Por Thais Reis Oliveira, na revista CartaCapital:
Em caso de progressão gerencial interna, o requisito é de atuação por pelo menos um ano como gerente geral ou três anos como gerente setorial. O indicado pelo presidente da República, porém, jamais ocupou tais postos desde que começou a trabalhar na estatal.
A remuneração para a vaga que Nagem ocupa atualmente gira em torno de 13 mil reais (a companhia não informa o valor específico de remunerações). Como gerente-executivo, passará a receber cerca de 50 mil. A área é responsável por toda a segurança própria e contratada da Petrobras, respondendo por centenas de contratos em todo o país. Natural do Rio de Janeiro, o amigo do presidente fazia parte do setor administrativo da ISC na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), na cidade de Araucária (PR).
A promoção Nagem foi recebida com estranheza nos corredores da empresa. Embora ponderem que Petrobras tenha um histórico de privilegiar escolhas políticas às escolhas técnicas, alguém com seu currículo demoraria décadas para chegar à gerência-executiva.
Conforme explica a Federação Única dos Petroleiros (FUP), ao nomeá-lo gerente-executivo, a empresa fere o Plano de Cargos e Remuneração (PCR), estabelecido em 2017. Um dos objetivos deste conjunto de regras, segundo a FUP, é “avaliar as pessoas por suas entregas, não por suas titulações”. Além disso, a natureza do cargo para o qual Nagem foi promovido exige qualificações de um profissional sênior, e não pleno, como é o caso do amigo do presidente.
Comemoração insólita
Colegas de unidade de Nagem dizem que ele era pouco conhecido fora da própria repartição – sequer teria pedido votos para a própria candidatura nas eleições deste ano. Também não era visto em reuniões do setor de Segurança.
Segundo esses relatos, Nagem só ganhou maior atenção após um episódio pitoresco: no dia seguinte à vitória de Bolsonaro, teria ido trabalhar enrolado em uma bandeira do Brasil. “Passou o dia todo andando por lá daquele jeito. Foi até almoçar com a bandeira”, disse um funcionário ouvido por CartaCapital sob condição de anonimato.
Como no caso da indicação de Antonio Hamilton Ridell Mourão no Banco do Brasil (filho do vice-presidente), o cargo é de livre nomeação do presidente da empresa. Na Petrobras, só se concretiza se passar pelo crivo do Conselho de Administração.
Em nota, a Petrobras sustenta que ele tem o currículo adequado para vaga e afirmou que o nome ainda “será submetido aos procedimentos internos de governança corporativa”. Caso seja confirmado, substituirá Regina de Luca, chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública no governo Dilma e indicada ao cargo por Pedro Parente (então presidente da companhia), já na gestão Temer. Advogada especialista em segurança pública, ela caiu depois de ser identificada na imprensa como ‘petista’ após a aparição em um vídeo publicitário da empresa.
Regina era mesmo filiada ao PT e tinha histórico de atuação próxima a líderes do partido. A desfiliação do partido havia ocorrido no mês anterior ao cargo, embora não houvesse impeditivo legal para que ela assumisse a vaga. Já seu antecessor era o coronel reformado José Olavo Coimbra de Castro, ex-diretor da Abin e com décadas de experiência no setor.
Apoio político e amizade
Há dois anos, Bolsonaro gravou um vídeo pedindo votos para Nagem, então candidato a vereador de Curitiba pelo PSC, sob a alcunha Capitão Victor. Ele se referiu ao candidato como ‘meu amigo particular’, sinalizando a intenção de tê-lo por perto caso vencesse as eleições presidenciais. Um dos versos do jingle de campanha era ‘Bolsonaro indicou’.
“É um homem, um cidadão que conheço há quase 30 anos. Um homem de respeito, que vai estar à disposição de vocês na Câmara lutando pelos valores familiares. E, quem sabe no futuro, sendo mais uma opção para nos acompanhar até Brasília”, dizia no vídeo.
O apoio daquela época não foi suficiente para eleger o amigo: Nagem recebeu 1,129 votos. Nagem também foi candidato a deputado estadual nas eleições deste ano, obtendo 583 votos. Segundo dados do TSE, ele investiu cerca de 2,500 reais na campanha.
A cobertura do caso melindrou o presidente. Ao divulgar novamente o currículo de Nagem, Bolsonaro fez críticas à parte da imprensa que se referiu ao indicado como “amigo do Bolsonaro”, ao invés de ressaltar os predicados profissionais do administrador.
Na manhã desta sexta 11, o presidente divulgou um pedido irônico de desculpas à imprensa, segundo o próprio, por “não estar indicando inimigos para postos em meu governo”.
Procurado, Carlos Victor Nagem não quis comentar o assunto, sob a alegação de respeito ao código de conduta da empresa.
Em meio às polêmicas em torno da promoção do filho de seu vice no Banco do Brasil e de uma nomeação desastrada na Apex, o presidente Jair Bolsonaro vem sustentando outra ascensão controversa. Dessa vez, ele indicou um amigo pessoal para um cargo de alta gerência na Petrobras.
O problema é que seu apadrinhado não atende aos critérios internos da empresa para ocupar o posto, que paga um salário mensal na casa dos 50 mil reais.
Conforme o próprio Bolsonaro anunciou na quinta-feira 10, seu amigo Carlos Victor Guerra Nagem foi indicado por ele à gerência-executiva de Inteligência e Segurança Corporativa (ISC), setor ligado diretamente à Presidência da empresa.
Em um post no Twitter - já apagado - ele alardeou a escolha como fim das indicações sem capacidade técnica. Mas, a julgar pelos critérios de seleção indicados pela própria Petrobras, Nagem nem de longe é o candidato ideal para a vaga.
A lista disponível na rede interna da empresa e obtida por CartaCapital determina que o indicado tenha pelo menos dez anos de experiência gerencial em empresa de grande porte ou do sistema Petrobras. Não é o caso do amigo de Bolsonaro.
Capitão de reserva da Marinha e mestre em Administração pela UFRJ, Nagem ingressou na Petrobras via concurso em 2007 como Administrador Júnior. Há seis anos, atua na ISC, lotado na região metropolitana de Curitiba. Seu cargo atual é Administrador Pleno, do qual pediu licença remunerada duas vezes para candidatar-se em eleições: em 2016 para vereador, e em 2018 para deputado estadual.
O problema é que seu apadrinhado não atende aos critérios internos da empresa para ocupar o posto, que paga um salário mensal na casa dos 50 mil reais.
Conforme o próprio Bolsonaro anunciou na quinta-feira 10, seu amigo Carlos Victor Guerra Nagem foi indicado por ele à gerência-executiva de Inteligência e Segurança Corporativa (ISC), setor ligado diretamente à Presidência da empresa.
Em um post no Twitter - já apagado - ele alardeou a escolha como fim das indicações sem capacidade técnica. Mas, a julgar pelos critérios de seleção indicados pela própria Petrobras, Nagem nem de longe é o candidato ideal para a vaga.
A lista disponível na rede interna da empresa e obtida por CartaCapital determina que o indicado tenha pelo menos dez anos de experiência gerencial em empresa de grande porte ou do sistema Petrobras. Não é o caso do amigo de Bolsonaro.
Capitão de reserva da Marinha e mestre em Administração pela UFRJ, Nagem ingressou na Petrobras via concurso em 2007 como Administrador Júnior. Há seis anos, atua na ISC, lotado na região metropolitana de Curitiba. Seu cargo atual é Administrador Pleno, do qual pediu licença remunerada duas vezes para candidatar-se em eleições: em 2016 para vereador, e em 2018 para deputado estadual.
Em caso de progressão gerencial interna, o requisito é de atuação por pelo menos um ano como gerente geral ou três anos como gerente setorial. O indicado pelo presidente da República, porém, jamais ocupou tais postos desde que começou a trabalhar na estatal.
A remuneração para a vaga que Nagem ocupa atualmente gira em torno de 13 mil reais (a companhia não informa o valor específico de remunerações). Como gerente-executivo, passará a receber cerca de 50 mil. A área é responsável por toda a segurança própria e contratada da Petrobras, respondendo por centenas de contratos em todo o país. Natural do Rio de Janeiro, o amigo do presidente fazia parte do setor administrativo da ISC na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), na cidade de Araucária (PR).
A promoção Nagem foi recebida com estranheza nos corredores da empresa. Embora ponderem que Petrobras tenha um histórico de privilegiar escolhas políticas às escolhas técnicas, alguém com seu currículo demoraria décadas para chegar à gerência-executiva.
Conforme explica a Federação Única dos Petroleiros (FUP), ao nomeá-lo gerente-executivo, a empresa fere o Plano de Cargos e Remuneração (PCR), estabelecido em 2017. Um dos objetivos deste conjunto de regras, segundo a FUP, é “avaliar as pessoas por suas entregas, não por suas titulações”. Além disso, a natureza do cargo para o qual Nagem foi promovido exige qualificações de um profissional sênior, e não pleno, como é o caso do amigo do presidente.
Comemoração insólita
Colegas de unidade de Nagem dizem que ele era pouco conhecido fora da própria repartição – sequer teria pedido votos para a própria candidatura nas eleições deste ano. Também não era visto em reuniões do setor de Segurança.
Segundo esses relatos, Nagem só ganhou maior atenção após um episódio pitoresco: no dia seguinte à vitória de Bolsonaro, teria ido trabalhar enrolado em uma bandeira do Brasil. “Passou o dia todo andando por lá daquele jeito. Foi até almoçar com a bandeira”, disse um funcionário ouvido por CartaCapital sob condição de anonimato.
Como no caso da indicação de Antonio Hamilton Ridell Mourão no Banco do Brasil (filho do vice-presidente), o cargo é de livre nomeação do presidente da empresa. Na Petrobras, só se concretiza se passar pelo crivo do Conselho de Administração.
Em nota, a Petrobras sustenta que ele tem o currículo adequado para vaga e afirmou que o nome ainda “será submetido aos procedimentos internos de governança corporativa”. Caso seja confirmado, substituirá Regina de Luca, chefe da Secretaria Nacional de Segurança Pública no governo Dilma e indicada ao cargo por Pedro Parente (então presidente da companhia), já na gestão Temer. Advogada especialista em segurança pública, ela caiu depois de ser identificada na imprensa como ‘petista’ após a aparição em um vídeo publicitário da empresa.
Regina era mesmo filiada ao PT e tinha histórico de atuação próxima a líderes do partido. A desfiliação do partido havia ocorrido no mês anterior ao cargo, embora não houvesse impeditivo legal para que ela assumisse a vaga. Já seu antecessor era o coronel reformado José Olavo Coimbra de Castro, ex-diretor da Abin e com décadas de experiência no setor.
Apoio político e amizade
Há dois anos, Bolsonaro gravou um vídeo pedindo votos para Nagem, então candidato a vereador de Curitiba pelo PSC, sob a alcunha Capitão Victor. Ele se referiu ao candidato como ‘meu amigo particular’, sinalizando a intenção de tê-lo por perto caso vencesse as eleições presidenciais. Um dos versos do jingle de campanha era ‘Bolsonaro indicou’.
“É um homem, um cidadão que conheço há quase 30 anos. Um homem de respeito, que vai estar à disposição de vocês na Câmara lutando pelos valores familiares. E, quem sabe no futuro, sendo mais uma opção para nos acompanhar até Brasília”, dizia no vídeo.
O apoio daquela época não foi suficiente para eleger o amigo: Nagem recebeu 1,129 votos. Nagem também foi candidato a deputado estadual nas eleições deste ano, obtendo 583 votos. Segundo dados do TSE, ele investiu cerca de 2,500 reais na campanha.
A cobertura do caso melindrou o presidente. Ao divulgar novamente o currículo de Nagem, Bolsonaro fez críticas à parte da imprensa que se referiu ao indicado como “amigo do Bolsonaro”, ao invés de ressaltar os predicados profissionais do administrador.
Na manhã desta sexta 11, o presidente divulgou um pedido irônico de desculpas à imprensa, segundo o próprio, por “não estar indicando inimigos para postos em meu governo”.
Procurado, Carlos Victor Nagem não quis comentar o assunto, sob a alegação de respeito ao código de conduta da empresa.
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