quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Mídia já se prepara para o segundo turno

Por Altamiro Borges

A mídia monopolista foi a principal protagonista do golpe que depôs a presidenta Dilma Rousseff e levou ao poder a quadrilha de Michel Temer. O criminoso impeachment não tinha nada a ver com as tais pedaladas fiscais – que já foram esquecidas – ou com as denúncias de corrupção feitas pelo presidiário Eduardo Cunha e por outros moralistas sem moral.

O objetivo era implantar o projeto derrotado nas urnas em quatro eleições consecutivas – com a reforma trabalhista e a volta da escravidão, a terceirização selvagem, o congelamento dos gastos em saúde e educação por 20 anos, a entrega do pré-sal às multinacionais do petróleo, a destruição da Embraer, entre outros crimes. Mais de 90% da cobertura da mídia após o golpe foi para defender estes crimes contra a nação e os trabalhadores em favor dos ricaços que financiaram o impeachment.

Para perpetuar o golpe, porém, era preciso um terceiro movimento. A prisão política da principal liderança popular do país, o ex-presidente Lula. Não dava para derrubar ilegalmente Dilma e impor as contrarreformas e depois entregar o governo de novo às forças de esquerda. A mídia criou o clima para demonizar Lula e exigir sua prisão, dando proteção aos vários abusos cometidos pela Lava-Jato, por Sergio Moro, e por outros venais do Judiciário, como o patético censor Luiz Fux.

Apesar de tudo, as eleições de outubro podem melar o plano golpista. A mídia protagonizou o golpe, mas esta encalacrada. Os candidatos do chamado “centro” não se viabilizaram – o picolé de chuchu Geraldo Alckmin derreteu, o banqueiro Meirelles torrou à toa 46 milhões na sua campanha, Marina Silva parece uma espécie em extinção, o ricaço Amoêdo rapidamente envelheceu com seu partido “novo”, e Alvaro Dias, o tucano de botox, não convenceu ninguém.

A criminalização da política não conseguiu dizimar o campo progressista, as forças de esquerda. A população, principalmente a mais sofrida, sabe o que significou o governo Lula/Dilma. O efeito saudade é tão grande que bastaram duas semanas para se dar a transferência de votos de Lula para Haddad. Por outro lado, a criminalização da política serviu para chocar o monstro do fascismo, com o crescimento do Coiso. Nas manifestações deste sábado, que juntaram mais de 1 milhão de pessoas em várias cidades, as mulheres gritaram “ele não”.

Diante deste cenário, a mídia já reconhece a derrota e prepara novas manobras. Eliane Cantanhêde, que mantém uma relação conjugal com o PSDB e adora a “massa cheirosa tucana”, parece até que entregou os pontos. Em artigo publicado no Estadão na segunda-feira (1), intitulado “Morrendo pela boca”, a jornalista – que também é “calunista” da TV Globo – critica os erros de Bolsonaro e dos tucanos pelo crescimento do candidato petista. Diz ela, meio amargurada, que “o PT constrói sua vitória; Bolsonaro e PSDB armam as suas próprias derrotas... Não venham praguejar depois”.

Mas a mídia não vai entregar a rapadura de mão beijada. Ela pode até perder novamente nas urnas, mas vai tentar ganhar na política. Ela fará de tudo para enquadrar o novo governo. Em editorial publicado neste final de semana, intitulado “A hora do compromisso”, a Folha já exigiu a rendição de Haddad. O jornal afirma que o petista precisa se submeter “ao enquadramento democrático”, aceitando a tese de que a deposição de Dilma foi legítima – e não golpe – e de que a prisão de Lula é justa – não é política. Em outros artigos, o jornalão também expõe as pré-condições do “deus-mercado” para aceitar o candidato do PT. Haja cinismo. O jogo é pesado. Não tem paz. É luta de classes na veia!

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