Por Altamiro Borges
Segundo o colunista, em troca de “procrastinar por um ano”
uma investigação contra o chefão da Fecomércio, o ministro do TCU passou a
receber mesada de R$ 100 mil entre 2015 e 2016. “A propina era dada diretamente
a Augusto Nardes ou a um intermediário indicado por ele. Sempre em dinheiro
vivo. Assim, Diniz teria conseguido evitar o bloqueio de seus bens”, relata
Lauro Jardim. A notinha corrosiva e minúscula, porém, não deve render muita
munição nos veículos da famiglia Marinho. Isto porque o falso moralista do TCU sempre
manteve promíscuas relações com a RBS, emissora afiliada da Rede Globo no Sul
do país.
A coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo deste domingo (6)
informa que a delação de Orlando Diniz, ex-presidente da Federação do Comércio
do Rio Janeiro, já está no Supremo Tribunal Federal (STF) e deve trazer
detalhes sobre as “propinas e agrados” para Augusto Nardes, ministro do
Tribunal de Contas da União (TCU). Este falso moralista ficou famoso ao inventar
as chamadas “pedaladas fiscais” da presidenta Dilma Rousseff, que serviram de
base para o golpe do impeachment que levou ao poder a quadrilha de Michel Temer
e criou o clima para a ascensão do fascismo e para a eleição de Jair Bolsonaro.
Em 10 de dezembro último, a Folha trouxe uma nova reportagem
sobre essa estranha relação que também caiu no completo esquecimento. Vale
reproduzir alguns trechos da matéria assinada pelo jornalista Fábio Fabrini:
*****
A Receita Federal notificou o ministro Augusto Nardes, do
TCU, e determinou que pague impostos e multa por supostamente receber, sem
recolher tributos, R$ 2,5 milhões – dinheiro que, segundo investigação,
corresponde a uma propina de esquema de corrupção no Carf (Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais).
Conforme a Operação Zelotes, Nardes obteve o dinheiro para
recrutar um grupo de lobistas que comprou decisões do órgão favoráveis à RBS,
conglomerado de comunicação que atua no Sul. Os julgamentos supostamente
fraudados anularam um débito que ultrapassa R$ 1 bilhão em valores atualizados.
Em 2001, a RBS foi autuada pela Receita a pagar R$
258 milhões após a fiscalização apontar que o grupo deixou de recolher tributos
referentes a ganho de capital na compra e venda de participações em empresas. O
recurso do grupo não prosperou, e o caso foi parar no Carf, espécie de
segunda instância da Receita.
Pelo relatório, em 2005, Nardes, então deputado federal
pelo PP gaúcho, foi quem apresentou a RBS à SGR Consultoria,
empresa cujos representantes teriam pago propina a integrantes do conselho.
Em março daquele ano, uma empresa do ministro,
a N&P Planalto Soluções e Negócios, fez um contrato de parceria
com a SGR para prestar consultoria e assessoria à RBS. De acordo
com a investigação, os serviços não foram prestados e o contrato visava dar
fachada legal a pagamentos ilícitos. A RBS ganhou a causa em março de
2011.
Uma planilha apreendida na SGR relaciona
pagamentos em espécie a Nardes, identificado no documento como "tio",
e a Juliano Nardes, seu sobrinho e sócio, entre dezembro de 2011 e
fevereiro de 2012. As datas coincidem com as de cheques descontados pela
empresa em sua conta bancária.
Anotações dos investigados sobre a repartição de R$ 12,7
milhões repassados pelo RBS à SGR também descrevem o
pagamento de R$ 2,5 milhões a "ministro". A investigação sobre o caso
aponta que, após o fim do processo no Carf, em
2011, Nardes passou a receber valores em espécie. O montante
supostamente entregue ao ministro consta de planilha de controle de
pagamentos, e-mails e anotações dos lobistas.
Nardes nega ter recebido os recursos e atuado na compra
de conselheiros, mas confirmou a autuação da Receita. O auto de infração, com o
valor definitivo cobrado do ministro, é sigiloso. Segundo pessoa com acesso ao
caso, um dos cálculos feitos pelos fiscais da Receita apontou, entre impostos,
juros e multa, débito de R$ 1,2 milhão. Para investigadores, a notificação da
Receita significa que o fisco reconhece que o ministro recebeu o dinheiro.
No último dia 30, 14 pessoas, entre empresários,
ex-integrantes do conselho e advogados, foram denunciados por corrupção e lavagem
de dinheiro por supostamente favorecer a RBS no Carf. Nardes não
está entre os acusados, pois tem foro privilegiado e é alvo de um inquérito que
tramita à parte no Supremo. A Procuradoria-Geral da República avalia denúncia
contra ele.
(...)
O ministro do TCU sustenta que apenas indicou a
RBS para a SGR como cliente potencial e que se desligou de sua empresa de
consultoria em maio de 2005, não tratando mais do assunto. Para os
investigadores, sua participação foi mais ampla, tanto que constam
reuniões com ele após o suposto desligamento.
Um e-mail enviado a José Ricardo da Silva, um dos
donos da SGR denunciados pela Procuradoria, por uma de suas funcionárias
registrou reunião com “ministro Augusto Nardes” e representantes do escritório
em 31 de outubro de 2011, dias antes de os supostos pagamentos começarem a ser
feitos. Também constam registros telefonemas de Nardes ao escritório na
época.
Um dos sócios da consultoria, João Batista
Gruginski, fez em junho de 2011 espécie de ata de uma reunião da empresa,
na qual escreveu: “Lembrou-se, também, que Nardes, juntamente com seu sócio
[Clorimar] Piva, tem parte que suponho igualitária (Nardes que ajudou captar o
contrato). Recebi o processo para fazer os cálculos”.
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