Por Maíra Kubík Mano, no jornal Brasil de Fato:
Hoje vi a foto de uma pessoa, do meu mais profundo afeto, posicionada em cima de um tanque de guerra, dizendo que estava “pronta para votar”.
Fiquei em choque. “Um tanque de guerra não precisa de votos”, pensei. “Ele resolve tudo na bala”, comentei. Assim como foi na ditadura cívico-militar. Assim como já tem sido nas periferias do Brasil desde sempre, com a recente inovação tecnológica de que os tiros também vêm de cima, por helicópteros. Prisões arbitrárias, torturas, execuções.
Mas, passado o choque inicial, a sensação de amargor tomou conta de mim ao pensar que, na verdade, quem vota em Bolsonaro está optando por eleger seu próprio algoz. Vi um texto circulando sobre o “impulso de morte” dessa parcela do eleitorado e, realmente, é diante disto que estamos. Ao votarem em Bolsonaro, as pessoas estão escolhendo a morte. Às vezes a própria, às vezes a de outras pessoas, que, apesar de maioria, são sempre “outros” em nossa sociedade: mulheres, negros, LGBTs, indígenas, quilombolas, pobres.
Essa pessoa do meu mais profundo afeto está escolhendo a minha morte, seja ela física ou social. Ou ambas.
Mas parece que não importa afirmarmos nossos receios. Envoltos em um mar de propaganda, de fakenews e de ódio, não temos conseguido nos conectar com quem está tão desconectado de si, num sentido holístico e da humanidade, a ponto de optar por essa candidatura.
Vivemos em um tempo de profundo individualismo. Estamos em uma sociedade com características narcisistas, em que as exibições de façanhas individuais contam mais do que qualquer construção coletiva, e onde sobra falta de empatia. Somado a isso, e indissociável de uma autoconstrução competitiva, estamos em um sistema em que somos levados a crer que não existe alternativa possível. O capitalismo é estruturado a partir da finitude: não somos convidados a vislumbrar possibilidades infinitas.
Sem empatia e sem conseguirmos visualizar um futuro onde seja possível construir uma sociedade livre de preconceitos e desigualdades, nos apegamos a saídas que prometem soluções fáceis e simples, mas que, na verdade, são apenas reedições de trágicas experiências fracassadas. Um populismo militar que se diz “novo”, mas que reivindica um regime de terror já visto antes e que, ademais, foi totalmente corrupto.
Hitler, não nos esqueçamos, também foi eleito. A Alemanha de então vivia em uma profunda crise econômica, e a situação de insegurança fez com que aquela sociedade se apegasse a valores morais que colocavam as mulheres em posições inferiores, exaltando o patriarcado. Somado ao racismo – a “construção” de uma suposta “raça pura” –, estão aí as chaves da porta do holocausto.
Precisamos voltar a sonhar, expandir nossos horizontes e acreditar. Não podemos escolher a morte. A marcha que as mulheres estão poderosamente convocando para o próximo sábado (29) é um passo em direção ao que se apresenta hoje como nossa tarefa mais imediata: barrar o fascismo.
Fiquei em choque. “Um tanque de guerra não precisa de votos”, pensei. “Ele resolve tudo na bala”, comentei. Assim como foi na ditadura cívico-militar. Assim como já tem sido nas periferias do Brasil desde sempre, com a recente inovação tecnológica de que os tiros também vêm de cima, por helicópteros. Prisões arbitrárias, torturas, execuções.
Mas, passado o choque inicial, a sensação de amargor tomou conta de mim ao pensar que, na verdade, quem vota em Bolsonaro está optando por eleger seu próprio algoz. Vi um texto circulando sobre o “impulso de morte” dessa parcela do eleitorado e, realmente, é diante disto que estamos. Ao votarem em Bolsonaro, as pessoas estão escolhendo a morte. Às vezes a própria, às vezes a de outras pessoas, que, apesar de maioria, são sempre “outros” em nossa sociedade: mulheres, negros, LGBTs, indígenas, quilombolas, pobres.
Essa pessoa do meu mais profundo afeto está escolhendo a minha morte, seja ela física ou social. Ou ambas.
Mas parece que não importa afirmarmos nossos receios. Envoltos em um mar de propaganda, de fakenews e de ódio, não temos conseguido nos conectar com quem está tão desconectado de si, num sentido holístico e da humanidade, a ponto de optar por essa candidatura.
Vivemos em um tempo de profundo individualismo. Estamos em uma sociedade com características narcisistas, em que as exibições de façanhas individuais contam mais do que qualquer construção coletiva, e onde sobra falta de empatia. Somado a isso, e indissociável de uma autoconstrução competitiva, estamos em um sistema em que somos levados a crer que não existe alternativa possível. O capitalismo é estruturado a partir da finitude: não somos convidados a vislumbrar possibilidades infinitas.
Sem empatia e sem conseguirmos visualizar um futuro onde seja possível construir uma sociedade livre de preconceitos e desigualdades, nos apegamos a saídas que prometem soluções fáceis e simples, mas que, na verdade, são apenas reedições de trágicas experiências fracassadas. Um populismo militar que se diz “novo”, mas que reivindica um regime de terror já visto antes e que, ademais, foi totalmente corrupto.
Hitler, não nos esqueçamos, também foi eleito. A Alemanha de então vivia em uma profunda crise econômica, e a situação de insegurança fez com que aquela sociedade se apegasse a valores morais que colocavam as mulheres em posições inferiores, exaltando o patriarcado. Somado ao racismo – a “construção” de uma suposta “raça pura” –, estão aí as chaves da porta do holocausto.
Precisamos voltar a sonhar, expandir nossos horizontes e acreditar. Não podemos escolher a morte. A marcha que as mulheres estão poderosamente convocando para o próximo sábado (29) é um passo em direção ao que se apresenta hoje como nossa tarefa mais imediata: barrar o fascismo.
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