Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
O último Datafolha indica que a vantagem de Jair Bolsonaro sobre Fernando Haddad diminuiu mais um pouco e agora é de 12% dos votos válidos (56% a 44%). No levantamento anterior, há duas semanas, a diferença era de 59% a 41%.
Considerando que Haddad precisa crescer 6% dos votos para vencer o pleito, estamos falando de 8,4 milhões + 1 voto para uma vitória, que, se for consumada, representará uma virada espetacular.
Um caso recente de mudança no segundo turno ocorreu na campanha de 2014. Embora Dilma tenha terminado o primeiro turno em vantagem, Aécio Neves começou a segunda fase à frente, e assim passou duas rodadas nas pesquisas, pela margem de 51% a 49%. Acabou vencido por Dilma na semana final, quando a presidente deu um salto estimado em 3 milhões de eleitores e cravou a diferença de 51,6% a 48,3%. Quem acompanhou o processo recorda que a mobilização aguerrida se manteve até o fechamento das urnas.
Na campanha de 1989, Lula saiu do primeiro turno com 17,1% dos votos Chegou a 46,9% na segunda rodada. Ganhou 19,3 milhões de votos -- mais do que o dobro daquilo que recebeu na fase anterior. No último levantamento daquela campanha, divulgado na véspera da eleição, encontrava-se a apenas 1% de distância de Fernando Collor -- diferença que uma edição tendenciosa do debate da Globo permitiu ampliar.
O salto de Lula teve uma ajuda imensa de Leonel Brizola, que lhe transferiu, num gesto rápido e enérgico, os 11 milhões de votos que havia reunido no primeiro turno. Da mesma forma, o salto de Aécio em 2014 teve como primeiro impulso o apoio de Marina Silva, que naquela eleição recebeu 22 milhões de votos, ou 21%, no primeiro turno.
A recuperação de Dilma, em 2014, contou com a força militante na reta final, coroada pelo retorno de Lula aos palanques de forma mais constante. São antecedentes que reforçam a importância de Ciro Gomes, que desembarca em Fortaleza na noite de hoje.
Considerando as análises que ajudam a compreender o movimento dos políticos que tem uma liderança real no país, e o fato de Ciro retornar na véspera da votação, quando, se quiser, haverá tempo para manifestar apoio a Haddad de forma clara e inequívoca, indica uma mudança política importante.
Nos últimos dias, a sempre difícil possibilidade de uma virada deixou de ser uma miragem a alimentar esperanças da ampla parcela de brasileiros indignada com a campanha de Bolsonaro, e já é vista como uma possibilidade plausível, ainda que difícil em função do calendário que prevê o encerramento da votação no final da tarde de domingo.
Destinados a cumprir um papel histórico na reta final da campanha de 2018, os milhões de brasileiros e brasileiras que arregaçaram as mangas para pedir voto para Haddad tem encontrado um ambiente político novo. "A rua está boa", costumam dizer, para falar de homens e mulheres receptivos a conversas sobre o voto. Dá para esquecer as cenas de violência dos aliados de Bolsonaro, as ameaças. Quem andasse pelo centro de São Paulo, ontem, iria encontrar até camelôs dispostos a saudar quem exibisse o 13 colado na camisa: "Este é o número", berrava um deles.
Parece claro que os números do Ibope, da Vox Populi e do Data Folha refletem apenas parcialmente a perda de credibilidade de Bolsonaro, um processo muito mais rápido do que os pesquisadores são capazes de acompanhar, constituindo talvez o caso mais dramático de desconstrução de imagem ocorrido numa campanha presidencial brasileira em todas as épocas -- a partir da denúncia de fatos reais e tragédias arquivadas na memória. A perda de votos entre eleitores evangélicos representa uma derrota de peso, junto ao eleitorado que era visto, erradamente, como sua reserva eleitoral. A recuperação do eleitorado da cidade de São Paulo por Haddad, que lidera pesquisas na capital paulista por 51% dos votos, tem um peso político inegável, pois ali mesmo foi abatido no primeiro turno, em 2016. Representa a reconciliação com uma população que, desde 1988, na eleição de Luiza Erundina, costuma garantir um apoio considerável a candidatos do PT, e possui uma reconhecida influencia nas cidades a sua volta, também.
Ao fugir de um debate aguardado por 73% de eleitores, segundo o Data Folha, Bolsonaro não só deixou claro que não confia na própria capacidade para defender os argumentos expostos no power point que sua campanha tem distribuído como programa de governo, como também reforçou o mal-estar em torno de uma candidatura que fala a língua da ditadura, com ameaças a liberdade e reiterados apelos à violência. "Você quer morar numa cidade sem diálogo, onde a polícia ameaça seus filhos, onde toda discussão se resolve na bala?", perguntava um bancário empenhado em virar um voto nas proximidades do Vale do Anhangabaú, na tarde de quinta-feira. Em conversa com eleitores a princípio incapazes de demonstrar ânimo para votar em qualquer um dos dois finalistas, com tendência para anular o voto, era possível provocar uma nova reflexão a partir de uma pergunta direta, sobre um personagem que já ganha conotação negativa: "então você prefere deixar o país nas mãos de um tipo como este?"
Considerando que Haddad precisa crescer 6% dos votos para vencer o pleito, estamos falando de 8,4 milhões + 1 voto para uma vitória, que, se for consumada, representará uma virada espetacular.
Um caso recente de mudança no segundo turno ocorreu na campanha de 2014. Embora Dilma tenha terminado o primeiro turno em vantagem, Aécio Neves começou a segunda fase à frente, e assim passou duas rodadas nas pesquisas, pela margem de 51% a 49%. Acabou vencido por Dilma na semana final, quando a presidente deu um salto estimado em 3 milhões de eleitores e cravou a diferença de 51,6% a 48,3%. Quem acompanhou o processo recorda que a mobilização aguerrida se manteve até o fechamento das urnas.
Na campanha de 1989, Lula saiu do primeiro turno com 17,1% dos votos Chegou a 46,9% na segunda rodada. Ganhou 19,3 milhões de votos -- mais do que o dobro daquilo que recebeu na fase anterior. No último levantamento daquela campanha, divulgado na véspera da eleição, encontrava-se a apenas 1% de distância de Fernando Collor -- diferença que uma edição tendenciosa do debate da Globo permitiu ampliar.
O salto de Lula teve uma ajuda imensa de Leonel Brizola, que lhe transferiu, num gesto rápido e enérgico, os 11 milhões de votos que havia reunido no primeiro turno. Da mesma forma, o salto de Aécio em 2014 teve como primeiro impulso o apoio de Marina Silva, que naquela eleição recebeu 22 milhões de votos, ou 21%, no primeiro turno.
A recuperação de Dilma, em 2014, contou com a força militante na reta final, coroada pelo retorno de Lula aos palanques de forma mais constante. São antecedentes que reforçam a importância de Ciro Gomes, que desembarca em Fortaleza na noite de hoje.
Considerando as análises que ajudam a compreender o movimento dos políticos que tem uma liderança real no país, e o fato de Ciro retornar na véspera da votação, quando, se quiser, haverá tempo para manifestar apoio a Haddad de forma clara e inequívoca, indica uma mudança política importante.
Nos últimos dias, a sempre difícil possibilidade de uma virada deixou de ser uma miragem a alimentar esperanças da ampla parcela de brasileiros indignada com a campanha de Bolsonaro, e já é vista como uma possibilidade plausível, ainda que difícil em função do calendário que prevê o encerramento da votação no final da tarde de domingo.
Destinados a cumprir um papel histórico na reta final da campanha de 2018, os milhões de brasileiros e brasileiras que arregaçaram as mangas para pedir voto para Haddad tem encontrado um ambiente político novo. "A rua está boa", costumam dizer, para falar de homens e mulheres receptivos a conversas sobre o voto. Dá para esquecer as cenas de violência dos aliados de Bolsonaro, as ameaças. Quem andasse pelo centro de São Paulo, ontem, iria encontrar até camelôs dispostos a saudar quem exibisse o 13 colado na camisa: "Este é o número", berrava um deles.
Parece claro que os números do Ibope, da Vox Populi e do Data Folha refletem apenas parcialmente a perda de credibilidade de Bolsonaro, um processo muito mais rápido do que os pesquisadores são capazes de acompanhar, constituindo talvez o caso mais dramático de desconstrução de imagem ocorrido numa campanha presidencial brasileira em todas as épocas -- a partir da denúncia de fatos reais e tragédias arquivadas na memória. A perda de votos entre eleitores evangélicos representa uma derrota de peso, junto ao eleitorado que era visto, erradamente, como sua reserva eleitoral. A recuperação do eleitorado da cidade de São Paulo por Haddad, que lidera pesquisas na capital paulista por 51% dos votos, tem um peso político inegável, pois ali mesmo foi abatido no primeiro turno, em 2016. Representa a reconciliação com uma população que, desde 1988, na eleição de Luiza Erundina, costuma garantir um apoio considerável a candidatos do PT, e possui uma reconhecida influencia nas cidades a sua volta, também.
Ao fugir de um debate aguardado por 73% de eleitores, segundo o Data Folha, Bolsonaro não só deixou claro que não confia na própria capacidade para defender os argumentos expostos no power point que sua campanha tem distribuído como programa de governo, como também reforçou o mal-estar em torno de uma candidatura que fala a língua da ditadura, com ameaças a liberdade e reiterados apelos à violência. "Você quer morar numa cidade sem diálogo, onde a polícia ameaça seus filhos, onde toda discussão se resolve na bala?", perguntava um bancário empenhado em virar um voto nas proximidades do Vale do Anhangabaú, na tarde de quinta-feira. Em conversa com eleitores a princípio incapazes de demonstrar ânimo para votar em qualquer um dos dois finalistas, com tendência para anular o voto, era possível provocar uma nova reflexão a partir de uma pergunta direta, sobre um personagem que já ganha conotação negativa: "então você prefere deixar o país nas mãos de um tipo como este?"
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