sábado, 15 de setembro de 2018

General Mourão ameaça a democracia

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Num país assolado pelo trauma dos vices, irrompe no cenário a maior ameaça à democracia desta campanha eleitoral, mas parece que a nação anestesiada ainda não se deu conta disso.

Vice do tosco capitão Jair Bolsonaro, esse fanfarrão de extrema-direita, fora de combate desde o atentado de Juiz de Fora, o general quatro estrelas Hamilton Mourão irrompeu na campanha presidencial em seu lugar, como um tanque de guerra desgovernado, modelo 1964.

Tratado com toda mesura, como se fosse um estadista, na entrevista à Globo News, Mourão desandou a falar as maiores barbaridades, e tem gente até achando graça das suas ameaças ao que restou de instituições democráticas no país, após o tsunami Michel Temer, outro vice.

Cuidado com o andor: Mourão pode parecer maluco, mas não está para brincadeiras.

Depois de defender abertamente a ditadura e os torturadores, acenar com intervenção militar e prever um possível “autogolpe” se Bolsonaro for eleito, vejam o que ele disse esta semana no Instituto de Engenharia do Paraná:

“Não precisa de Constituinte. Fazemos um conselho de notáveis e depois submetemos a plebiscito. Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo”.

Pode-se imaginar quem seriam esses notáveis, a julgar pelo herói declarado da dupla Bolsonaro & Mourão: o coronel Brilhante Ustra, símbolo mór dos torturadores.

E ele continua solto, fazendo campanha em lugar de Bolsonaro, enquanto Lula mofa na cadeia em Curitiba por conta de um triplex que não é dele.

Cadê a sociedade civil que se mobilizou em 1984 contra a ditadura e pela volta da democracia com eleições diretas para presidente da República?

Aonde se esconderam a OAB, a CNBB, a ABI e todas as outras entidades que arrostaram o regime do arbítrio já em seus estertores?

Por onde andam as universidades, os artistas, os sindicatos, os movimentos estudantis e sociais, as lideranças populares e dos partidos de oposição, que foram às ruas na luta pela democracia, quando os fardados ainda mandavam no país?

Agora que esta grande conquista da minha geração está novamente ameaçada, todo mundo vem mantendo um obsequioso silêncio diante do avanço escancarado do general Mourão contra o Estado de Direito.

Apenas 34 anos passados do último ditador militar no Palácio do Planalto, eles estão de volta, querendo agora ocupar o poder pelo voto.

Mais assustadora do que a figura destes dois militares da reserva remunerada, é a liderança que eles ocupam nas pesquisas, desde que foi retirado o nome de Lula, com o apoio de cerca de 20% do eleitorado.

Se ninguém fizer nada, Bolsonaro & Mourão marcharão triunfantes para o segundo turno, em que terão 10 minutos por dia, durante três semanas, em rede nacional de rádio televisão, para destilar o ódio e o medo que marcam esta campanha eleitoral.

Aí poderá ser tarde demais para evitar que esta grande nação promova o suicídio coletivo de um projeto de país democrático, solidário e justo para seus 208 milhões de habitantes.

Está passando da hora de reagirmos a essa insanidade que se desenha no horizonte nesta sexta-feira de nuvens negras nos céus do Brasil.

“Coragem!”, era o que sempre nos recomendava o bravo cardeal Paulo Evaristo Arns, à frente do “Projeto Brasil Nunca Mais”, o livro que denunciou as torturas e os assassinatos praticados pelos antecessores fardados de Bolsonaro & Mourão, lançado ainda durante o regime militar, quando participar deste trabalho representava risco de morte.

É o que está faltando agora, em pleno gozo de amplas liberdades públicas, por enquanto.

Por falar nisso, lembrou-me o bom amigo Antonio Carlos Fester, D. Paulo faria hoje 97 anos. E que falta ele nos faz!

Pra lembrar a data, o nosso eterno cardeal será homenageado à tarde na Ocupação Dom Paulo, no prédio antigo dos Correios, a partir das 15 horas.

Bom final de semana a todos, se possível.

Vida que segue.

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