Por Cezar Britto, no site Congresso em Foco:
Tenho no mês de dezembro o lapso temporal mais paradoxal do calendário. E não estou aqui narrando das coisas do horóscopo ou das múltiplas complexidades das pessoas nascidas em sagitário ou capricórnio. Tampouco filosofando sobre o fracassado movimento dezembrista que, no distante 26 de dezembro de 1825, reunindo militares e a alta nobreza russa, queria impedir a posse do futuro czar Nicolau I, conhecido por sua crueldade.
Acho-o paradoxal por ser, simultaneamente, o fim de um ciclo, a promessa de recomeço ou a mistura de tudo, assim poetizada por Érico Veríssimo (17/12/1905): “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”.
Dezembro é agitação para tudo se concluir, limpar armários, arrumar a casa e não deixar ponta sobrando para o ano seguinte, mas também o início da calmaria das férias do trabalho, do recesso escolar e da parada do Poder Judiciário.
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É dinheiro extra adquirido pelo “jabuticaba décimo terceiro”, na mesma proporção em que se aumentam os gastos com os presentes natalinos, os nada ocultos amigos secretos, as viagens de descansos familiares, os impostos marcados para nascer em janeiro, os materiais escolares nada educados nos preços e as dívidas anualmente cobradas pelos credores impacientes. É o penar de final de ano que, como Luiz Gonzaga (13/12/1912), poderia dizer “Só trazia a coragem e a cara, viajando num pau-de-arara, eu penei, mas aqui cheguei”.
Talvez por isso tenha sido o mês escolhido pelo igualitarista Jesus Cristo para nascer ou fazer brilhar o popstar vermelhinho Papai Noel. Mas também as ousadias de Beethoven (17/12/1770), Camille Claudel (08/12/1864), Cândido Portinari (29/12/1903), Carlos Marighella (05/12/191), Cláudio Villas-Bôas (08/12/1916), Diego Rivera (08/12/1886), Dolores Ibárruri (08/12/1895), Errico Malatesta (14/12/1853), Fausto Cardoso (22/12/1864), Florbela Espanca (08/12/1894), George Santayana (16/12/1863), Gustave Flaubert (12/12/1821), Jeanne Derion (31/12/1805), Jim Morrison (08/12/1943), Mao Tsé-Tung (26/12/1893), Miguel Arraes (15/12/1916), Miguel Costa (03/12/1885), Olavo Bilac (16/12/1865), Oscar Niemeyer (15/12/1907), Osho (11/12/1931) e Steve Bantu Biko (18/12/1946). Afinal, o mês de dezembro é tão plural que, observando-o atentamente, diríamos, bem fez Ulysses Guimarães (06/12/1916): “Olha de novo: não existem brancos, não existem amarelos, não existem negros: somos todos arco-íris”.
E o que tem o título desta crônica com tudo isso? Devo esclarecer, antes que me lembrem de Noel Rosa (11/12/1910) e perguntem “Quem é você que não sabe o que diz?”. É que o mês de dezembro de 2018 traz como marco final o ocaso do governo plantonista de Michel Temer.
Alçado ao poder por um golpe parlamentar, o respeitado constituinte do ontem deixará como legado no hoje a suspensão da própria Constituição Federal por vinte anos (EC 95/2016), a inconstitucional intervenção militar no Rio de Janeiro, a venda do patrimônio nacional ao capital internacional, a tentativa de fazer retornar os navios negreiros (Portaria 1129/2017-MTE) e o maior ataque ao princípio da dignidade da pessoa humana quando, revogando o papel social do trabalho, transformou a CLT na Consolidação das Lesões Trabalhistas. Uma frase lapidar de Anita Malfati (02/12/1889) representaria este tempo: “Os objetos se acusam só quando saem da sombra, isto é, quando envolvidos na luz”.
As páginas dezembristas de 2018 anotarão capítulos escritos pelas tintas da divisão entre os quereres e sonhares dos brasileiros e das brasileiras e os combates entre as mais variadas colorações. Notarão que máscaras civilizatórias caíram no revelar de rostos que expressavam ódios, preconceitos, misoginia, racismo e homofobia, da mesma forma que, em contraposição, registrarão que milhões de faces destemidas exibiram a humanidade refletida em seus corações.
Olharemos este tempo e nos lembraremos de Clarice Lispector (10/12/1920): “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar”.
Assim como ocorrera com o czar Nicolau I, o governante brasileiro entrará para a História como o mais impopular de todos os tempos, ainda mais quando, impulsionado pelas panelas e patos verdes-amarelos que diziam odiar a corrupção, envolveu-se em casos policiais que poderão resultar no aprisionamento de grande parte de sua alta cúpula.
Não sem razão, portanto, a escolha do ocaso como símbolo do tempo que findará no dia 31 de dezembro de 2018, até porque, como o sol que se esconde diariamente no poente da vida, sabemos todas e todos que a esperança nunca se cansa de renascer. E quando ela ressurgir no horizonte persistente do tempo, como ensinou Câmara Cascudo (30/12/1898), concluiremos que: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”.
Acho-o paradoxal por ser, simultaneamente, o fim de um ciclo, a promessa de recomeço ou a mistura de tudo, assim poetizada por Érico Veríssimo (17/12/1905): “Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”.
Dezembro é agitação para tudo se concluir, limpar armários, arrumar a casa e não deixar ponta sobrando para o ano seguinte, mas também o início da calmaria das férias do trabalho, do recesso escolar e da parada do Poder Judiciário.
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É dinheiro extra adquirido pelo “jabuticaba décimo terceiro”, na mesma proporção em que se aumentam os gastos com os presentes natalinos, os nada ocultos amigos secretos, as viagens de descansos familiares, os impostos marcados para nascer em janeiro, os materiais escolares nada educados nos preços e as dívidas anualmente cobradas pelos credores impacientes. É o penar de final de ano que, como Luiz Gonzaga (13/12/1912), poderia dizer “Só trazia a coragem e a cara, viajando num pau-de-arara, eu penei, mas aqui cheguei”.
Talvez por isso tenha sido o mês escolhido pelo igualitarista Jesus Cristo para nascer ou fazer brilhar o popstar vermelhinho Papai Noel. Mas também as ousadias de Beethoven (17/12/1770), Camille Claudel (08/12/1864), Cândido Portinari (29/12/1903), Carlos Marighella (05/12/191), Cláudio Villas-Bôas (08/12/1916), Diego Rivera (08/12/1886), Dolores Ibárruri (08/12/1895), Errico Malatesta (14/12/1853), Fausto Cardoso (22/12/1864), Florbela Espanca (08/12/1894), George Santayana (16/12/1863), Gustave Flaubert (12/12/1821), Jeanne Derion (31/12/1805), Jim Morrison (08/12/1943), Mao Tsé-Tung (26/12/1893), Miguel Arraes (15/12/1916), Miguel Costa (03/12/1885), Olavo Bilac (16/12/1865), Oscar Niemeyer (15/12/1907), Osho (11/12/1931) e Steve Bantu Biko (18/12/1946). Afinal, o mês de dezembro é tão plural que, observando-o atentamente, diríamos, bem fez Ulysses Guimarães (06/12/1916): “Olha de novo: não existem brancos, não existem amarelos, não existem negros: somos todos arco-íris”.
E o que tem o título desta crônica com tudo isso? Devo esclarecer, antes que me lembrem de Noel Rosa (11/12/1910) e perguntem “Quem é você que não sabe o que diz?”. É que o mês de dezembro de 2018 traz como marco final o ocaso do governo plantonista de Michel Temer.
Alçado ao poder por um golpe parlamentar, o respeitado constituinte do ontem deixará como legado no hoje a suspensão da própria Constituição Federal por vinte anos (EC 95/2016), a inconstitucional intervenção militar no Rio de Janeiro, a venda do patrimônio nacional ao capital internacional, a tentativa de fazer retornar os navios negreiros (Portaria 1129/2017-MTE) e o maior ataque ao princípio da dignidade da pessoa humana quando, revogando o papel social do trabalho, transformou a CLT na Consolidação das Lesões Trabalhistas. Uma frase lapidar de Anita Malfati (02/12/1889) representaria este tempo: “Os objetos se acusam só quando saem da sombra, isto é, quando envolvidos na luz”.
As páginas dezembristas de 2018 anotarão capítulos escritos pelas tintas da divisão entre os quereres e sonhares dos brasileiros e das brasileiras e os combates entre as mais variadas colorações. Notarão que máscaras civilizatórias caíram no revelar de rostos que expressavam ódios, preconceitos, misoginia, racismo e homofobia, da mesma forma que, em contraposição, registrarão que milhões de faces destemidas exibiram a humanidade refletida em seus corações.
Olharemos este tempo e nos lembraremos de Clarice Lispector (10/12/1920): “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar”.
Assim como ocorrera com o czar Nicolau I, o governante brasileiro entrará para a História como o mais impopular de todos os tempos, ainda mais quando, impulsionado pelas panelas e patos verdes-amarelos que diziam odiar a corrupção, envolveu-se em casos policiais que poderão resultar no aprisionamento de grande parte de sua alta cúpula.
Não sem razão, portanto, a escolha do ocaso como símbolo do tempo que findará no dia 31 de dezembro de 2018, até porque, como o sol que se esconde diariamente no poente da vida, sabemos todas e todos que a esperança nunca se cansa de renascer. E quando ela ressurgir no horizonte persistente do tempo, como ensinou Câmara Cascudo (30/12/1898), concluiremos que: “O melhor produto do Brasil ainda é o brasileiro”.
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