segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Até agora, novo governo só faz ameaças

Por Ricardo Kotscho, em seu blog:

Por mais que eu queira, é impossível mudar de assunto.

Nem eu aguento mais escrever sobre esse escalafobético governo de transição, em transe permanente, mas a cada dia surgem novas ameaças no horizonte, em vez de projetos para melhorar o país.

Sem ter apresentado até agora um programa econômico concreto e factível, com números, prazos e metas, como faz qualquer governo novo, a equipe de Bolsonaro prefere fazer ameaças no varejo a torto e a direito (mais torto do que direito).

A novidade do dia vem de Osmar Terra, ministro da Cidadania, Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social.

Com tantos setores da sociedade sob o seu comando, qual o primeiro projeto apresentado pelo novo ministro?

“Osmar Terra propõe limite para venda de bebidas alcoólicas”: esta é a manchete que está agora no portal do Globo.

Sim, é isso mesmo. É dessa forma que ele pretende combater a violência no país, em parceria com o superministro da Justiça, xerife Sergio Moro.

Lei Seca no Brasil é o que falta para reduzir os mais de 60 mil assassinatos por ano, um recorde mundial?

Ou poderá acontecer exatamente o contrário, como já vimos em experiências anteriores?

Não custa lembrar que no início do século passado foi graças à Lei Seca que um certo Al Capone construiu sua imensa fortuna nos Estados Unidos, justamente na terra dos Chicago Boys de Paulo Guedes.

E de onde ele tirou essa brilhante ideia?

“Antes de sair do governo Temer (boa referência…), fui à Islândia conhecer o programa de juventude que mais reduziu o consumo de drogas na Europa. Não deixam expor bebidas alcoólicas em nenhum lugar, têm um toque de recolher. Depois das 22h, jovens com menos de 18 anos não podem andar sozinhos na rua. Claro que é uma realidade bem diferente”, explicou Terra ao repórter do Globo.

Beleza. Ainda bem que ele fez a ressalva no final e lembrou que a Islândia é um país de 500 mil habitantes, menor do que o bairro onde moro em São Paulo.

Também pensando certamente em combater a violência juvenil, Paulo Guedes, o superministro da Economia, que se formou em Chicago, ameaçou “meter a faca” para cortar 30% dos recursos do Sistema S (Sesi, Sesc, Senai e Senac), em discurso a empresários, esta semana, na Federação das Indústrias do Rio.

Falando em tom de galhofa, o poderoso “Posto Ipiranga” de Bolsonaro não se deu conta de que este corte significaria o fechamento de 1,1 milhão de vagas em cursos profissionalizantes, só do Senai, em 162 escolas do sistema, segundo levantamento feito pela Folha.

Como lembrou Reinaldo Azevedo em sua coluna desta sexta-feira na Folha, o Sesi teria que fechar 468 mil vagas do ensino básico e de educação para jovens e adultos.

Esta insanidade atingiria também o Sesc de São Paulo, o maior polo cultural do país, que no ano passado investiu o equivalente a dois terços da despesa do Ministério da Cultura, agora extinto.

Guedes já tinha feito também ameaças, na mesma linha do deixa que eu chuto, ao Congresso e aos governadores eleitos, para aprovarem rapidamente a reforma da Previdência.

O que se está montando não é um novo governo, mas uma verdadeira bomba-relógio.

Desde o começo desta história, tenho comentado que, perto do explosivo banqueiro Paulo Guedes, Jair Bolsonaro é um ex-militar até moderado.

Por isso, não me surpreendeu o título dado por Azevedo à sua coluna: “Que Bolsonaro modernize Guedes”.

Eu sei, o mercado esperava exatamente o contrário…

Bolsonaro poderia agora também incluir na lista outros ministros como Osmar Terra, com suas soluções modernizadoras do século passado, que não deram muito certo em lugar nenhum.

Desse jeito, aquela pinguela “ponte para o futuro” do golpista fracassado Michel Temer vai dar direto numa via expressa rumo ao caos.

E querem que eu mude de assunto? Como?

Sem esquecer que o principal fato político do dia hoje é o depoimento do PM motorista Fabrício Queiroz, para explicar o funcionamento do seu movimentado caixa eletrônico particular.

Será que dessa vez ele vai aparecer?

Querem que eu fale do quê? Do calor infernal e do Natal que está chegando?

Tudo bem: Boas Festas para todos, feliz Papai Noel!

Vida que segue.

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