terça-feira, 30 de abril de 2019

Lula, paz, amor e sangue nos olhos

Por Gilberto Maringoni

Todo mudo já comentou. Sei que vou chover no molhado, mas é forçoso reafirmar: a entrevista de Lula, concedida a Monica Mônica Bergamo e Florestan Fernandes Júnior é um documento político solar. 

Lula se apresenta em grande fase - contrariando expectativas de que estaria deprimido ou desinformado - e com inigualável verve.

Faz o que todo quadro político de primeira linha deve fazer: coloca-se sempre na ofensiva.

Há trechos memoráveis e tiradas geniais.

Mas o melhor - a meu ver - está no final. É quando o presidente convoca o povo brasileiro à luta, a ir às ruas defender nossas conquistas e nos opormos à destruição da Previdência. É luta!, repete duas vezes.

Lula não cai na armadilha de colocar seu drama como o centro da vida nacional, mas pedagogicamente mostra como a prisão é parte de uma engrenagem feita para moer a vida dos de baixo e acabar com a soberania nacional.

O ex-metalúrgico nunca foi santo de minha devoção. Nunca apreciei seu discurso despolitizante no governo e acho que o PT precisa assumir suas responsabilidades por estarmos onde estamos.

Mas fiquei profundamente impactado ao realizar - juntamente com Ivana Jinkings, Maria Inês Nassif e Juca Kfouri - as mais de 12 horas de conversas que resultaram no livro "A verdade vencerá", publicado pela Boitempo ano passado.

Sua cortante inteligência, agilidade mental, enorme sensibilidade e cultura política são quase únicas.

Tive a felicidade de conhecer Hugo Chávez e Fidel Castro em ação. Lula compõe com eles o trio de grandes de nosso tempo, que pode incluir um quarto mosqueteiro, Pepe Mujica.

Todos os quatro latinoamericanos, todos da periferia do mundo, todos trazendo dentro de si tragédias e êxitos quase extremos.

A entrevista de Lula é alimento político obrigatório. Diante dele, a cela fica ínfima, os algozes adquirem a dimensão de vermes e o governo atual parece saído de uma Vichy de chanchada.

Duas horas para se assistir com sangue nos olhos!

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