Por João Paulo Cunha, no jornal Brasil de Fato:
Tudo leva a acreditar que governo Bolsonaro está com os dias contados. Afinal, a equipe de governo bate cabeça o tempo todo, desagrada os próprios aliados e não consegue articular nenhuma votação no Congresso com o mínimo de competência. Vem colecionando desgastes até mesmo com parceiros de primeira hora, como empresários, religiosos e imprensa, além de começar a desagradar a classe média com os seguidos vexames na franja, digamos, mais ilustrada da direita.
O recente estranhamento entre o Supremo Tribunal Federal e a turma da Lava Jato parece chegar ao coração do governo, sobretudo com um Executivo inepto, que não executa, e um Legislativo paralisado em picuinhas, que não legisla. Com a crise no campo do sistema de Justiça, parece que a entropia é geral e o colapso é questão de tempo. Soma-se a isso a divisão nas próprias Forças Armadas, que tem sido alvo de ataques de bolsonaristas inspirados no ideólogo de plantão da família.
Na área econômica, o avanço do capitão no campo do preço do diesel mostrou que o presidente é inconfiável para os ultraliberais. Em política internacional, nem mesmo Israel dá carta branca ao cristão novo, criticando sua fala absurda sobre o Holocausto. Os EUA também não deram bola ao governo brasileiro: levaram tudo e não ofereceram nada em troca.
Com tantos disparates e incompetência no condomínio do poder, a tentação de esperar que os desgastes internos sejam os condutores da queda do governo pode parecer um caminho viável. Não é. A direita não vai fazer o trabalho que cabe à esquerda, nem dos partidos nem da mobilização popular em suas mais distintas formas de expressão. Os partidos precisam amadurecer o diálogo. A cidadania precisa tomar conta da agenda e se pintar para a guerra. O que, é bom reconhecer, já está acontecendo, mas sem a potência necessária.
Na história política brasileira, como mostram dezenas de episódios mais ou menos afastados no tempo, os conservadores sempre souberam se unir na hora devida para não perder o poder conquistado. As esquerdas, ainda que saudavelmente plurais, perderam algumas chances importantes de virar o jogo por excessivo apego às diferenças e pouca capacidade de articulação estratégica. Sem contar a inflação do ego que parece incorporada historicamente na alma progressista.
Há, para complicar ainda mais, uma espécie de confiança irreal de que toda a transformação é resultado da conquista do governo, e não da força viva da sociedade. O populismo de direita pode, nos dias de hoje, estar matando a democracia brasileira. Mas a atração da esquerda por outras formas de populismo, com sua dependência quase absoluta de lideranças carismáticas, tem empatado uma reação popular mais ampliada e menos personalista.
Se acreditamos que só uma revolução digna de seu nome é capaz de construir democracia com justiça social, não dá mais para ficar apenas no repetido jogo da política tradicional. Menos ainda confiando que as crises intestinas irão corroer o domínio das forças da reação por dentro, abrindo o flanco para a próxima disputa eleitoral. Ainda que necessárias e até mesmo decisivas para consolidação do poder popular, as eleições e os partidos precisam ser fiadores da democracia, a partir de projetos nascidos da seiva social, e não o contrário.
A sociedade brasileira não está parada, pelo contrário, ainda que venha amargando algumas derrotas tem se mostrado afiada em sua capacidade de lutas. Pautas culturais, identitárias, profissionais e ideológicas têm se manifestado de diferentes formas e com grande riqueza e variedade de formas de expressão. A sociedade se move. E indica o caminho viável para a superação do momento regressivo vivido pelo país.
Com relação aos partidos, frentes e propostas de união de forças de esquerda serão cada vez mais decisivas. A maior prova de maturidade política que se espera das siglas, nesse momento, é a compreensão de seu papel de coadjuvante de uma grande onda de consciência, popular e transformadora, que vá além da viabilidade eleitoral e da consequente implantação de políticas reformistas que se desmancham no ar.
Os partidos precisam não de autocrítica destrutiva e ressentida, mas de autoanálise corajosa. Compreender a história recente de seus sucessos e, sobretudo, de suas limitações. Com a sensação de onipotência por dominar o sistema, o abandono da formação política e a perda dos laços com o povo, eles não foram capazes de barrar a reação fascista. Nem nas urnas nem no dia a dia.
As brigas de STF e Lava Jato, mercado financeiro e Bolsonaro, base e centrão, militares e olavetes, jornalistas que hoje posam de vestais e governo, são rusgas de namorados. Daqui a pouco estarão aos beijos e abraços, mesmo com direito a traições e algum ranger de dentes. O que é problema deles e uma repetição da história, como uma farsa renovada.
A esquerda não pode cair nesse dramalhão e precisa fazer seu trabalho: organizar a luta e criar alternativa para o novo momento. Depois de derrubar um governo destrutivo, vai chegar a hora da construção sobre uma terra arrasada.
O recente estranhamento entre o Supremo Tribunal Federal e a turma da Lava Jato parece chegar ao coração do governo, sobretudo com um Executivo inepto, que não executa, e um Legislativo paralisado em picuinhas, que não legisla. Com a crise no campo do sistema de Justiça, parece que a entropia é geral e o colapso é questão de tempo. Soma-se a isso a divisão nas próprias Forças Armadas, que tem sido alvo de ataques de bolsonaristas inspirados no ideólogo de plantão da família.
Na área econômica, o avanço do capitão no campo do preço do diesel mostrou que o presidente é inconfiável para os ultraliberais. Em política internacional, nem mesmo Israel dá carta branca ao cristão novo, criticando sua fala absurda sobre o Holocausto. Os EUA também não deram bola ao governo brasileiro: levaram tudo e não ofereceram nada em troca.
Com tantos disparates e incompetência no condomínio do poder, a tentação de esperar que os desgastes internos sejam os condutores da queda do governo pode parecer um caminho viável. Não é. A direita não vai fazer o trabalho que cabe à esquerda, nem dos partidos nem da mobilização popular em suas mais distintas formas de expressão. Os partidos precisam amadurecer o diálogo. A cidadania precisa tomar conta da agenda e se pintar para a guerra. O que, é bom reconhecer, já está acontecendo, mas sem a potência necessária.
Na história política brasileira, como mostram dezenas de episódios mais ou menos afastados no tempo, os conservadores sempre souberam se unir na hora devida para não perder o poder conquistado. As esquerdas, ainda que saudavelmente plurais, perderam algumas chances importantes de virar o jogo por excessivo apego às diferenças e pouca capacidade de articulação estratégica. Sem contar a inflação do ego que parece incorporada historicamente na alma progressista.
Há, para complicar ainda mais, uma espécie de confiança irreal de que toda a transformação é resultado da conquista do governo, e não da força viva da sociedade. O populismo de direita pode, nos dias de hoje, estar matando a democracia brasileira. Mas a atração da esquerda por outras formas de populismo, com sua dependência quase absoluta de lideranças carismáticas, tem empatado uma reação popular mais ampliada e menos personalista.
Se acreditamos que só uma revolução digna de seu nome é capaz de construir democracia com justiça social, não dá mais para ficar apenas no repetido jogo da política tradicional. Menos ainda confiando que as crises intestinas irão corroer o domínio das forças da reação por dentro, abrindo o flanco para a próxima disputa eleitoral. Ainda que necessárias e até mesmo decisivas para consolidação do poder popular, as eleições e os partidos precisam ser fiadores da democracia, a partir de projetos nascidos da seiva social, e não o contrário.
A sociedade brasileira não está parada, pelo contrário, ainda que venha amargando algumas derrotas tem se mostrado afiada em sua capacidade de lutas. Pautas culturais, identitárias, profissionais e ideológicas têm se manifestado de diferentes formas e com grande riqueza e variedade de formas de expressão. A sociedade se move. E indica o caminho viável para a superação do momento regressivo vivido pelo país.
Com relação aos partidos, frentes e propostas de união de forças de esquerda serão cada vez mais decisivas. A maior prova de maturidade política que se espera das siglas, nesse momento, é a compreensão de seu papel de coadjuvante de uma grande onda de consciência, popular e transformadora, que vá além da viabilidade eleitoral e da consequente implantação de políticas reformistas que se desmancham no ar.
Os partidos precisam não de autocrítica destrutiva e ressentida, mas de autoanálise corajosa. Compreender a história recente de seus sucessos e, sobretudo, de suas limitações. Com a sensação de onipotência por dominar o sistema, o abandono da formação política e a perda dos laços com o povo, eles não foram capazes de barrar a reação fascista. Nem nas urnas nem no dia a dia.
As brigas de STF e Lava Jato, mercado financeiro e Bolsonaro, base e centrão, militares e olavetes, jornalistas que hoje posam de vestais e governo, são rusgas de namorados. Daqui a pouco estarão aos beijos e abraços, mesmo com direito a traições e algum ranger de dentes. O que é problema deles e uma repetição da história, como uma farsa renovada.
A esquerda não pode cair nesse dramalhão e precisa fazer seu trabalho: organizar a luta e criar alternativa para o novo momento. Depois de derrubar um governo destrutivo, vai chegar a hora da construção sobre uma terra arrasada.
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