Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Gleisi Hoffmann fez muito bem em comparecer à posse de Nicolás Maduro, que inicia o segundo mandato de presidente na Venezuela.
Não é preciso, aqui, lembrar as dificuldades de toda natureza - social, econômica, humanitária - que a população daquele país tem enfrentado em anos recentes.
Basta recordar que na origem destes sacrifícios imensos se encontra a guerra sem limites nem intervalos de Washington e aliados contra Hugo Chávez e sua herança desde 2002, quando a população foi às ruas de Caracas para reverter um golpe de Estado encenado pelos magnatas locais - com apoio integral da Casa Branca de George W Bush.
Se o início do espetáculo de uma década e meia atrás lembrou os clássicos golpes sul-americanas, fosse o 31 de março de 64 no Brasil, o 11 de setembro de 1973 no Chile, o desfecho foi diferente. A reação popular permitiu o triunfo da democracia de um país muito mais pobre e mais fraco contra os músculos da primeira potência mundial e os brutamontes a seu serviço.
A ousadia da sociedade venezuelana, comparável a Revolução Cubana, mas com um impacto muito maior em vários aspectos, a começar pelas as maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo, jamais seria perdoada. Ao longo dos dezesseis anos seguintes, o império nunca descansou.
E nunca venceu, embora tenha tentado estimular insurreições internas, conspirações militares e várias cenas de baderna na esperança de despertar uma rebelião interna.
A oposição não conseguiu vencer eleições nem mesmo após a morte de Hugo Chávez, em 2013, quando apresentou um candidato que se apresentava como o verdadeiro aliado das ideias daquele que era então o mais popular político do Continente - Luiz Inácio Lula da Silva.
Referindo-se a primeira vitória de Maduro, obrigado a confirmar uma vitória apertada mas real numa recontagem dramática, o ex-ministro mexicano Jorge Castanheda, de impecáveis credenciais conservadoras, reconhece que "na origem ele foi eleito mais ou menos democraticamente".
Incapazes de reunir forças para apresentar uma candidatura crível para enfrentar Maduro nas eleições de maio de 2018, quando fizeram uma campanha de boicote às urnas, os derrotados de 2002 voltam a preparar a guerra - recurso que, como sabemos desde o século XVIII, constitui o caminho preferido daqueles que não têm votos para defender seus projetos políticos.
É neste ambiente que se movem personagens que em 2002 tiveram uma ação decisiva para produzir guerra do Iraque. Construíram a lorota de que o país possuía "armas de destruição em massa" e representava uma ameaça a humanidade. O saldo foi um conflito de oito anos, centenas de milhares de mortos e a inviabilização de um país - sem falar em escândalos de corrupção e denuncias de tortura de prisioneiros e um abismo que ajudou a criar o colapso econômico de 2008-2009.
Neste início de 2019, comentando os questionamentos a vitória eleitoral de Maduro, o jurista brasileiro Afranio Jardim, um dos mestres do Direito brasileiro, escreveu:
"Ninguém aponta e traz prova de qualquer irregularidade em tais eleições, apenas falam que elas não foram legítimas e justas… Como assim?
A situação do Brasil ainda é mais delicada, pois o Ministério das Relações Exteriores questionou a legitimidade das eleições do Maduro pelo fato de o seu maior opositor estar preso e não ter podido concorrer no pleito.
Isto é de uma hipocrisia alarmante. A prevalecer este argumento, a eleição do Capitão truculento, aqui no Brasil, também é ilegítima e injusta. Pois o líder disparado nas pesquisas de opinião pública – ex-presidente Lula – também foi mantido preso e não pôde concorrer nas eleições, mesmo com manifestação em sentido contrário da ONU. Dois pesos, duas medidas."
Empossado num país devastado, Nicolas Maduro enfrenta o desafio de impedir o estrangulamento do país, retomar o crescimento econômico e recuperar um bem-estar que já foi motivo de admiração. Não é uma tarefa simples nem será fácil. A paisagem é de muita preocupação.
Mas basta refletir um minuto para compreender que a alternativa que se oferece a Maduro é a recolonização, que esmaga a soberania do país e o futuro de várias gerações. Pense no que acontece nos países vizinhos.
Alguma dúvida?
Gleisi Hoffmann fez muito bem em comparecer à posse de Nicolás Maduro, que inicia o segundo mandato de presidente na Venezuela.
Não é preciso, aqui, lembrar as dificuldades de toda natureza - social, econômica, humanitária - que a população daquele país tem enfrentado em anos recentes.
Basta recordar que na origem destes sacrifícios imensos se encontra a guerra sem limites nem intervalos de Washington e aliados contra Hugo Chávez e sua herança desde 2002, quando a população foi às ruas de Caracas para reverter um golpe de Estado encenado pelos magnatas locais - com apoio integral da Casa Branca de George W Bush.
Se o início do espetáculo de uma década e meia atrás lembrou os clássicos golpes sul-americanas, fosse o 31 de março de 64 no Brasil, o 11 de setembro de 1973 no Chile, o desfecho foi diferente. A reação popular permitiu o triunfo da democracia de um país muito mais pobre e mais fraco contra os músculos da primeira potência mundial e os brutamontes a seu serviço.
A ousadia da sociedade venezuelana, comparável a Revolução Cubana, mas com um impacto muito maior em vários aspectos, a começar pelas as maiores reservas conhecidas de petróleo do mundo, jamais seria perdoada. Ao longo dos dezesseis anos seguintes, o império nunca descansou.
E nunca venceu, embora tenha tentado estimular insurreições internas, conspirações militares e várias cenas de baderna na esperança de despertar uma rebelião interna.
A oposição não conseguiu vencer eleições nem mesmo após a morte de Hugo Chávez, em 2013, quando apresentou um candidato que se apresentava como o verdadeiro aliado das ideias daquele que era então o mais popular político do Continente - Luiz Inácio Lula da Silva.
Referindo-se a primeira vitória de Maduro, obrigado a confirmar uma vitória apertada mas real numa recontagem dramática, o ex-ministro mexicano Jorge Castanheda, de impecáveis credenciais conservadoras, reconhece que "na origem ele foi eleito mais ou menos democraticamente".
Incapazes de reunir forças para apresentar uma candidatura crível para enfrentar Maduro nas eleições de maio de 2018, quando fizeram uma campanha de boicote às urnas, os derrotados de 2002 voltam a preparar a guerra - recurso que, como sabemos desde o século XVIII, constitui o caminho preferido daqueles que não têm votos para defender seus projetos políticos.
É neste ambiente que se movem personagens que em 2002 tiveram uma ação decisiva para produzir guerra do Iraque. Construíram a lorota de que o país possuía "armas de destruição em massa" e representava uma ameaça a humanidade. O saldo foi um conflito de oito anos, centenas de milhares de mortos e a inviabilização de um país - sem falar em escândalos de corrupção e denuncias de tortura de prisioneiros e um abismo que ajudou a criar o colapso econômico de 2008-2009.
Neste início de 2019, comentando os questionamentos a vitória eleitoral de Maduro, o jurista brasileiro Afranio Jardim, um dos mestres do Direito brasileiro, escreveu:
"Ninguém aponta e traz prova de qualquer irregularidade em tais eleições, apenas falam que elas não foram legítimas e justas… Como assim?
A situação do Brasil ainda é mais delicada, pois o Ministério das Relações Exteriores questionou a legitimidade das eleições do Maduro pelo fato de o seu maior opositor estar preso e não ter podido concorrer no pleito.
Isto é de uma hipocrisia alarmante. A prevalecer este argumento, a eleição do Capitão truculento, aqui no Brasil, também é ilegítima e injusta. Pois o líder disparado nas pesquisas de opinião pública – ex-presidente Lula – também foi mantido preso e não pôde concorrer nas eleições, mesmo com manifestação em sentido contrário da ONU. Dois pesos, duas medidas."
Empossado num país devastado, Nicolas Maduro enfrenta o desafio de impedir o estrangulamento do país, retomar o crescimento econômico e recuperar um bem-estar que já foi motivo de admiração. Não é uma tarefa simples nem será fácil. A paisagem é de muita preocupação.
Mas basta refletir um minuto para compreender que a alternativa que se oferece a Maduro é a recolonização, que esmaga a soberania do país e o futuro de várias gerações. Pense no que acontece nos países vizinhos.
Alguma dúvida?
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