Por Altamiro Borges
Duas matérias publicadas na semana passada confirmam que a poderosa TV Globo passa por um período de muitas dificuldades – o que reforça a tese de que seu modelo de negócios está em crise. A primeira nota foi postada no site R-7, da rival Record:
*****
Corte de gastos? Globo perde doze jornalistas famosos em um ano
Por Keila Jimenez
A dança de cadeiras do jornalismo da Globo parece não ter fim. Agora foi a vez da jornalista esportiva Cristiane Dias deixar o canal. Em um ano, a Globo perdeu mais de doze de seus maiores nomes do jornalismo, que não tiveram contratos renovados. Trata-se quase sempre de funcionários renomados, experientes, com muitos anos de casa e muitas vezes com salários mais altos.
Os 'substitutos' são mais jovens e ganham muitas vezes menos da metade do salário desses que estão saindo. A lista de baixas é grande. Carla Vilhena abriu o ano de 2018 se despedindo do canal após mais de 30 anos na casa. Cristina Serra também deixou a emissora no início do ano passado. Em abril, foi a vez do querido Tônico Ferreira deixar o canal. Na sequência foi a vez de o jornalista esportivo Abel Neto não renovar o seu contrato com a emissora.
Denise Barbosa deixou a GloboNews após mais de 20 anos de casa. O repórter Andrei Kampff não teve seu contrato renovado depois de 25 anos atuando na Globo. Millena Machado deixou o posto de apresentadora do “Auto Esporte”, programa exibido nas manhãs de Domingo, onde atuava desde 2011. Após voltar de uma licença médica, Izabella Camargo foi demitida. Depois de 36 anos servindo na empresa, André Luiz Azevedo deixou a Globo. Depois foi a vez do renomado Alexandre Garcia dizer 'adeus' ao jornalismo do canal.
Sergio Aguiar surpreendeu a todos ao sair da GloboNews sem se despedir. Neste ano foi a vez de Fernando Rocha e Mariana Ferrão, do 'Bem Estar', deixarem o programa e não renovarem o contrato com o canal. Nesta quarta (27), Cristiane Dias teve a sua saída oficializada na rede. O contrato dela terminará em junho e não será renovado. A jornalista esportiva apresentava o "Globo Esporte ", programa exibido onde não há edição local, e o noticiário esportivo do "Bom dia Brasil". Ela ingressou na emissora no ano de 2006. Carol Barcellos já assumiu o lugar dela.
Nos bastidores da Globo, é fato que essas demissões não são pontuais e nem devem parar por aí. A ideia do jornalismo é mesmo renovar e reduzir custos.
*****
Já a matéria de Ricardo Feltrin, especialista em mídia do UOL, aponta problemas em uma área que a emissora sempre reinou isolada, o das telenovelas. “Nunca antes neste país, como diria um certo político, a Globo enfrentou um mau momento como o atual em suas faixas de novelas. Sim, as três tramas principais da casa – 18h30m, 19h30 e 21h30 – ainda são líderes de audiência no país (Painel Nacional de Televisão) e também na Grande SP (epicentro da publicidade brasileira). Mas, segundo apuração da coluna, é a primeira vez que as três principais novelas da casa registram menor público que suas antecessoras”.
O jornalista dá detalhes sobre cada novela. “O Sétimo Guardião: Além de todos os problemas que enfrenta – inclusive dois processos de plágio, morte de figurante, tensão no elenco etc. –, em São Paulo o ibope da novela está empacado nos 29 pontos. Esse índice é abaixo do chamado ‘trilho’ previsto pela emissora para o horário, que é de 30 pontos (cada ponto em SP vale por cerca de 73 mil domicílios)... Na comparação somente nesta década, ‘O Sétimo Guardião’ dá hoje quase 10 pontos a menos do que "Fina Estampa" registrou em 2011”.
“Verão 90: Até o capítulo nº 47, a novela das 19h30 da Globo também é líder, mas está dando o menor Ibope que as três antecessoras diretas no mesmo período. Supera apenas a quarta, ‘Rock Story’ (2017). Também na comparação com o maior sucesso da década no horário, ‘Cheias de Charme’ (2012), ‘Verão 90’ registra hoje quase seis pontos a menos em São Paulo... Para encerrar, a novela com o pior resultado na Globo hoje: ‘Espelho da Vida’. Apesar de ser também líder de ibope no país e em São Paulo, a novela de Elizabeth Jhin que aborda espiritualismo tem os piores números dos últimos cinco anos... ‘Espelho’ registra até o 154º capítulo apenas 17,6 pontos em SP. Bem menos que a antecessora direta, ‘Orgulho e Paixão’ (21,5 pontos)”.
O que constatamos: todos continuam assistindo à TV aberta.
Podemos dividir a televisão aberta em dois modelos, por suas características culturais e econômicas. O modelo Cirque du Soleil, que é a Globo, e o Circo Garcia, que são o SBT, a Record, a Band e a RedeTV!. Não considerei as demais emissoras porque as audiências são pequenas.
Esses modelos são a caricatura de como são produzidos e exibidos os conteúdos desses canais. E penso que ninguém tem dúvidas a respeito!
Até 2014, a televisão aberta reinava economicamente na mídia. Entretanto, de 2015 até 2018, a queda das suas receitas superou 30%. Uma parte foi perdida para a crise e outra, para os meios digitais, internet.
A Globo, o “Cirque du Soleil”, detinha e ainda detém, por pouco tempo, mais de 70% da receita do bolo publicitário das abertas, o que gerava até 2014, lucros auspiciosos. As outras emissoras, o “Circo Garcia”, arrecadavam o restante, vivendo com grandes dificuldades e sendo obrigadas a locar espaços para igrejas e outros arrendatários para fechar as contas.
Hoje, todas as emissoras abertas perderam 30% da receita e não conseguiram reduzir custos e despesas nessa proporção. Missão muito difícil para qualquer um.
Como reduzir o custo dos direitos de futebol brasileiro? Missão impossível! Como reduzir o custo e manter a qualidade das novelas? Outro problema! Resultado: muito prejuízo, inclusive e principalmente no “Cirque du Soleil”. Quem diria? Falo da TV Globo, não do Grupo Globo.
O que vejo pela frente.
1) O mercado da TV aberta ainda não estabilizou. Começamos o ano e a receita ainda está menor do que em 2018, especialmente pela falta das verbas de governo. Ainda não chegamos ao fundo desse poço.
2) O público da TV aberta ficará restrito às pessoas com renda familiar de até R$ 3.000. Esse grupo é representado por 70% da população, mas seu poder aquisitivo é pequeno.
3) A TV aberta tem 80% de sua receita advinda de aproximadamente cem grandes clientes. Estes, a partir de 2015, dadas a crise e as novas possibilidades da internet, reduziram suas verbas na aberta. Só lembrando: faturamos hoje 70% do que faturávamos em 2014.
4) Um fato importante e ilustrativo. Para você fazer um anúncio numa novela da Globo, o “Cirque du Soleil”, em rede nacional, um anunciante gastará R$ 800 mil e terá uma audiência de 30 pontos. Se fizer um anúncio nas novelas do SBT, Record, Band, o “Circo Garcia”, para atingir os mesmos 30 pontos, esse anunciante gastará R$ 250 mil. Pois é.
5) Em pouco tempo, esses cem anunciantes vão abrir os olhos, acabar com preconceitos e, para não ficarem de fora da televisão aberta, que ainda terá os 70% do público brasileiro, anunciarão cada vez mais no “Circo Garcia” e menos no “Cirque du Soleil”.
6) Uma coisa é certa, o dono do “Cirque du Soleil” não sabe fazer um “Circo Garcia”, e o contrário também é verdadeiro. É muito difícil a Globo reduzir seus custos na razão da atual conjuntura. A Globo não tem cultura e preparo para ser o Garcia e, se conseguir ser, terá sua receita dividida com as outras. E as demais emissoras, por força das necessidades, já estão ajustadas.
7) Se os donos do “Circo Garcia” conseguirem sobreviver por mais algum tempo, vão poder assistir a esse filme em no máximo cinco anos.
Nenhuma crítica ao Circo Garcia, que admiro muito. A televisão aberta é um veículo popular, como o são os 70% das famílias brasileiras.
Ver para crer!
* Guilherme Stoliar é presidente do Grupo Silvio Santos.
Duas matérias publicadas na semana passada confirmam que a poderosa TV Globo passa por um período de muitas dificuldades – o que reforça a tese de que seu modelo de negócios está em crise. A primeira nota foi postada no site R-7, da rival Record:
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Corte de gastos? Globo perde doze jornalistas famosos em um ano
Por Keila Jimenez
A dança de cadeiras do jornalismo da Globo parece não ter fim. Agora foi a vez da jornalista esportiva Cristiane Dias deixar o canal. Em um ano, a Globo perdeu mais de doze de seus maiores nomes do jornalismo, que não tiveram contratos renovados. Trata-se quase sempre de funcionários renomados, experientes, com muitos anos de casa e muitas vezes com salários mais altos.
Os 'substitutos' são mais jovens e ganham muitas vezes menos da metade do salário desses que estão saindo. A lista de baixas é grande. Carla Vilhena abriu o ano de 2018 se despedindo do canal após mais de 30 anos na casa. Cristina Serra também deixou a emissora no início do ano passado. Em abril, foi a vez do querido Tônico Ferreira deixar o canal. Na sequência foi a vez de o jornalista esportivo Abel Neto não renovar o seu contrato com a emissora.
Denise Barbosa deixou a GloboNews após mais de 20 anos de casa. O repórter Andrei Kampff não teve seu contrato renovado depois de 25 anos atuando na Globo. Millena Machado deixou o posto de apresentadora do “Auto Esporte”, programa exibido nas manhãs de Domingo, onde atuava desde 2011. Após voltar de uma licença médica, Izabella Camargo foi demitida. Depois de 36 anos servindo na empresa, André Luiz Azevedo deixou a Globo. Depois foi a vez do renomado Alexandre Garcia dizer 'adeus' ao jornalismo do canal.
Sergio Aguiar surpreendeu a todos ao sair da GloboNews sem se despedir. Neste ano foi a vez de Fernando Rocha e Mariana Ferrão, do 'Bem Estar', deixarem o programa e não renovarem o contrato com o canal. Nesta quarta (27), Cristiane Dias teve a sua saída oficializada na rede. O contrato dela terminará em junho e não será renovado. A jornalista esportiva apresentava o "Globo Esporte ", programa exibido onde não há edição local, e o noticiário esportivo do "Bom dia Brasil". Ela ingressou na emissora no ano de 2006. Carol Barcellos já assumiu o lugar dela.
Nos bastidores da Globo, é fato que essas demissões não são pontuais e nem devem parar por aí. A ideia do jornalismo é mesmo renovar e reduzir custos.
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Já a matéria de Ricardo Feltrin, especialista em mídia do UOL, aponta problemas em uma área que a emissora sempre reinou isolada, o das telenovelas. “Nunca antes neste país, como diria um certo político, a Globo enfrentou um mau momento como o atual em suas faixas de novelas. Sim, as três tramas principais da casa – 18h30m, 19h30 e 21h30 – ainda são líderes de audiência no país (Painel Nacional de Televisão) e também na Grande SP (epicentro da publicidade brasileira). Mas, segundo apuração da coluna, é a primeira vez que as três principais novelas da casa registram menor público que suas antecessoras”.
O jornalista dá detalhes sobre cada novela. “O Sétimo Guardião: Além de todos os problemas que enfrenta – inclusive dois processos de plágio, morte de figurante, tensão no elenco etc. –, em São Paulo o ibope da novela está empacado nos 29 pontos. Esse índice é abaixo do chamado ‘trilho’ previsto pela emissora para o horário, que é de 30 pontos (cada ponto em SP vale por cerca de 73 mil domicílios)... Na comparação somente nesta década, ‘O Sétimo Guardião’ dá hoje quase 10 pontos a menos do que "Fina Estampa" registrou em 2011”.
“Verão 90: Até o capítulo nº 47, a novela das 19h30 da Globo também é líder, mas está dando o menor Ibope que as três antecessoras diretas no mesmo período. Supera apenas a quarta, ‘Rock Story’ (2017). Também na comparação com o maior sucesso da década no horário, ‘Cheias de Charme’ (2012), ‘Verão 90’ registra hoje quase seis pontos a menos em São Paulo... Para encerrar, a novela com o pior resultado na Globo hoje: ‘Espelho da Vida’. Apesar de ser também líder de ibope no país e em São Paulo, a novela de Elizabeth Jhin que aborda espiritualismo tem os piores números dos últimos cinco anos... ‘Espelho’ registra até o 154º capítulo apenas 17,6 pontos em SP. Bem menos que a antecessora direta, ‘Orgulho e Paixão’ (21,5 pontos)”.
A demissão dos artistas veteranos
A queda de audiência das telenovelas já havia resultado na demissão dos “veteranos”, como ocorre agora no jornalismo. Em abril de 2018, a mesma Keila Jimenez já havia registrado essa mudança. “Após 35 anos de emissora, Malu Mader deixa a Globo. A atriz não teve seu contrato renovado. Malu não é a primeira nem a última de uma lista de atores veteranos, com salários altos, que estão perdendo o contrato fixo com a Globo... Assim foi também com Maitê Proença e Carolina Ferraz”.
“Nos bastidores da Globo é fato de que a emissora está em um processo de renovação e corte de gastos em seu casting. Ao mesmo tempo que não renova com atores veteranos (e mais caros), o canal corre para oferecer o famoso contrato de longo prazo para atores menos prestigiados, mas que fizeram sucesso no último trabalho... A conta é boa. Além de renovar seu time, o canal economiza pois contrata jovens e bons atores pagando pouco e se livra dos medalhões que ganham salários entre R$ 80 mil e R$ 200 mil mensais. A média de salário oferecido para os jovens que estão começando no canal está entre R$ 8 mil e R$ 12 mil para quem estiver no ar”.
A queda de audiência, que faz desabar a publicidade e consequentemente gera “corte de gastos” – como a demissão de profissionais é chamada friamente pelos patrões –, reforça a tese de que o modelo de negócios da TV Globo está “fadado ao fracasso”. Essa ideia foi defendida com ênfase por Guilherme Stoliar, presidente do rival Grupo Silvio Santos, em artigo publicado na Folha. Após dividir as cinco principais emissoras do país em dois blocos – a TV Globo seria o ricaço “Cirque du Soleil”, e SBT, Record, Band e RedeTV seriam o pobretão “Circo Garcia” – o executivo afirma que esse formato não se sustenta mais devido ao avanço dos meios digitais e à própria crise econômica. Vale conferir sua instigante e provocativa análise:
*****
Uma reflexão sobre a internet e a TV aberta
Por Guilherme Stoliar – Folha, 14 de março de 2019
Muito se pergunta a respeito do que acontecerá com a televisão aberta depois da internet banda larga. Tento responder com fatos nesta simples reflexão sobre os próximos cinco anos.
Dados.
1) Antes da internet banda larga, 100% da população tinha a televisão aberta como seu grande companheiro de informação e entretenimento.
2) No Brasil, mais de 70% das famílias vivem com uma renda familiar inferior a R$ 3.000 por mês. Poder de compra muito restrito.
3) As demais 30% até podem ter banda larga, Netflix, cabo e outras formas de se informar e se entreter.
A queda de audiência das telenovelas já havia resultado na demissão dos “veteranos”, como ocorre agora no jornalismo. Em abril de 2018, a mesma Keila Jimenez já havia registrado essa mudança. “Após 35 anos de emissora, Malu Mader deixa a Globo. A atriz não teve seu contrato renovado. Malu não é a primeira nem a última de uma lista de atores veteranos, com salários altos, que estão perdendo o contrato fixo com a Globo... Assim foi também com Maitê Proença e Carolina Ferraz”.
“Nos bastidores da Globo é fato de que a emissora está em um processo de renovação e corte de gastos em seu casting. Ao mesmo tempo que não renova com atores veteranos (e mais caros), o canal corre para oferecer o famoso contrato de longo prazo para atores menos prestigiados, mas que fizeram sucesso no último trabalho... A conta é boa. Além de renovar seu time, o canal economiza pois contrata jovens e bons atores pagando pouco e se livra dos medalhões que ganham salários entre R$ 80 mil e R$ 200 mil mensais. A média de salário oferecido para os jovens que estão começando no canal está entre R$ 8 mil e R$ 12 mil para quem estiver no ar”.
A queda de audiência, que faz desabar a publicidade e consequentemente gera “corte de gastos” – como a demissão de profissionais é chamada friamente pelos patrões –, reforça a tese de que o modelo de negócios da TV Globo está “fadado ao fracasso”. Essa ideia foi defendida com ênfase por Guilherme Stoliar, presidente do rival Grupo Silvio Santos, em artigo publicado na Folha. Após dividir as cinco principais emissoras do país em dois blocos – a TV Globo seria o ricaço “Cirque du Soleil”, e SBT, Record, Band e RedeTV seriam o pobretão “Circo Garcia” – o executivo afirma que esse formato não se sustenta mais devido ao avanço dos meios digitais e à própria crise econômica. Vale conferir sua instigante e provocativa análise:
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Uma reflexão sobre a internet e a TV aberta
Por Guilherme Stoliar – Folha, 14 de março de 2019
Muito se pergunta a respeito do que acontecerá com a televisão aberta depois da internet banda larga. Tento responder com fatos nesta simples reflexão sobre os próximos cinco anos.
Dados.
1) Antes da internet banda larga, 100% da população tinha a televisão aberta como seu grande companheiro de informação e entretenimento.
2) No Brasil, mais de 70% das famílias vivem com uma renda familiar inferior a R$ 3.000 por mês. Poder de compra muito restrito.
3) As demais 30% até podem ter banda larga, Netflix, cabo e outras formas de se informar e se entreter.
O que constatamos: todos continuam assistindo à TV aberta.
Podemos dividir a televisão aberta em dois modelos, por suas características culturais e econômicas. O modelo Cirque du Soleil, que é a Globo, e o Circo Garcia, que são o SBT, a Record, a Band e a RedeTV!. Não considerei as demais emissoras porque as audiências são pequenas.
Esses modelos são a caricatura de como são produzidos e exibidos os conteúdos desses canais. E penso que ninguém tem dúvidas a respeito!
Até 2014, a televisão aberta reinava economicamente na mídia. Entretanto, de 2015 até 2018, a queda das suas receitas superou 30%. Uma parte foi perdida para a crise e outra, para os meios digitais, internet.
A Globo, o “Cirque du Soleil”, detinha e ainda detém, por pouco tempo, mais de 70% da receita do bolo publicitário das abertas, o que gerava até 2014, lucros auspiciosos. As outras emissoras, o “Circo Garcia”, arrecadavam o restante, vivendo com grandes dificuldades e sendo obrigadas a locar espaços para igrejas e outros arrendatários para fechar as contas.
Hoje, todas as emissoras abertas perderam 30% da receita e não conseguiram reduzir custos e despesas nessa proporção. Missão muito difícil para qualquer um.
Como reduzir o custo dos direitos de futebol brasileiro? Missão impossível! Como reduzir o custo e manter a qualidade das novelas? Outro problema! Resultado: muito prejuízo, inclusive e principalmente no “Cirque du Soleil”. Quem diria? Falo da TV Globo, não do Grupo Globo.
O que vejo pela frente.
1) O mercado da TV aberta ainda não estabilizou. Começamos o ano e a receita ainda está menor do que em 2018, especialmente pela falta das verbas de governo. Ainda não chegamos ao fundo desse poço.
2) O público da TV aberta ficará restrito às pessoas com renda familiar de até R$ 3.000. Esse grupo é representado por 70% da população, mas seu poder aquisitivo é pequeno.
3) A TV aberta tem 80% de sua receita advinda de aproximadamente cem grandes clientes. Estes, a partir de 2015, dadas a crise e as novas possibilidades da internet, reduziram suas verbas na aberta. Só lembrando: faturamos hoje 70% do que faturávamos em 2014.
4) Um fato importante e ilustrativo. Para você fazer um anúncio numa novela da Globo, o “Cirque du Soleil”, em rede nacional, um anunciante gastará R$ 800 mil e terá uma audiência de 30 pontos. Se fizer um anúncio nas novelas do SBT, Record, Band, o “Circo Garcia”, para atingir os mesmos 30 pontos, esse anunciante gastará R$ 250 mil. Pois é.
5) Em pouco tempo, esses cem anunciantes vão abrir os olhos, acabar com preconceitos e, para não ficarem de fora da televisão aberta, que ainda terá os 70% do público brasileiro, anunciarão cada vez mais no “Circo Garcia” e menos no “Cirque du Soleil”.
6) Uma coisa é certa, o dono do “Cirque du Soleil” não sabe fazer um “Circo Garcia”, e o contrário também é verdadeiro. É muito difícil a Globo reduzir seus custos na razão da atual conjuntura. A Globo não tem cultura e preparo para ser o Garcia e, se conseguir ser, terá sua receita dividida com as outras. E as demais emissoras, por força das necessidades, já estão ajustadas.
7) Se os donos do “Circo Garcia” conseguirem sobreviver por mais algum tempo, vão poder assistir a esse filme em no máximo cinco anos.
Nenhuma crítica ao Circo Garcia, que admiro muito. A televisão aberta é um veículo popular, como o são os 70% das famílias brasileiras.
Ver para crer!
* Guilherme Stoliar é presidente do Grupo Silvio Santos.
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