Por Altamiro Borges
Os dois discursos de posse de Jair Bolsonaro – o mais “protocolar”, lido no Congresso Nacional, e o mais “agressivo”, rosnado no Parlatório diante dos seus fanáticos seguidores – continuam gerando celeuma. Se o objetivo das bravatas, típicas de seus tuites, era o de promover o diversionismo e evitar temas mais sensíveis – como o desemprego ou a contrarreforma da Previdência –, o fascistoide obteve sucesso. Até o decadente e oligárquico Estadão, o imprenso que dá o maior apoio ao novo governo entre os principais jornais do país, publicou um editorial duro contra os discursos, o que é bem emblemático. Vale conferir alguns trechos:
*****
Os discursos feitos ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, no Congresso Nacional e no parlatório do Palácio do Planalto, foram atos de campanha, e não atos de governo – como era de esperar de um veterano político que assumia a Presidência da República com promessas de “reconstruir” o Brasil. Bolsonaro repetiu os chavões da campanha, em vez de apontar soluções efetivas para os problemas do País. Insistiu em alguns diagnósticos genéricos, mas nos dois discursos não se vislumbrou ao menos um pálido esboço de plano de governo para enfrentar tais problemas. E, se a preleção no Congresso não deu razões para o otimismo, o segundo discurso de ontem, no parlatório, resvalou num populismo rasteiro – um claro sintoma de que não se deu conta dos desafios que terá de enfrentar nem do real papel que terá de exercer como presidente da República.
No plenário do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro prometeu “governar com vocês”, referindo-se aos parlamentares. Que a promessa seja de fato cumprida, pois cabe ao Congresso aprovar as reformas estruturantes de que o País tanto precisa. Mas o máximo que pôde dizer é que aproveitava o “momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudar na missão de restaurar e reerguer a nossa pátria, libertando-a definitivamente do julgo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”. Não pôde ou não soube propor medidas concretas para sanar os males do País. Ou seja, não disse o que os brasileiros que depositaram suas esperanças no “mito” queriam ouvir.
Mas não lhe faltaram palavras para explorar – para quê? – o atentado que sofreu e que, como disse, foi executado pelos “inimigos da pátria, da ordem e da liberdade”. Na verdade, o crime foi obra de uma única pessoa, como mostram as investigações criminais. Depois, no parlatório, Bolsonaro teve a desfaçatez de dizer que o País estava, naquele momento, se libertando do socialismo e, tirando a bandeira nacional do bolso, num gesto teatral, garantir que aquele símbolo nunca seria manchado de vermelho – exceto o sangue derramado para garantir a pureza da pátria. A que caminhos o presidente pretende levar a Nação, com afirmações tão fora da realidade?
(...)
Além de descer do palanque, o presidente Bolsonaro precisa colocar os pés na realidade. O discurso populista é comprovadamente incapaz de assegurar os bons resultados que o País demanda. O Brasil, já dissemos nesta página, tem esperanças no governo Bolsonaro. Mas cabe a ele, e só a ele, transformar essas esperanças num Brasil próspero e sem divisões.
*****
O Estadão não foi o único a estranhar as fanfarrices da posse. A mídia hegemônica, protagonista do golpe que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer e maior culpada por chocar o ovo da serpente fascista no país, já demonstra preocupação com o futuro do novo governo. A Folha, que hoje é alvo do monstro que ajudou a criar, também criticou a “retórica da posse” em editorial nesta quarta-feira (2). Sem abandonar a sua obsessão doentia contra o ex-presidente Lula, o jornal registrou: “Populista, a exemplo do rival, o novo mandatário precisa de vilões a combater, reais ou imaginários... Os pronunciamentos apelaram ao embate ideológico e, infelizmente, pouco ou nada adiantaram da agenda de governo... De forma consciente ou não, Jair Bolsonaro alimenta a ilusão perigosa de que a redenção depende somente de destronar esquerdistas ou velhos políticos”.
As bravatas do capitão-presidente também repercutiram na imprensa mundial. Quase todos os jornais ironizaram a bizarrice sobre “libertar o Brasil do socialismo”. O britânico The Guardian alfinetou: “Suas palavras encantaram uma multidão de mais de 100 mil pessoas – muitas das quais viajaram à capital modernista convencidas de que o populista de extrema direita pode resgatar o País conturbado da corrupção virulenta, do aumento do crime e da estagnação econômica”. Já o francês Le Monde deu destaque para as promessas do “líder de extrema direita brasileira” de livrar o país das “ideologias nocivas” que “destroem nossas famílias", como as da "teoria do gênero" que abomina, ou "marxismo", que ele acredita detectar nos livros didáticos. E o espanhol El País destacou a ênfase do novo presidente na aliança com Donald Trump, o que seria “uma virada copernicana na política externa brasileira”.
Os dois discursos de posse de Jair Bolsonaro – o mais “protocolar”, lido no Congresso Nacional, e o mais “agressivo”, rosnado no Parlatório diante dos seus fanáticos seguidores – continuam gerando celeuma. Se o objetivo das bravatas, típicas de seus tuites, era o de promover o diversionismo e evitar temas mais sensíveis – como o desemprego ou a contrarreforma da Previdência –, o fascistoide obteve sucesso. Até o decadente e oligárquico Estadão, o imprenso que dá o maior apoio ao novo governo entre os principais jornais do país, publicou um editorial duro contra os discursos, o que é bem emblemático. Vale conferir alguns trechos:
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Os discursos feitos ontem pelo presidente Jair Bolsonaro, no Congresso Nacional e no parlatório do Palácio do Planalto, foram atos de campanha, e não atos de governo – como era de esperar de um veterano político que assumia a Presidência da República com promessas de “reconstruir” o Brasil. Bolsonaro repetiu os chavões da campanha, em vez de apontar soluções efetivas para os problemas do País. Insistiu em alguns diagnósticos genéricos, mas nos dois discursos não se vislumbrou ao menos um pálido esboço de plano de governo para enfrentar tais problemas. E, se a preleção no Congresso não deu razões para o otimismo, o segundo discurso de ontem, no parlatório, resvalou num populismo rasteiro – um claro sintoma de que não se deu conta dos desafios que terá de enfrentar nem do real papel que terá de exercer como presidente da República.
No plenário do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro prometeu “governar com vocês”, referindo-se aos parlamentares. Que a promessa seja de fato cumprida, pois cabe ao Congresso aprovar as reformas estruturantes de que o País tanto precisa. Mas o máximo que pôde dizer é que aproveitava o “momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudar na missão de restaurar e reerguer a nossa pátria, libertando-a definitivamente do julgo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”. Não pôde ou não soube propor medidas concretas para sanar os males do País. Ou seja, não disse o que os brasileiros que depositaram suas esperanças no “mito” queriam ouvir.
Mas não lhe faltaram palavras para explorar – para quê? – o atentado que sofreu e que, como disse, foi executado pelos “inimigos da pátria, da ordem e da liberdade”. Na verdade, o crime foi obra de uma única pessoa, como mostram as investigações criminais. Depois, no parlatório, Bolsonaro teve a desfaçatez de dizer que o País estava, naquele momento, se libertando do socialismo e, tirando a bandeira nacional do bolso, num gesto teatral, garantir que aquele símbolo nunca seria manchado de vermelho – exceto o sangue derramado para garantir a pureza da pátria. A que caminhos o presidente pretende levar a Nação, com afirmações tão fora da realidade?
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Além de descer do palanque, o presidente Bolsonaro precisa colocar os pés na realidade. O discurso populista é comprovadamente incapaz de assegurar os bons resultados que o País demanda. O Brasil, já dissemos nesta página, tem esperanças no governo Bolsonaro. Mas cabe a ele, e só a ele, transformar essas esperanças num Brasil próspero e sem divisões.
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O Estadão não foi o único a estranhar as fanfarrices da posse. A mídia hegemônica, protagonista do golpe que alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer e maior culpada por chocar o ovo da serpente fascista no país, já demonstra preocupação com o futuro do novo governo. A Folha, que hoje é alvo do monstro que ajudou a criar, também criticou a “retórica da posse” em editorial nesta quarta-feira (2). Sem abandonar a sua obsessão doentia contra o ex-presidente Lula, o jornal registrou: “Populista, a exemplo do rival, o novo mandatário precisa de vilões a combater, reais ou imaginários... Os pronunciamentos apelaram ao embate ideológico e, infelizmente, pouco ou nada adiantaram da agenda de governo... De forma consciente ou não, Jair Bolsonaro alimenta a ilusão perigosa de que a redenção depende somente de destronar esquerdistas ou velhos políticos”.
As bravatas do capitão-presidente também repercutiram na imprensa mundial. Quase todos os jornais ironizaram a bizarrice sobre “libertar o Brasil do socialismo”. O britânico The Guardian alfinetou: “Suas palavras encantaram uma multidão de mais de 100 mil pessoas – muitas das quais viajaram à capital modernista convencidas de que o populista de extrema direita pode resgatar o País conturbado da corrupção virulenta, do aumento do crime e da estagnação econômica”. Já o francês Le Monde deu destaque para as promessas do “líder de extrema direita brasileira” de livrar o país das “ideologias nocivas” que “destroem nossas famílias", como as da "teoria do gênero" que abomina, ou "marxismo", que ele acredita detectar nos livros didáticos. E o espanhol El País destacou a ênfase do novo presidente na aliança com Donald Trump, o que seria “uma virada copernicana na política externa brasileira”.
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