Por Rodrigo Martins, na revista CartaCapital:
As pedras portuguesas da calçada do Largo do Arouche, no Centro de São Paulo, amanheceram tingidas de sangue na terça-feira, 16. Identificada apenas como “Priscila”, a travesti havia sido esfaqueada durante a madrugada. Após ser atacada em um bar, ela cambaleou até a porta de um hotel, onde implorou por socorro.
Levada para a Santa Casa, não resistiu à hemorragia e morreu a caminho do hospital. Um crime lamentavelmente comum nessa região da cidade, não fosse pelas circunstâncias políticas. Moradores relatam ter ouvido a gritaria que precedeu o crime.
“Com Bolsonaro presidente, a caça aos veados vai ser legalizada”, teria dito um dos agressores, segundo o relato de diferentes testemunhas ouvidas pela mídia na condição de anonimato.
Investigado pelo 3º Distrito Policial da capital paulista, o crime soma-se a dezenas de ataques violentos atribuídos a apoiadores do presidenciável do PSL. Às vésperas do primeiro turno, a transexual Jullyana Barbosa foi espancada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Ex-vocalista do grupo Furacão 2000, ela caminhava por uma passarela sobre a Via Dutra quando ambulantes começaram a gritar: “Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer”.
Bastou confrontá-los para começarem as agressões. “Perguntei por que eles me chamaram de lixo e disse que mereço respeito. Foi aí que um deles pegou a barra de ferro numa barraca e começou a me agredir. Na primeira pancada eu fiquei tonta e caí. Logo depois vieram mais três, quatro homens dando socos e chutes”, disse ao jornal O Dia.
Desde o início do ano, a onda de intolerância não para de crescer. Do atentado a tiros contra a caravana de Lula ao esfaqueamento de Bolsonaro por um desequilibrado, foram registradas dezenas de crimes por motivação política no País, boa parte deles ainda não esclarecida pelas autoridades.
Com o tsunami eleitoral bolsonarista, a violência política ganhou proporções aterradoras. Na noite de 7 de outubro, horas após o capitão conquistar mais de 49,2 milhões de votos, a funcionária pública Paula Guerra, de 37 anos, foi surrada em um bar do Recife.
Enquanto uma mulher a agredia, outros três homens imobilizaram os garçons para impedir que eles prestassem socorro. Com hematomas no rosto e escoriações pelo corpo, ela fraturou o braço e foi submetida a uma cirurgia. O motivo da fúria? A servidora havia criticado Bolsonaro, além de usar buttons com os dizeres “ele não” e “lute como uma garota”.
Na mesma noite, pela madrugada, o compositor e mestre capoeirista Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi assassinado em Salvador. Em um bar, o autor de Badauê, música gravada por Caetano Veloso, havia declarado voto no petista Fernando Haddad.
Eleitor de Bolsonaro, o barbeiro Paulo Sérgio Santana, de 36 anos, iniciou uma discussão, antes de sair do local, buscar uma faca e voltar para atacar Moa, de 63 anos. Foram 12 golpes, todos pelas costas. Concluído na quarta 17, o inquérito policial confirmou que o crime fora motivado por divergência política.
Sepultado ao som de berimbaus, Mestre Moa foi homenageado por milhares de cidadãos na última terça-feira 16 no Largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Vestidos de branco, capoeiristas e ativistas do Movimento Negro participaram do ato, embalado pelos grupos Ilê Aiyê, Olodum e Filhos de Gandhy, após a tradicional missa celebrada às terças na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Termômetro da escalada de intolerância, um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV identificou mais de 2,7 milhões de publicações no Twitter repercutindo notícias sobre agressões físicas e ameaças por divergências político-ideológicas em apenas quatro dias, logo após o primeiro turno. Nos 30 dias que antecederam a votação, o total de tuítes relacionados ao mesmo tema foi de 1,1 milhão.
Diante da multiplicação de casos, a Open Knowledge Brasil e a Agência Pública lançaram a plataforma #VítimasDaIntolerância para recepcionar denúncias de agressões físicas e ameaças durante o período eleitoral.
Nenhum dado pessoal é solicitado, apenas links para fontes confiáveis. São igualmente aceitos relatos divulgados em redes sociais, que são mantidos em um banco de dados separado para posterior checagem da veracidade.
Outra iniciativa é um mapeamento feito pelo site Opera Mundi, em parceria com o Observatório do Autoritarismo e ativistas do movimento LGBT. “Até a noite da terça-feira 16, havia mais de 100 denúncias checadas.
A relação inclui somente casos noticiados pela mídia e relatos em redes sociais que pudemos confirmar por meio de registros fotográficos, vídeos ou com apuração própria”, explica o jornalista Haroldo Ceravolo, responsável pela iniciativa.
De acordo com ele, oito em cada dez ataques conferidos foram cometidos por apoiadores de Bolsonaro. “Não há dúvida de que essa violência tem lado. Além disso, as vítimas preferenciais são mulheres, negros e LGBTs, populações que sempre foram alvo do discurso de ódio do presidenciável do PSL.”
Preocupada com a onda de violência, a ONG Conectas tem procurado as autoridades para cobrar uma resposta do Estado. “A Defensoria Pública de São Paulo aceitou criar um canal online para acolher denúncias. Em paralelo, tivemos uma reunião com o Comando-Geral da Polícia Militar para pedir uma ação preventiva. Da mesma forma, estamos em contato com a Procuradoria-Geral de Justiça, cobrando a responsabilização dos agressores”, afirma o advogado Rafael Custódio, coordenador do programa de Justiça da Conectas.
“Lamentavelmente, Bolsonaro tem um longo histórico de manifestações homofóbicas, racistas e misóginas. Parte de seus eleitores parece se sentir encorajada com esse discurso para agredir, ameaçar e insultar. Liberdade de expressão tem limite, e esse limite é ultrapassado quando você comete um crime.”
O êxito eleitoral do capitão também parece ter encorajado grupos neonazistas a sair do armário. Nos últimos dias, diversas universidades públicas e privadas foram alvo de pichações com mensagens de ódio contra minorias.
Na segunda-feira 8, ao descer de um ônibus em Porto Alegre, uma jovem de 19 anos foi agredida por três homens, que usaram um canivete para desenhar uma suástica em seu dorso. A vítima usava uma mochila com as cores do movimento LGBT.
Na quinta-feira 11, o banheiro de um curso pré-vestibular da capital paulista foi vandalizado, com uma pichação a pregar a “morte aos negros, gays e lésbicas”. No domingo 14, uma capela de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio de Janeiro, amanheceu com suásticas na fachada.
No mesmo dia, durante um ato de apoiadores de Bolsonaro, uma bandeira usada por supremacistas brancos dos EUA foi hasteada na Avenida Paulista, em São Paulo. Diante desse histórico, não surpreende a manifestação de apreço de um ex-líder da Ku Klux Klan.
“Ele [Bolsonaro] soa como nós”, disse em seu programa de rádio David Duke, um dos rostos mais conhecidos da organização que aterroriza a população negra americana desde o século XIX.
Inicialmente, Bolsonaro tentou lavar as mãos. Lamentou os “excessos” de apoiadores, mas disse não ter como os controlar. “O que eu tenho a ver com isso?”, chegou a dizer, ao ser indagado sobre a morte do mestre de capoeira.
Depois, o presidenciável do PSL afirmou dispensar o voto de quem pratica violência. Não sem antes acusar, sem provas, a existência de “um movimento orquestrado forjando agressões para prejudicar sua campanha”.
Foram os bolsonaristas, no entanto, que foram pegos na mentira. Nas redes sociais, alastrou-se a imagem de uma senhora com hematomas no rosto que, segundo a postagem, teria sido agredida por petistas “quando gritou Bolsonaro”.
A foto era da atriz Beatriz Segall, falecida em setembro. Os sinais eram decorrentes de um acidente do qual foi vítima há anos, quando tropeçou em uma calçada no Rio. O filho da artista, Sergio Segall repudiou a fraude. “Foi um ato de covardia”, resumiu.
O acirramento das tensões políticas é especialmente preocupante diante da promessa de Bolsonaro de facilitar o porte de armas no Brasil, alerta Renato Sérgio de Lima, professor da FGV e presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Cerca de um terço dos homicídios no País ocorre por razões pessoais, como brigas domésticas e discussões no trânsito. Com as pessoas armadas, é grande a probabilidade de esses conflitos serem resolvidos na bala.”
Pesquisador do Ipea, Daniel Cerqueira é autor de numerosos estudos que comprovam a temeridade da proposta. Cada ponto porcentual de aumento da quantidade de armas em circulação nas ruas representa um crescimento de 2% nas taxas de homicídios.
Com 63.880 mortes violentas registradas em 2017, o Brasil poderia ter um número de assassinatos ainda maior, até 12% superior, caso não estivesse em vigor o Estatuto do Desarmamento.
“A maior disponibilidade de armas de fogo faz diminuir o seu preço no mercado ilegal, permitindo o acesso da mesma ao criminoso desorganizado. Segundo a CPI das Armas no Rio, quase 18 mil armas foram extraviadas ou roubadas de empresas de segurança privada em dez anos. Além disso, as chances de um indivíduo armado sofrer homicídio, ao ser abordado por criminosos, é 56% maior”, afirma Cerqueira. “Não há qualquer evidência científica de que possuir um revólver aumenta a segurança da família. Ao contrário, as chances de você ser vítima de homicídio ou de praticar suicídio são cinco vezes maiores. A cada ano morrem 1,3 mil crianças nos EUA em acidentes com armas de fogo.”
Segundo Lima, os brasileiros ainda não perceberam que as propostas de Bolsonaro acenam para uma omissão ainda maior do governo federal na área. “Em vez de assumir parte da responsabilidade, ele incentiva a população a se armar e garantir a própria defesa. Só que uma pistola custa entre 5 mil e 10 mil reais, valor inacessível para a grande maioria. Até aqui, ele só se dispôs a investir nas Forças Armadas, para reforçar o patrulhamento das fronteiras. Para as polícias, a única promessa é dar carta-branca para matar em serviço, sem punições”, diz. “Em um país com níveis epidêmicos de violência, é a receita certa para uma tragédia ainda maior.”
Levada para a Santa Casa, não resistiu à hemorragia e morreu a caminho do hospital. Um crime lamentavelmente comum nessa região da cidade, não fosse pelas circunstâncias políticas. Moradores relatam ter ouvido a gritaria que precedeu o crime.
“Com Bolsonaro presidente, a caça aos veados vai ser legalizada”, teria dito um dos agressores, segundo o relato de diferentes testemunhas ouvidas pela mídia na condição de anonimato.
Investigado pelo 3º Distrito Policial da capital paulista, o crime soma-se a dezenas de ataques violentos atribuídos a apoiadores do presidenciável do PSL. Às vésperas do primeiro turno, a transexual Jullyana Barbosa foi espancada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Ex-vocalista do grupo Furacão 2000, ela caminhava por uma passarela sobre a Via Dutra quando ambulantes começaram a gritar: “Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer”.
Bastou confrontá-los para começarem as agressões. “Perguntei por que eles me chamaram de lixo e disse que mereço respeito. Foi aí que um deles pegou a barra de ferro numa barraca e começou a me agredir. Na primeira pancada eu fiquei tonta e caí. Logo depois vieram mais três, quatro homens dando socos e chutes”, disse ao jornal O Dia.
Desde o início do ano, a onda de intolerância não para de crescer. Do atentado a tiros contra a caravana de Lula ao esfaqueamento de Bolsonaro por um desequilibrado, foram registradas dezenas de crimes por motivação política no País, boa parte deles ainda não esclarecida pelas autoridades.
Com o tsunami eleitoral bolsonarista, a violência política ganhou proporções aterradoras. Na noite de 7 de outubro, horas após o capitão conquistar mais de 49,2 milhões de votos, a funcionária pública Paula Guerra, de 37 anos, foi surrada em um bar do Recife.
Enquanto uma mulher a agredia, outros três homens imobilizaram os garçons para impedir que eles prestassem socorro. Com hematomas no rosto e escoriações pelo corpo, ela fraturou o braço e foi submetida a uma cirurgia. O motivo da fúria? A servidora havia criticado Bolsonaro, além de usar buttons com os dizeres “ele não” e “lute como uma garota”.
Na mesma noite, pela madrugada, o compositor e mestre capoeirista Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi assassinado em Salvador. Em um bar, o autor de Badauê, música gravada por Caetano Veloso, havia declarado voto no petista Fernando Haddad.
Eleitor de Bolsonaro, o barbeiro Paulo Sérgio Santana, de 36 anos, iniciou uma discussão, antes de sair do local, buscar uma faca e voltar para atacar Moa, de 63 anos. Foram 12 golpes, todos pelas costas. Concluído na quarta 17, o inquérito policial confirmou que o crime fora motivado por divergência política.
Sepultado ao som de berimbaus, Mestre Moa foi homenageado por milhares de cidadãos na última terça-feira 16 no Largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Vestidos de branco, capoeiristas e ativistas do Movimento Negro participaram do ato, embalado pelos grupos Ilê Aiyê, Olodum e Filhos de Gandhy, após a tradicional missa celebrada às terças na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Termômetro da escalada de intolerância, um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV identificou mais de 2,7 milhões de publicações no Twitter repercutindo notícias sobre agressões físicas e ameaças por divergências político-ideológicas em apenas quatro dias, logo após o primeiro turno. Nos 30 dias que antecederam a votação, o total de tuítes relacionados ao mesmo tema foi de 1,1 milhão.
Diante da multiplicação de casos, a Open Knowledge Brasil e a Agência Pública lançaram a plataforma #VítimasDaIntolerância para recepcionar denúncias de agressões físicas e ameaças durante o período eleitoral.
Nenhum dado pessoal é solicitado, apenas links para fontes confiáveis. São igualmente aceitos relatos divulgados em redes sociais, que são mantidos em um banco de dados separado para posterior checagem da veracidade.
Outra iniciativa é um mapeamento feito pelo site Opera Mundi, em parceria com o Observatório do Autoritarismo e ativistas do movimento LGBT. “Até a noite da terça-feira 16, havia mais de 100 denúncias checadas.
A relação inclui somente casos noticiados pela mídia e relatos em redes sociais que pudemos confirmar por meio de registros fotográficos, vídeos ou com apuração própria”, explica o jornalista Haroldo Ceravolo, responsável pela iniciativa.
De acordo com ele, oito em cada dez ataques conferidos foram cometidos por apoiadores de Bolsonaro. “Não há dúvida de que essa violência tem lado. Além disso, as vítimas preferenciais são mulheres, negros e LGBTs, populações que sempre foram alvo do discurso de ódio do presidenciável do PSL.”
Preocupada com a onda de violência, a ONG Conectas tem procurado as autoridades para cobrar uma resposta do Estado. “A Defensoria Pública de São Paulo aceitou criar um canal online para acolher denúncias. Em paralelo, tivemos uma reunião com o Comando-Geral da Polícia Militar para pedir uma ação preventiva. Da mesma forma, estamos em contato com a Procuradoria-Geral de Justiça, cobrando a responsabilização dos agressores”, afirma o advogado Rafael Custódio, coordenador do programa de Justiça da Conectas.
“Lamentavelmente, Bolsonaro tem um longo histórico de manifestações homofóbicas, racistas e misóginas. Parte de seus eleitores parece se sentir encorajada com esse discurso para agredir, ameaçar e insultar. Liberdade de expressão tem limite, e esse limite é ultrapassado quando você comete um crime.”
O êxito eleitoral do capitão também parece ter encorajado grupos neonazistas a sair do armário. Nos últimos dias, diversas universidades públicas e privadas foram alvo de pichações com mensagens de ódio contra minorias.
Na segunda-feira 8, ao descer de um ônibus em Porto Alegre, uma jovem de 19 anos foi agredida por três homens, que usaram um canivete para desenhar uma suástica em seu dorso. A vítima usava uma mochila com as cores do movimento LGBT.
Na quinta-feira 11, o banheiro de um curso pré-vestibular da capital paulista foi vandalizado, com uma pichação a pregar a “morte aos negros, gays e lésbicas”. No domingo 14, uma capela de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio de Janeiro, amanheceu com suásticas na fachada.
No mesmo dia, durante um ato de apoiadores de Bolsonaro, uma bandeira usada por supremacistas brancos dos EUA foi hasteada na Avenida Paulista, em São Paulo. Diante desse histórico, não surpreende a manifestação de apreço de um ex-líder da Ku Klux Klan.
“Ele [Bolsonaro] soa como nós”, disse em seu programa de rádio David Duke, um dos rostos mais conhecidos da organização que aterroriza a população negra americana desde o século XIX.
Inicialmente, Bolsonaro tentou lavar as mãos. Lamentou os “excessos” de apoiadores, mas disse não ter como os controlar. “O que eu tenho a ver com isso?”, chegou a dizer, ao ser indagado sobre a morte do mestre de capoeira.
Depois, o presidenciável do PSL afirmou dispensar o voto de quem pratica violência. Não sem antes acusar, sem provas, a existência de “um movimento orquestrado forjando agressões para prejudicar sua campanha”.
Foram os bolsonaristas, no entanto, que foram pegos na mentira. Nas redes sociais, alastrou-se a imagem de uma senhora com hematomas no rosto que, segundo a postagem, teria sido agredida por petistas “quando gritou Bolsonaro”.
A foto era da atriz Beatriz Segall, falecida em setembro. Os sinais eram decorrentes de um acidente do qual foi vítima há anos, quando tropeçou em uma calçada no Rio. O filho da artista, Sergio Segall repudiou a fraude. “Foi um ato de covardia”, resumiu.
O acirramento das tensões políticas é especialmente preocupante diante da promessa de Bolsonaro de facilitar o porte de armas no Brasil, alerta Renato Sérgio de Lima, professor da FGV e presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Cerca de um terço dos homicídios no País ocorre por razões pessoais, como brigas domésticas e discussões no trânsito. Com as pessoas armadas, é grande a probabilidade de esses conflitos serem resolvidos na bala.”
Pesquisador do Ipea, Daniel Cerqueira é autor de numerosos estudos que comprovam a temeridade da proposta. Cada ponto porcentual de aumento da quantidade de armas em circulação nas ruas representa um crescimento de 2% nas taxas de homicídios.
Com 63.880 mortes violentas registradas em 2017, o Brasil poderia ter um número de assassinatos ainda maior, até 12% superior, caso não estivesse em vigor o Estatuto do Desarmamento.
“A maior disponibilidade de armas de fogo faz diminuir o seu preço no mercado ilegal, permitindo o acesso da mesma ao criminoso desorganizado. Segundo a CPI das Armas no Rio, quase 18 mil armas foram extraviadas ou roubadas de empresas de segurança privada em dez anos. Além disso, as chances de um indivíduo armado sofrer homicídio, ao ser abordado por criminosos, é 56% maior”, afirma Cerqueira. “Não há qualquer evidência científica de que possuir um revólver aumenta a segurança da família. Ao contrário, as chances de você ser vítima de homicídio ou de praticar suicídio são cinco vezes maiores. A cada ano morrem 1,3 mil crianças nos EUA em acidentes com armas de fogo.”
Segundo Lima, os brasileiros ainda não perceberam que as propostas de Bolsonaro acenam para uma omissão ainda maior do governo federal na área. “Em vez de assumir parte da responsabilidade, ele incentiva a população a se armar e garantir a própria defesa. Só que uma pistola custa entre 5 mil e 10 mil reais, valor inacessível para a grande maioria. Até aqui, ele só se dispôs a investir nas Forças Armadas, para reforçar o patrulhamento das fronteiras. Para as polícias, a única promessa é dar carta-branca para matar em serviço, sem punições”, diz. “Em um país com níveis epidêmicos de violência, é a receita certa para uma tragédia ainda maior.”
Se você é mulher, cristão, negro e quer paz, veja este vídeo antes de votar amanhã
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/mauro.nadvorny/videos/10215557644868116/
https://www.youtube.com/watch?v=QHvN63pV2p8