma elite que odeia declaradamente o proprio povo, é genuinamente medieval: na perversidade, na perversão e na corrupção. J. Huizinga: «Quando o mundo era mais jovem de cinco séculos, os eventos da vida tinham formas bem marcadas na existência de todos. A variedade de formas e contrastes impostos ao espírito, incutia na vida de todos um ímpeto, uma emotividade que se alternava na grotesca algazarra, na crueldade violenta e na profunda ternura; vingança - ódio - fidelidade eram as bases da política.»
    “Somos os profissionais da violência. Nossos heróis matam”, afirmou publicamente o general Mourão que exibiu colossal ignorância ao citar a indolência dos nossos índios, que herdamos. Vejam esse caso de covardia e desumanidade dos criminosos, corruptos e perversos comandos militares golpistas. Aconteceu no dia 7 de setembro de 1970.
    link: http://jornalggn.com.br/noticia/aconteceu-no-brasil-em-um-7-de-setembro-por-eugenia-augusta-gonzaga

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  2. Condivido a perplexidade do Bepe Damasco.
    Trecho da entrevista do A. Buonicore ao professor J. Q. de Moraes, autor do livro A Esquerda Militar no Brasil - BUONICORE: Os militares também tiveram um papel importante na campanha nacionalista ocorrida na década de 1950. A Campanha do Petróleo é Nosso! foi praticamente comandada por oficiais. O que levou a ala nacionalista, que chegou a ter o ministro da Guerra e a direção do Clube Militar, a gradualmente perder espaço dentro das Forças Armadas? Havia outro cenário possível? QUARTIM: Entre 1946 e 1964 houve duas conjunturas em que a “ala nacionalista” ocupou posições decisivas no Exército e na política brasileira: em 1950-1952 e em 1961-1964. Em 1950, a chapa nacionalista, encabeçada pelos generais Estillac Leal e Horta Barbosa, venceu por ampla maioria as eleições para a direção do Clube Militar. Mais do que meros nacionalistas, os oficiais que a integravam eram também anti-imperialistas. Além da campanha O Petróleo é Nosso!, tiveram também papel importante, ao lado do PCB (do qual alguns faziam parte), na luta para impedir que soldados brasileiros servissem de tropa auxiliar na invasão estadunidense da Coreia, decidida pelo presidente Truman (o mesmo das duas bombas atômicas). Nelson Werneck Sodré, que a integrava e já era considerado, não sem razão, o principal teórico da esquerda militar, assumiu a direção do Departamento Cultural do Clube, cuja revista tornou-se a tribuna dos oficiais empenhados a fundo na batalha pelo desenvolvimento nacional, por uma política externa independente e por reformas sociais avançadas. A direita militar, exacerbada pelos ódios da “guerra fria”, logo se articulou numa “Cruzada Democrática” para aniquilar os que ousavam contestar a subordinação do Brasil ao “colosso do Norte” (fórmula reverencial dos deslumbrados com o poderio do dólar e do Pentágono). Com o apoio dos colossos estadunidenses, logrou não somente derrotar a ala nacionalista do Exército, mas também acuar Getúlio ao suicídio. Na História militar do Brasil Sodré relata as perseguições então desatadas, que só seriam suplantadas pelo expurgo promovido pelos golpistas vitoriosos de 1964 contra seus companheiros de farda fiéis à legalidade constitucional. Interrompida em 1955, quando o general Henrique Lott desarticulou o dispositivo golpista da UDN contra a posse de Juscelino Kubitschek, a perseguição recrudesceu em 1960, com a vitória de Jânio Quadros sobre o general Lott, candidato nacionalista. Entrementes, sua notável e fecunda atuação no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), tornara-o um dos intelectuais mais conhecidos e respeitados do país. Mas para poder prosseguir seu trabalho teórico-crítico, foi constrangido a solicitar transferência para a reserva. Nas Memórias de um soldado registrou quão difícil foi, para ele, esta decisão, “que vinha amadurecendo de há muito: quatro anos de exílio na fronteira, cinco anos embalsamado [...] numa Circunscrição de Recrutamento [...] novo exílio no extremo norte [...] instrutor de generais e no entanto sem perspectiva nenhuma na carreira”. “Certo”, prossegue, “o dever é resistir, incomodar, permanecer, mas eu vinha fazendo isso há praticamente quinze anos, sem resultado algum. Não era justo que militares democratas abandonassem o serviço ativo; mas há um limite além do qual o positivo se torna negativo”. O fiasco do golpe militar de 1961 contra a posse de João Goulart renovou o oxigênio intelectual nos meios militares, permitindo e até suscitando a eclosão de novos movimentos de militares de esquerda. O plural aqui é decisivo: estes movimentos foram pelo menos três, o dos oficiais nacionalistas, o dos sargentos e o dos marinheiros e fuzileiros navais. Não foi “gradualmente” que eles perderam espaço dentro das Forças Armadas, mas de um só golpe, o de 31 de março de 1964. Havia outro cenário possível: a vitória do programa de reformas de base defendido pela esquerda durante o governo João Goulart.

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