Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Enquanto Haddad busca votos e Bolsonaro envia mensagens de tom golpista diretamente do hospital, o destino de Alckmin e do PSDB permanece um mistério depois que as pesquisas de intenção de voto confirmaram que não possui músculos para ir ao segundo turno.
Fazer cara de estátua e fingir que nada tem a dizer num confronto entre uma candidatura comprometida com a reconstrução da democracia e um adversário que tenta consolidar uma ditadura equivale a renunciar a qualquer papel na história dramática que os brasileiros estão escrevendo em 2018.
A omissão, hoje, equivale a esconder-se no subsolo de nosso regime político, frequentado pelos animais típicos de ambientes infectos e sombrios, onde é difícil distinguir mamíferos de insetos.
Isso aconteceu uma vez em 2014, conforme reconstituiu o senador Tasso Jereissati, em entrevista já histórica ao repórter Pedro Venceslau, do Estado de S. Paulo, que está sintetizada no parágrafo abaixo:
"O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer."
Como se o país estivesse no cenário de uma peça de teatro de vanguarda, a partir da ruptura de 2014 -consumada no golpe de 2016 - a política brasileira passou a evoluir em dois planos de realidade, em dois calendários distintos, até que, quatro anos mais tarde, chegamos a 2018.
Na superfície, aos olhos de 145 milhões de eleitores, os personagens disputam uma campanha presidencial, conforme o calendário eleitoral com base na Constituição.
No subterrâneo, sem fantasias e sem máscaras, num ambiente mal iluminado, trama-se uma operação de vulto, de enfraquecimento definitivo das instituições e sabotagem do regime democrático. Os dois universos raramente se encontram à luz do dia, por incompatibilidade natural e também por exigências dramáticas -- ali se cometem crimes, que não podem ser testemunhados. Mas têm um encontro marcado em outubro, no primeiro e no segundo turno das eleições.
Para compreender a gravidade que cerca cada passo do PSDB, parece útil pedir ajuda a Dante Alighieri, o poeta que desde o século XIV ensina a humanidade a avaliar o peso das decisões tomadas por homens e mulheres, em sua vida cotidiana, nos negócios e também na política. A Divina Comédia é grande literatura e nós sabemos que aí encontramos os melhores alertas para tragédias da vida real.
O comportamento de 2014 levou o PSDB ao oitavo e penúltimo círculo do inferno, onde ficam os hipócritas. Não é difícil imaginar as tantas almas que ali se encontram, forçadas a portar roupas de chumbo, para assinalar o peso da consciência que lhes faltou na hora aprazada.
Em 2018, o crime a ser evitado é muito mais grave, um dos piores de todos - traição à pátria. Já fora parcialmente consumado em 2016, lembra Tasso Jereissati. Apesar de tudo, pelo menos o direito de gritar não foi retirado. Pode ser definitivo agora.
Condenadas por traição à pátria, as almas são conduzidas a um lago congelado, Cocite, formado por suas lágrimas e seu próprio sangue. Ali habita Lúcifer, o maior dos demônios, porque traidor de Deus. Asas enormes, o rosto de três faces, é guardião da pobre alma daqueles que traíram os valores de sua país e a luta de seu povo, entregando as riquezas do país para o inimigo.
A alma dos traidores da pátria recebe uma condenação específica, esclarece Dante. Fica submersa até o pescoço, apenas a cabeça fora do gelo, queixos batendo de frio pela eternidade.
A Nova República encontra-se em agonia falimentar. A última prova é que o desenho de um novo país anima dois projetos para uma nova Constituição. A O primeiro é aquele que pode nascer de uma escolha democrática, em urna, para permitir ao país reconstruir instituições e garantias esmagados pelo rolo compressor de Temer-Meirelles-Eduardo Cunha. O outro é uma assembleia de notáveis do general Mourão.
Ninguém tem o direito de se enganar. Lúcifer está solto e ninguém terá o direito de dizer que não ouviu o rufar de suas asas.
Alguma dúvida?
Enquanto Haddad busca votos e Bolsonaro envia mensagens de tom golpista diretamente do hospital, o destino de Alckmin e do PSDB permanece um mistério depois que as pesquisas de intenção de voto confirmaram que não possui músculos para ir ao segundo turno.
Fazer cara de estátua e fingir que nada tem a dizer num confronto entre uma candidatura comprometida com a reconstrução da democracia e um adversário que tenta consolidar uma ditadura equivale a renunciar a qualquer papel na história dramática que os brasileiros estão escrevendo em 2018.
A omissão, hoje, equivale a esconder-se no subsolo de nosso regime político, frequentado pelos animais típicos de ambientes infectos e sombrios, onde é difícil distinguir mamíferos de insetos.
Isso aconteceu uma vez em 2014, conforme reconstituiu o senador Tasso Jereissati, em entrevista já histórica ao repórter Pedro Venceslau, do Estado de S. Paulo, que está sintetizada no parágrafo abaixo:
"O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer."
Como se o país estivesse no cenário de uma peça de teatro de vanguarda, a partir da ruptura de 2014 -consumada no golpe de 2016 - a política brasileira passou a evoluir em dois planos de realidade, em dois calendários distintos, até que, quatro anos mais tarde, chegamos a 2018.
Na superfície, aos olhos de 145 milhões de eleitores, os personagens disputam uma campanha presidencial, conforme o calendário eleitoral com base na Constituição.
No subterrâneo, sem fantasias e sem máscaras, num ambiente mal iluminado, trama-se uma operação de vulto, de enfraquecimento definitivo das instituições e sabotagem do regime democrático. Os dois universos raramente se encontram à luz do dia, por incompatibilidade natural e também por exigências dramáticas -- ali se cometem crimes, que não podem ser testemunhados. Mas têm um encontro marcado em outubro, no primeiro e no segundo turno das eleições.
Para compreender a gravidade que cerca cada passo do PSDB, parece útil pedir ajuda a Dante Alighieri, o poeta que desde o século XIV ensina a humanidade a avaliar o peso das decisões tomadas por homens e mulheres, em sua vida cotidiana, nos negócios e também na política. A Divina Comédia é grande literatura e nós sabemos que aí encontramos os melhores alertas para tragédias da vida real.
O comportamento de 2014 levou o PSDB ao oitavo e penúltimo círculo do inferno, onde ficam os hipócritas. Não é difícil imaginar as tantas almas que ali se encontram, forçadas a portar roupas de chumbo, para assinalar o peso da consciência que lhes faltou na hora aprazada.
Em 2018, o crime a ser evitado é muito mais grave, um dos piores de todos - traição à pátria. Já fora parcialmente consumado em 2016, lembra Tasso Jereissati. Apesar de tudo, pelo menos o direito de gritar não foi retirado. Pode ser definitivo agora.
Condenadas por traição à pátria, as almas são conduzidas a um lago congelado, Cocite, formado por suas lágrimas e seu próprio sangue. Ali habita Lúcifer, o maior dos demônios, porque traidor de Deus. Asas enormes, o rosto de três faces, é guardião da pobre alma daqueles que traíram os valores de sua país e a luta de seu povo, entregando as riquezas do país para o inimigo.
A alma dos traidores da pátria recebe uma condenação específica, esclarece Dante. Fica submersa até o pescoço, apenas a cabeça fora do gelo, queixos batendo de frio pela eternidade.
A Nova República encontra-se em agonia falimentar. A última prova é que o desenho de um novo país anima dois projetos para uma nova Constituição. A O primeiro é aquele que pode nascer de uma escolha democrática, em urna, para permitir ao país reconstruir instituições e garantias esmagados pelo rolo compressor de Temer-Meirelles-Eduardo Cunha. O outro é uma assembleia de notáveis do general Mourão.
Ninguém tem o direito de se enganar. Lúcifer está solto e ninguém terá o direito de dizer que não ouviu o rufar de suas asas.
Alguma dúvida?
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