Charge: Michael Kountouris, Grécia |
Desfez-se, de uma vez por todas, o mito de um Brasil cordial. Nossa sociedade não é afável, sincera, calorosa ou franca, no sentido que dá Houaiss ao adjetivo cordial. O Brasil votou com o fígado, com o sentimento visceral de rancor. E elegeu Jair Messias Bolsonaro presidente do Brasil para os próximos quatro anos. A marca histórica de um país que impõe pesado sofrimento aos pobres evidenciou-se novamente.
Como é possível achar que um deputado, que habita a Câmara dos Deputados há 28 anos, represente o “novo” na política? Como aceitar sua proposta de armar a população para aumentar a segurança? Por que apoiar seu desprezo pelas mulheres? Por que o país elegeu um sujeito que reverencia a tortura e o mais funesto torturador?
A caminhada do Brasil está repleta de eventos e práticas que fazem corar a todos que julgamos que nascemos iguais e devemos ter os mesmos direitos. Nesse último período, no entanto, há conformações que é preciso salientar. O poder executivo, eleito pelo povo em 2014, foi destituído por uma conjunção do poder econômico, do poder dos meios de comunicação, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder dos outros integrantes do sistema de justiça: ministério público e polícias. O silêncio, revelando aparente neutralidade do poder militar, foi quebrado em momentos decisivos em apoio ao objetivo maior.
A desmoralização e demonização da política vêm desde o início da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, em 2006. É público que Joaquim Barbosa escondeu provas e evidências que mudariam o rumo do julgamento. Inúmeros juristas denunciaram as ilegalidades desse processo. Suas vozes não foram, contudo, ouvidas. Sucumbiram, sob intenso apoio, e aliança, dos meios de comunicação aos desmandos do Supremo Tribunal Federal, Os mesmos jornais, canais de televisão, rádios e revistas que hoje se espantam com a aberração que gestaram.
Mal sabíamos que as artimanhas do STF visavam tornar inelegível a maior liderança popular do país. E assim fizeram. Condenaram Luiz Inácio Lula da Silva sem provas de que o apartamento de classe média no Guarujá fosse seu. O futuro ministro do STF, Sérgio Fernando Moro, o condenou por uma matéria de jornal e uma delação de criminosos que declarariam o que fosse preciso para se verem livres da prisão. O Tribunal Regional Federal da Quarta Região confirmou, em tempo recorde, a condenação. O Supremo Tribunal Federal autorizou sua prisão, antes de terminadas as possibilidades de apelação do ex-presidente. E o Tribunal Superior Eleitoral o tronou inelegível.
O bloco no poder tentou viabilizar outros nomes “novos” na política. Não teve êxito. Não conseguiram se unir em torno de um nome. Todos os balões de ensaio foram bombardeados por frações do poder, quando não pela simples falta de apelo popular. Afinal, a farsa de que teriam sido escolhidos pelo povo em voto livre precisava prevalecer.
O Brasil de 2014 tinha o menor desemprego da história recente do país, tinha o maior salário-mínimo desde 1964 e tinha saído do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. A incerteza política gerada pelos inconformados com o resultado da eleição, o contágio de uma débil economia mundial e erros cometidos pelo governo de Dilma Rousseff redirecionaram a economia brasileira, desde 2015 até hoje, para a recessão e o desemprego.
Em meio a esta grave crise, o país levou ao poder executivo um grupo que promete aprofundar o corte de gastos públicos, a retirada de direitos, as privatizações e a abertura aos produtos estrangeiros. Um conjunto de ações que, diminuindo o consumo e o investimento, debilitará, ainda um pouco mais, a economia do país.
A retirada de direitos sociais e a autorização para que as forças da repressão policial matem quem julgar adequado tornaram nossa sociedade ainda mais insegura. Tememos pelos mais pobres e por todos aqueles que precisam da proteção do Estado.
Os Jornalistas Livres, formado exclusivamente por voluntários, nascemos em 2015 para mostrar o que era invisível para os meios de comunicação hegemônicos. Denunciamos inúmeras falcatruas e mentiras, com frequência beneficiadas ou mesmo veiculadas pelos próprios meios de comunicação. Denunciamos perseguições, violências e mortes de pobres, de pretos, de índios, de sem terras, de gays, de trans. Ajudamos alguns a verem com clareza a luta pelo poder que se desenrolava.
Gritamos “não vai ter golpe, vai ter luta”. Teve golpe e não teve luta. Gritamos “Marielle, presente”. Ela está morta e seus algozes livres. Bradamos “Mestre Moa vive”. E ele está morto. Bradamos “machistas, fascistas, não passarão”. E eles passaram. Clamamos “ele não”. E as urnas disseram “ele sim”. Clamamos “Lula livre”. E ele está preso e “apodrecerá na cadeia” a prevalecer o desejo do presidente ontem eleito.
Junto com o povo brasileiro mais sofrido, nós perdemos esta batalha. Estamos de luto.
Como é possível achar que um deputado, que habita a Câmara dos Deputados há 28 anos, represente o “novo” na política? Como aceitar sua proposta de armar a população para aumentar a segurança? Por que apoiar seu desprezo pelas mulheres? Por que o país elegeu um sujeito que reverencia a tortura e o mais funesto torturador?
A caminhada do Brasil está repleta de eventos e práticas que fazem corar a todos que julgamos que nascemos iguais e devemos ter os mesmos direitos. Nesse último período, no entanto, há conformações que é preciso salientar. O poder executivo, eleito pelo povo em 2014, foi destituído por uma conjunção do poder econômico, do poder dos meios de comunicação, do poder legislativo, do poder judiciário e do poder dos outros integrantes do sistema de justiça: ministério público e polícias. O silêncio, revelando aparente neutralidade do poder militar, foi quebrado em momentos decisivos em apoio ao objetivo maior.
A desmoralização e demonização da política vêm desde o início da Ação Penal 470, conhecida como “mensalão”, em 2006. É público que Joaquim Barbosa escondeu provas e evidências que mudariam o rumo do julgamento. Inúmeros juristas denunciaram as ilegalidades desse processo. Suas vozes não foram, contudo, ouvidas. Sucumbiram, sob intenso apoio, e aliança, dos meios de comunicação aos desmandos do Supremo Tribunal Federal, Os mesmos jornais, canais de televisão, rádios e revistas que hoje se espantam com a aberração que gestaram.
Mal sabíamos que as artimanhas do STF visavam tornar inelegível a maior liderança popular do país. E assim fizeram. Condenaram Luiz Inácio Lula da Silva sem provas de que o apartamento de classe média no Guarujá fosse seu. O futuro ministro do STF, Sérgio Fernando Moro, o condenou por uma matéria de jornal e uma delação de criminosos que declarariam o que fosse preciso para se verem livres da prisão. O Tribunal Regional Federal da Quarta Região confirmou, em tempo recorde, a condenação. O Supremo Tribunal Federal autorizou sua prisão, antes de terminadas as possibilidades de apelação do ex-presidente. E o Tribunal Superior Eleitoral o tronou inelegível.
O bloco no poder tentou viabilizar outros nomes “novos” na política. Não teve êxito. Não conseguiram se unir em torno de um nome. Todos os balões de ensaio foram bombardeados por frações do poder, quando não pela simples falta de apelo popular. Afinal, a farsa de que teriam sido escolhidos pelo povo em voto livre precisava prevalecer.
O Brasil de 2014 tinha o menor desemprego da história recente do país, tinha o maior salário-mínimo desde 1964 e tinha saído do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas. A incerteza política gerada pelos inconformados com o resultado da eleição, o contágio de uma débil economia mundial e erros cometidos pelo governo de Dilma Rousseff redirecionaram a economia brasileira, desde 2015 até hoje, para a recessão e o desemprego.
Em meio a esta grave crise, o país levou ao poder executivo um grupo que promete aprofundar o corte de gastos públicos, a retirada de direitos, as privatizações e a abertura aos produtos estrangeiros. Um conjunto de ações que, diminuindo o consumo e o investimento, debilitará, ainda um pouco mais, a economia do país.
A retirada de direitos sociais e a autorização para que as forças da repressão policial matem quem julgar adequado tornaram nossa sociedade ainda mais insegura. Tememos pelos mais pobres e por todos aqueles que precisam da proteção do Estado.
Os Jornalistas Livres, formado exclusivamente por voluntários, nascemos em 2015 para mostrar o que era invisível para os meios de comunicação hegemônicos. Denunciamos inúmeras falcatruas e mentiras, com frequência beneficiadas ou mesmo veiculadas pelos próprios meios de comunicação. Denunciamos perseguições, violências e mortes de pobres, de pretos, de índios, de sem terras, de gays, de trans. Ajudamos alguns a verem com clareza a luta pelo poder que se desenrolava.
Gritamos “não vai ter golpe, vai ter luta”. Teve golpe e não teve luta. Gritamos “Marielle, presente”. Ela está morta e seus algozes livres. Bradamos “Mestre Moa vive”. E ele está morto. Bradamos “machistas, fascistas, não passarão”. E eles passaram. Clamamos “ele não”. E as urnas disseram “ele sim”. Clamamos “Lula livre”. E ele está preso e “apodrecerá na cadeia” a prevalecer o desejo do presidente ontem eleito.
Junto com o povo brasileiro mais sofrido, nós perdemos esta batalha. Estamos de luto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: