Por Marcos Verlaine, no site do Diap:
Dragada por profunda crise, que começou com as jornadas de junho/julho de 2013, a sociedade brasileira chegou nas eleições de 2018 moralmente, eticamente, socialmente, politicamente e, sobretudo, economicamente exaurida. O processo eleitoral não produziu nada de novo ou palpável que pudesse apontar caminhos para a solução ou pelo menos, a redução dos graves problemas econômicos e sociais que acometem o País.
Diante desse quadro, os eleitores foram levados à optar pela volta do PT ou algo, em tese novo, que foi se consolidando como o candidato antipetista ou antilulista visceral - o eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Mas, objetivamente, quem ou o que elegeu aquele que no início do processo eleitoral era o menos provável que chegasse na reta final e vencesse o pleito mais anormal desde a redemocratização, em 1985/1986?
Talvez três elementos centrais tenham sido os responsáveis ou expliquem, em certa medida, a vitória do ex-deputado federal Jair Bolsonaro:
1) o fenômeno eleitoral apelidado de “bolsonarismo”,
2) o antipetismo visceral, e
3) o desalento político.
Mas antes de entrar neste contencioso, sugiro a leitura atenta no artigo da jornalista Eliane Brum: O homem mediano assume o poder. Neste, o melhor que li até agora sobre o assunto, a repórter, entre outros aspectos enumera o perfil do eleitor que apoiou e votou em Bolsonaro e também destrincha sua psique.
“Durante as várias fases republicanas do Brasil, a candidatura e os candidatos foram acertos das elites que disputavam o poder — ou resultado de uma disputa entre elas. O mais popular presidente do Brasil do século 20, Getúlio Vargas (1882-1954), que em parte de sua trajetória política foi também um ditador, era um estancieiro, filho da elite gaúcha. Ainda que tenha havido alguns presidentes apenas medianos durante a República, eram por regra homens oriundos de algum tipo de elite e alicerçados por ela.”
“Lula foi exceção. E Bolsonaro é exceção. Mas representam opostos. Não apenas por um ser de centro esquerda e outro de extrema direita. Mas porque Bolsonaro rompe com a ideia da excepcionalidade. Em vez de votar naquele que reconhecem como detentor de qualidades superiores, que o tornariam apto a governar, quase 58 milhões de brasileiros escolheram um homem parecido com seu tio ou primo. Ou consigo mesmos.”
“Jair Bolsonaro, filho de um dentista prático do interior paulista, oriundo de uma família que poderia ser definida como de classe média baixa, não é representante apenas de um estrato social. Ele representa mais uma visão de mundo. Não há nada de excepcional nele. Cada um de nós conheceu vários Jair Bolsonaro na vida. Ou tem um Jair Bolsonaro na família”, destaca a repórter.
Bolsonarismo
Este fenômeno eleitoral foi um dos elementos que levou à vitória do ex-deputado. Mas não foi o elemento central. O “bolsonarismo”, tudo indica, foi crescendo à medida que se insistiu na candidatura de Lula, mesmo o petista estando preso em Curitiba, nas dependências da Polícia Federal. A insistência na candidatura de Lula retroalimentou e fortaleceu a candidatura de Bolsonaro ao longo do curto processo eleitoral.
Essa parcela de eleitores via como absurdo, o PT insistir na candidatura de condenado em 2ª instância, e preso por supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, a 12 anos e 1 mês de reclusão. O “bolsonarista” é o eleitor acometido pelo antipetismo visceral e é também marcado pelo desalento político, o que o transforma num elemento “ideológico” do chamado “bolsonarismo”.
Antipetismo
Este 3º elemento do fenômeno eleitoral que permitiu a vitória de Bolsonaro, ex-deputado federal, que pouco ou nada produziu de relevante durante seus 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados, junto com o antipetismo, “lacrou” o resultado do pleito vencido no 2º turno.
O desalento político da sociedade brasileira foi e é alimentado continuamente pela grande mídia, que estimula e acende, sem massa crítica, o problema da corrupção entre os chamados políticos, seja no Executivo ou no Legislativo. Diante disso, está convencionado entre o povo, que quem se envolve com política ou faz parte de partido político, o faz apenas para “se dar bem”, isto é, tirar proveito próprio, em detrimento dos interesses e demandas dos eleitores, em particular, e do povo, em geral.
Assim, diante desse desalento, e em rejeição ao que a mídia cunhou como o “partido mais corrupto” dentre todos em funcionamento no País, a maioria dos eleitores resolveu eleger, dentre os candidatos que se apresentaram para o pleito de 2018, o candidato, cuja única expressão política era o de não ser corrupto.
O resto da história todos já conhecem!
* Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.
Dragada por profunda crise, que começou com as jornadas de junho/julho de 2013, a sociedade brasileira chegou nas eleições de 2018 moralmente, eticamente, socialmente, politicamente e, sobretudo, economicamente exaurida. O processo eleitoral não produziu nada de novo ou palpável que pudesse apontar caminhos para a solução ou pelo menos, a redução dos graves problemas econômicos e sociais que acometem o País.
Diante desse quadro, os eleitores foram levados à optar pela volta do PT ou algo, em tese novo, que foi se consolidando como o candidato antipetista ou antilulista visceral - o eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Mas, objetivamente, quem ou o que elegeu aquele que no início do processo eleitoral era o menos provável que chegasse na reta final e vencesse o pleito mais anormal desde a redemocratização, em 1985/1986?
Talvez três elementos centrais tenham sido os responsáveis ou expliquem, em certa medida, a vitória do ex-deputado federal Jair Bolsonaro:
1) o fenômeno eleitoral apelidado de “bolsonarismo”,
2) o antipetismo visceral, e
3) o desalento político.
Mas antes de entrar neste contencioso, sugiro a leitura atenta no artigo da jornalista Eliane Brum: O homem mediano assume o poder. Neste, o melhor que li até agora sobre o assunto, a repórter, entre outros aspectos enumera o perfil do eleitor que apoiou e votou em Bolsonaro e também destrincha sua psique.
“Durante as várias fases republicanas do Brasil, a candidatura e os candidatos foram acertos das elites que disputavam o poder — ou resultado de uma disputa entre elas. O mais popular presidente do Brasil do século 20, Getúlio Vargas (1882-1954), que em parte de sua trajetória política foi também um ditador, era um estancieiro, filho da elite gaúcha. Ainda que tenha havido alguns presidentes apenas medianos durante a República, eram por regra homens oriundos de algum tipo de elite e alicerçados por ela.”
“Lula foi exceção. E Bolsonaro é exceção. Mas representam opostos. Não apenas por um ser de centro esquerda e outro de extrema direita. Mas porque Bolsonaro rompe com a ideia da excepcionalidade. Em vez de votar naquele que reconhecem como detentor de qualidades superiores, que o tornariam apto a governar, quase 58 milhões de brasileiros escolheram um homem parecido com seu tio ou primo. Ou consigo mesmos.”
“Jair Bolsonaro, filho de um dentista prático do interior paulista, oriundo de uma família que poderia ser definida como de classe média baixa, não é representante apenas de um estrato social. Ele representa mais uma visão de mundo. Não há nada de excepcional nele. Cada um de nós conheceu vários Jair Bolsonaro na vida. Ou tem um Jair Bolsonaro na família”, destaca a repórter.
Bolsonarismo
Este fenômeno eleitoral foi um dos elementos que levou à vitória do ex-deputado. Mas não foi o elemento central. O “bolsonarismo”, tudo indica, foi crescendo à medida que se insistiu na candidatura de Lula, mesmo o petista estando preso em Curitiba, nas dependências da Polícia Federal. A insistência na candidatura de Lula retroalimentou e fortaleceu a candidatura de Bolsonaro ao longo do curto processo eleitoral.
Essa parcela de eleitores via como absurdo, o PT insistir na candidatura de condenado em 2ª instância, e preso por supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, a 12 anos e 1 mês de reclusão. O “bolsonarista” é o eleitor acometido pelo antipetismo visceral e é também marcado pelo desalento político, o que o transforma num elemento “ideológico” do chamado “bolsonarismo”.
Antipetismo
Este fenômeno político não é novo. O antipetismo tem como matriz ideológica o anticomunismo. O problema é que o condutores da campanha do PT não conseguiram detectar nem o 1º fenômeno, o “bolsonarismo”, nem tampouco este 2º.
O antipetismo foi muito bem alimentado pela mídia desde que o PT surgiu como força eleitoral crescente na sociedade brasileira. E não arrefeceu em nenhum momento. Aqui e acolá houve certa trégua da mídia, mas sempre que os meios de comunicação podiam apontar algum malfeito do PT, dentro ou fora do governo, isto era e é feito com grande exposição e estardalhaço midiáticos.
O antipetismo talvez tenha sido a grande mola propulsora que elevou o então candidato Jair Bolsonaro da obscuridade político-eleitoral para o protagonismo que o guindou à expressiva vitória, no 2º turno, em relação ao adversário do PT, Fernando Haddad. Bolsonaro quase venceu o pleito no 1º turno, o que tornou o 2º tempo da corrida eleitoral mais emocionante.
Desalento
O antipetismo foi muito bem alimentado pela mídia desde que o PT surgiu como força eleitoral crescente na sociedade brasileira. E não arrefeceu em nenhum momento. Aqui e acolá houve certa trégua da mídia, mas sempre que os meios de comunicação podiam apontar algum malfeito do PT, dentro ou fora do governo, isto era e é feito com grande exposição e estardalhaço midiáticos.
O antipetismo talvez tenha sido a grande mola propulsora que elevou o então candidato Jair Bolsonaro da obscuridade político-eleitoral para o protagonismo que o guindou à expressiva vitória, no 2º turno, em relação ao adversário do PT, Fernando Haddad. Bolsonaro quase venceu o pleito no 1º turno, o que tornou o 2º tempo da corrida eleitoral mais emocionante.
Desalento
Este 3º elemento do fenômeno eleitoral que permitiu a vitória de Bolsonaro, ex-deputado federal, que pouco ou nada produziu de relevante durante seus 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados, junto com o antipetismo, “lacrou” o resultado do pleito vencido no 2º turno.
O desalento político da sociedade brasileira foi e é alimentado continuamente pela grande mídia, que estimula e acende, sem massa crítica, o problema da corrupção entre os chamados políticos, seja no Executivo ou no Legislativo. Diante disso, está convencionado entre o povo, que quem se envolve com política ou faz parte de partido político, o faz apenas para “se dar bem”, isto é, tirar proveito próprio, em detrimento dos interesses e demandas dos eleitores, em particular, e do povo, em geral.
Assim, diante desse desalento, e em rejeição ao que a mídia cunhou como o “partido mais corrupto” dentre todos em funcionamento no País, a maioria dos eleitores resolveu eleger, dentre os candidatos que se apresentaram para o pleito de 2018, o candidato, cuja única expressão política era o de não ser corrupto.
O resto da história todos já conhecem!
* Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.
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