Já não é mais segredo para ninguém que vivemos em um momento turbulento na política brasileira. Sobram motivos, mas faltam explicações sobre como chegamos até aqui. O fato é que desde a crise mundial de 2008 que atingiu o Brasil com mais força após 2013, somada às manipulações midiáticas e de lideranças infiltradas nos movimentos que levaram às Jornadas de Junho e, ainda, o desencadeamento da operação Lava-Jato e sua espetacularização por parte do judiciário e da imprensa, instalou-se um ambiente de total descredibilização das instituições democráticas e de um completo caos político em nosso país.
Basta observar processos históricos semelhantes para percebermos que esse tipo de conjuntura é terreno fértil para submersão de movimentos políticos oportunistas, que se aproveitam da crise instalada jogando com a desinformação para absorver a indignação marcada na população – já descrente nas estruturas tradicionais que demonstram estar em ruínas – utilizando-as em prol de projetos individuais assentados em planos obscuros de abrangência muito mais elevada. E é sobre isso que queremos falar.
O Movimento Brasil Livre, chamado por sua sigla de MBL, não surgiu para organizar os movimentos de impeachment e oposição ao governo Dilma, mas foi uma ferramenta utilizada para impulsionar figuras e interesses que já tentavam figurar na disputa política brasileira, e tem origens controversas, mas que nos apontam sempre, seja no Brasil ou no exterior, para setores ligados às grandes empresas, corporações e ao mercado financeiro. Alguns desses grupos já se organizam há bastante tempo servindo de base político-financeira para que movimentos influenciem nas disputas políticas de países sub-desenvolvidos, com vistas de ampliar sua dominação geopolítica, sobretudo em regiões com recursos naturais abundantes (sobretudo o petróleo).
Fazendo um retrospecto, temos em alguns anos antes um exemplo claro desse tipo de estratégia com a organização sérvia chamada “Centre for Applied Nonviolent Action and Strategies-CANVAS” (Centro de Aplicação de Ação e Estratégias Não-Violentas), criada a partir de um movimento na Sérvia, chamado OTPOR, que levou à deposição do presidente Milošević nos anos 2000. Essa organização é declaradamente financiada por, entre outras instituições, o “Albert Einsten Institucion”, cujas origens de financiamento são nebulosas, uma ONG que tem como mentor Gene Sharp, escritor do livro: “Da Ditadura à Democracia” publicado em 1994 nos Estados Unidos.
Ambas organizações tem um propósito claro: disseminar ideias e formas de se combater regimes pretensamente autoritários, ou que não cumpram com seus pré-requisitos ideológicos (liberais, diga-se de passagem), por meios não-violentos e de mobilização das massas. Esse tipo de estratégia pode ser enquadrada no que o Professor de Relações Internacionais de Harvard, Joseph Nye, classificou como “soft power”, isto é, determinados estados ou grupos políticos interessados na dominação de outros países se utilizam de formas não violentas (ou brandas) para influenciar na política desses países. E foi daí que surgiram as enormes mobilizações no Oriente Médio na primeira década dos anos 2000, que levaram à enormes crises políticas e derrubadas de governos, apelidada de “Primavera Árabe”, fenômeno que deu ainda mais abertura para entrada dos Estados Unidos em uma das regiões que mais se extrai petróleo no mundo.
Bom, talvez tenhamos ido longe demais, mas esse exemplo é fundamental para distinguirmos essa discussão de qualquer teoria da conspiração irrelevante. Pois vejam, é nessa mesma lógica que funciona uma instituição chamada Atlas Network, que segundo eles tem o objetivo de: “aumentar as oportunidades e a prosperidade ao fortalecer uma rede global de organizações independentes da sociedade civil que promovem a liberdade individual e removem as barreiras ao florescimento humano.”, quando na prática essa organização é vinculada a centenas de institutos liberais e serve justamente para disseminar práticas e ideias relacionadas ao liberalismo econômico.
Mas não para por aí. Para exercer seu trabalho de disseminação de ideias liberais, o Atlas Network conta com financiamentos vultuosos de fundações privadas nos Estados Unidos, entre elas a Fundação John Templeton, cujo nome homenageia seu fundador, um já falecido investidor milionário e fundamentalista religioso, ou a Fundação Earthart, fundada na década de 1930 por um dos donos de uma grande petrolífera estadunidense, a White Star Oil Company, e que também foi responsável pelo financiamento de estudos de alguns dos maiores economistas liberais do século 20, como Hayek e Friedman, ambos a serviço da manutenção do capitalismo cada vez mais predatório. Esses dois exemplos que serviram apenas para ilustrar esse caso, somam cerca de US$ 8 milhões doados, fora todas as outras fundações com relações semelhantes.
Pois bem, voltemos novamente ao nosso querido Brasil, de onde falávamos do controverso Movimento Brasil Livre. Não é segredo pra ninguém que um dos movimentos que deram origem ao MBL foi o Estudantes pela Liberdade (EPL) ligado à versão estrangeira Students for Liberty, que não coincidentemente são parceiras, e portanto financiadas, pelo Atlas Network. Kim Kataguiri, hoje dos expoentes do MBL, também já participava do Estudantes Pela Liberdade, e foi considerado para ser um dos principais líderes do movimento. Em seu relatório de 2014 o Students for Liberty apresenta uma receita de US$ 3,1 milhões de dólares comparados à U$S 35,768 em 2008, ano de sua fundação.
Além desses fundos internacionais, é também notória a participação de grupos de empresários e investidores brasileiros, interessados no reordenamento político de nosso país, no financiamento desses movimentos ligados ao Atlas Network e consequentemente ao MBL, mais explicitamente empresas como a Gerdau e a Havan constam nessa lista.
É claro que o Movimento Brasil Livre criou ferramentas para fazer transparecer uma forma de financiamento colaborativo, com doadores espontâneos e individuais, ou por meio de vendas em uma lojinha virtual. Mas o fato é que em nenhuma hipótese, vendas dos produtos do MBL ou doações individuais seriam suficientes para sustentar toda a cadeia de ações que esse movimento realiza, especialmente no mundo virtual. Os últimos fatos das eleições demonstraram os colossais esquemas ligados à disparo de mensagens virtuais e uso de redes sociais para manipulação da massa com informações falsas, toda essa estrutura demanda uma elevada quantidade de recursos.
Fica claro, portanto, que embora o MBL e os movimentos que orbitam ao seu redor tentem esconder, são em última instância financiados por figuras com um poder financeiro astronômico e que tem interesse nos rumos da geopolítica no mundo, principalmente porque tem interesse na exploração de países subdesenvolvidos em busca de recursos naturais que são fundamentais para manutenção dos lucros das grandes corporações, como já dito aqui, especialmente o petróleo. Há por outro lado os interesses internos, também ligados à grupos de empresários que querem ampliar seus lucros à qualquer custo, mesmo que seja necessário romper as barreiras da democracia e das instituições brasileiras, para que elas possam servir aos seus interesses.
O MBL portanto está bem longe de ser livre, como demonstrado, estando absolutamente atrelado aos interesses de empresários e investidores que, essencialmente, querem manter sua dominação político-econômica global e local e ampliar cada vez mais seus lucros. O avanço dessas estratégias resultaram não só na dominação, por parte dos Estados Unidos e suas maiores corporações, da região do Oriente Médio, como também a contra-ofensiva do neoliberalismo, que no Brasil se caracteriza ainda sob um manto do conservadorismo e fundamentalismo-religioso. Os recentes resultados demonstraram que esse projeto vem se concretizando também na América-Latina, a vitória de Bolsonaro já tem se demonstrado na prática um realinhamento aos Estados Unidos na política externa brasileira e o avanço sob nossas riquezas. Compreender essa cadeia de relações é fundamental para entender como, porquê e a favor de quem esses movimentos agem, do Brasil e do povo brasileiro certamente não é.
Fontes
http://independente.jor.br/mbl-instituto-liberal-e-millenium-compoem-rede-de-think-tanks-dos-eua/
https://apublica.org/2015/06/a-nova-roupa-da-direita/
https://veja.abril.com.br/revista-veja/o-mundo-magico-do-mbl/
https://studentsforliberty.org/wp-content/uploads/2015/06/sfl-annual-report-2015-web.pdf
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/26/politica/1506462642_201383.html
https://www.atlasnetwork.org/about/our-story
http://canvasopedia.org/friends/
Então este movimento é contra o Braswil. Esse deputado é um traidor. Infelizmente temos um força armada (desculpe , força de expressão) que não são tão defensores do Brasil pois temos um Presidente que deu continência a Bandeira dos EU. e ministro das relações exteriores que acha que devemos ser um quintal dos EU, ou melhor devemos ser anexo ao EU. Um porto Rico. Até quando vamos suportar isso.
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