Por Carlos Tibúrcio, na revista Teoria e Debate:
Muitas pessoas, em todo o mundo, vagueiam pela vida como aquele famoso personagem de Stendhal que se juntou ao exército de Napoleão na Batalha de Waterloo sem ter a mínima consciência do momento histórico que estava vivendo. (Nilmário leu essa obra, A Cartuxa de Parma, quando éramos presos políticos, em 1973, no Presídio do Hipódromo, em São Paulo.) Muitas outras pessoas têm conhecimento da história, mas ao falar ou escrever sobre suas vidas o fazem mirando o próprio umbigo.
Nesse livro, o leitor e a leitora não encontrarão nenhuma dessas duas situações.
Histórias que Vivi na História já nasceu como um ato consciente de resistência coletiva. Nilmário decidiu escrevê-lo logo após o golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016, que derrubou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff e prosseguiu destruindo direitos sociais, perseguindo, prendendo e agora tentando impedir a todo custo a candidatura do ex-presidente Lula, que está à frente em todas as pesquisas eleitorais.
O livro tem o feitio de uma biografia, mas é um testemunho ativo, consciente e contextualizado da vida política do Brasil nas últimas sete décadas, idade do autor, que começou a enfrentar pessoalmente a violência e os arbítrios da ditadura civil-militar aos 16 anos, com a prisão do seu pai em Teófilo Otoni, em 1964.
Momentos significativos da vida de Nilmário, muitas vezes densos de emoções, compõem o fio condutor da narrativa, mas a personagem principal são os fatos e circunstâncias da história, vividos e relatados com precisão e intensidade, o que possibilita tanto uma compreensão articulada do passado como o entendimento dos tempos difíceis que estamos enfrentando hoje no país.
Nilmário é um homem cheio de histórias vividas e tem capacidade e memória excepcionais para contá-las. E é sobretudo um extraordinário fazedor de amigos – amigos pra vida inteira. Esse companheirismo, desde a infância até os dias atuais, está presente – nominalmente presente – em praticamente todos os relatos políticos importantes do livro. É um tributo que a sua inteligência – racional, emocional e afetiva – e a sua sensibilidade prestam à amizade, à solidariedade, às trajetórias individuais e coletivas de luta com as quais conviveu e convive.
Os principais compromissos, realizações e cargos políticos assumidos por Nilmário ao longo de sua vida pública fizeram dele uma das maiores referências brasileiras na defesa dos direitos humanos e da democracia, com amplo reconhecimento nacional e internacional.
Nilmário fez parte da resistência à ditadura de 1964, no movimento estudantil, na clandestinidade, militando em organizações revolucionárias (Polop [1] e POC [2]), no movimento operário, nas prisões e nas torturas; de volta à liberdade, dedicou-se ao trabalho de base em Contagem, com o Jornal dos Bairros, e em Belo Horizonte; participou da fundação do PT, elegeu-se deputado estadual em Minas, e, depois, deputado federal por três mandatos consecutivos, durante os quais foi escolhido várias vezes pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como um dos “cabeças” do Congresso.
Como deputado federal, entre muitas outras iniciativas, propôs a criação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e foi o seu primeiro presidente por dois mandatos. Com a vitória de Lula para a Presidência da República em 2002, foi convidado para integrar o governo e se afastou do Congresso. Ele mesmo conta: "Depois de dez anos, voltei à Câmara Federal em 2013. Nesse período em que fiquei fora do Parlamento, fui ministro dos Direitos Humanos (o primeiro do país); presidente do PT mineiro; vice-presidente e, depois, presidente da Fundação Perseu Abramo por quatro anos e meio. E candidato a governador de Minas por duas vezes. Escrevi três livros e nasceram três dos meus seis netos”.
Com a vitória de Fernando Pimentel para o governo de Minas, Nilmário foi nomeado secretário de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania do Estado, cargo que exerceu até este ano, quando se afastou para novamente candidatar-se a deputado federal.
Por tudo isso, leia esse livro e, se possível, faça-o logo. Nilmário escreve bem e o texto dele flui como se fosse uma prosa ao pé do ouvido. E lembre-se do que é mais importante: as histórias que ele conta esclarecem, informam, educam, emocionam e, sobretudo, ajudam as forças democráticas, progressistas e de esquerda a enfrentar esse duro momento conjuntural que estamos vivendo no Brasil e em grande parte do mundo.
* Carlos Tibúrcio é jornalista, coautor com Nilmário Miranda do livro Dos Filhos Deste Solo – Mortos e desaparecidos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado. Foi o coordenador da Equipe de Discursos dos Presidentes da República Lula e Dilma (1/1/2003 a 12/5/2016) e integra atualmente o Grupo Facilitador e o Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e a Diretoria do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Notas
1. Organização Revolucionária Marxista – Política Operária; Organização de Combate Marxista-Leninista – Política Operária;
2. Partido Operário Comunista.
Muitas pessoas, em todo o mundo, vagueiam pela vida como aquele famoso personagem de Stendhal que se juntou ao exército de Napoleão na Batalha de Waterloo sem ter a mínima consciência do momento histórico que estava vivendo. (Nilmário leu essa obra, A Cartuxa de Parma, quando éramos presos políticos, em 1973, no Presídio do Hipódromo, em São Paulo.) Muitas outras pessoas têm conhecimento da história, mas ao falar ou escrever sobre suas vidas o fazem mirando o próprio umbigo.
Nesse livro, o leitor e a leitora não encontrarão nenhuma dessas duas situações.
Histórias que Vivi na História já nasceu como um ato consciente de resistência coletiva. Nilmário decidiu escrevê-lo logo após o golpe parlamentar-jurídico-midiático de 2016, que derrubou a presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff e prosseguiu destruindo direitos sociais, perseguindo, prendendo e agora tentando impedir a todo custo a candidatura do ex-presidente Lula, que está à frente em todas as pesquisas eleitorais.
O livro tem o feitio de uma biografia, mas é um testemunho ativo, consciente e contextualizado da vida política do Brasil nas últimas sete décadas, idade do autor, que começou a enfrentar pessoalmente a violência e os arbítrios da ditadura civil-militar aos 16 anos, com a prisão do seu pai em Teófilo Otoni, em 1964.
Momentos significativos da vida de Nilmário, muitas vezes densos de emoções, compõem o fio condutor da narrativa, mas a personagem principal são os fatos e circunstâncias da história, vividos e relatados com precisão e intensidade, o que possibilita tanto uma compreensão articulada do passado como o entendimento dos tempos difíceis que estamos enfrentando hoje no país.
Nilmário é um homem cheio de histórias vividas e tem capacidade e memória excepcionais para contá-las. E é sobretudo um extraordinário fazedor de amigos – amigos pra vida inteira. Esse companheirismo, desde a infância até os dias atuais, está presente – nominalmente presente – em praticamente todos os relatos políticos importantes do livro. É um tributo que a sua inteligência – racional, emocional e afetiva – e a sua sensibilidade prestam à amizade, à solidariedade, às trajetórias individuais e coletivas de luta com as quais conviveu e convive.
Os principais compromissos, realizações e cargos políticos assumidos por Nilmário ao longo de sua vida pública fizeram dele uma das maiores referências brasileiras na defesa dos direitos humanos e da democracia, com amplo reconhecimento nacional e internacional.
Nilmário fez parte da resistência à ditadura de 1964, no movimento estudantil, na clandestinidade, militando em organizações revolucionárias (Polop [1] e POC [2]), no movimento operário, nas prisões e nas torturas; de volta à liberdade, dedicou-se ao trabalho de base em Contagem, com o Jornal dos Bairros, e em Belo Horizonte; participou da fundação do PT, elegeu-se deputado estadual em Minas, e, depois, deputado federal por três mandatos consecutivos, durante os quais foi escolhido várias vezes pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) como um dos “cabeças” do Congresso.
Como deputado federal, entre muitas outras iniciativas, propôs a criação da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e foi o seu primeiro presidente por dois mandatos. Com a vitória de Lula para a Presidência da República em 2002, foi convidado para integrar o governo e se afastou do Congresso. Ele mesmo conta: "Depois de dez anos, voltei à Câmara Federal em 2013. Nesse período em que fiquei fora do Parlamento, fui ministro dos Direitos Humanos (o primeiro do país); presidente do PT mineiro; vice-presidente e, depois, presidente da Fundação Perseu Abramo por quatro anos e meio. E candidato a governador de Minas por duas vezes. Escrevi três livros e nasceram três dos meus seis netos”.
Com a vitória de Fernando Pimentel para o governo de Minas, Nilmário foi nomeado secretário de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania do Estado, cargo que exerceu até este ano, quando se afastou para novamente candidatar-se a deputado federal.
Por tudo isso, leia esse livro e, se possível, faça-o logo. Nilmário escreve bem e o texto dele flui como se fosse uma prosa ao pé do ouvido. E lembre-se do que é mais importante: as histórias que ele conta esclarecem, informam, educam, emocionam e, sobretudo, ajudam as forças democráticas, progressistas e de esquerda a enfrentar esse duro momento conjuntural que estamos vivendo no Brasil e em grande parte do mundo.
* Carlos Tibúrcio é jornalista, coautor com Nilmário Miranda do livro Dos Filhos Deste Solo – Mortos e desaparecidos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado. Foi o coordenador da Equipe de Discursos dos Presidentes da República Lula e Dilma (1/1/2003 a 12/5/2016) e integra atualmente o Grupo Facilitador e o Conselho Internacional do Fórum Social Mundial e a Diretoria do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
Notas
1. Organização Revolucionária Marxista – Política Operária; Organização de Combate Marxista-Leninista – Política Operária;
2. Partido Operário Comunista.
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