Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
“Os comunistas são o topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos monopólios…” (economista Abraham Weintraub, novo ministro da Educação, em palestra no final do ano passado, durante encontro de líderes de extrema direita, em Foz do Iguaçu, no Paraná).
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Começou tudo outra vez, com os mesmos discursos de 50 anos atrás.
“Maluf assume a prefeitura e fala sobre combate à ideologia marxista”: este é o título da coluna “Acervo Folha- Há 50 anos” de hoje (página A-4).
Num mesmo dia 8 de abril como este em que Weintraub foi nomeado ministro, só que em 1969, poucos meses após a edição do AI-5, Paulo Maluf disse em seu discurso de posse como prefeito nomeado de São Paulo pelo governo militar:
“A revolução não se limitou a manter a ordem pública, a restabelecer a autoridade, a combater a ideologia marxista-leninista e a punir corruptos. Ela transmitiu a confiança nas instituições democráticas”.
Cinismo à parte, o que temos agora é o mesmo discurso meio século envelhecido.
Chega a ser engraçado Maluf falar em “punir corruptos” no início da sua carreira, mas naquela época o Brasil estava sufocado pela ditadura militar e o pau quebrava na rua Maria Antonia, região central de São Paulo, onde estudantes da Universidade Mackenzie instalaram o QG do “Comando de Caça aos Comunistas”, o famigerado CCC, em guerra com os alunos da Faculdade de Filosofia.
O mais assustador na fala de Weintraub reproduzida na epígrafe deste texto é que ela repete quase ipsis literis o que os nazistas diziam sobre os judeus em 1930, como lembrou Gerd Wenzel, colunista da Deutsche Welle, em texto reproduzido pelo portal Brasil 247. Comparem:
“Os judeus são o topo do país. Eles são o topo das organizações financeiras; eles são os donos dos jornais; eles são os donos das grandes empresas; eles são os donos dos monopólios”.
É a reprise de um filme de horror comemorado por Bolsonaro na semana passada. Apenas os judeus, bodes expiatórios de Hitler, em 1939, foram substituídos pelos comunistas, em 1964.
É inacreditável que, 55 anos depois do golpe militar, o novo ministro da Educação de Bolsonaro se inspire em Paulo Maluf para combater o marxismo-leninismo.
Na nota “Nome de Guerra”, o “Painel” Folha informa na mesma página: “Membros do próprio governo brincaram nesta segunda (8) com a mística que se criou em torno de Weintraub chamando-o de `caçador de esquerdistas´”.
Quem conhece bem o novo comandante do MEC conta que, perto dele, o caricato e perigoso Vélez Rodriguez, defenestrado na segunda-feira, parece um tucano da ala moderada.
Pelo seu currículo, quase todo no mercado financeiro, Abraham Weintraub (significa uva para fazer vinho), que prefere ser chamado de Abraão, tem tanto a ver com políticas educacionais quanto eu com energia nuclear de última geração.
Como Vélez, ele também é seguidor da escola de filosofia esotérica de Olavo de Carvalho, que foi consultado e aprovou seu nome. Na mesma palestra em Foz, disse o novo ministro:
“Dá pra ganhar da esquerda se os conservadores adaptassem as ideias de Olavo - sem ser chato”.
Outra pérola do grande educador do bolsonarismo:
“Se um comunista chega com o papo ´nhoim, nhoim´, xinga. Nesse diálogo, não dar para ter premissas racionais”.
De fato, racionalidade é a última coisa que se pode esperar dessa gente esquisita da nova ordem que tomou o Brasil de assalto.
Depois não adianta vir com a história de que precisamos todos “torcer a favor do governo para o bem do Brasil”.
Só quem vive fora da realidade pode imaginar que a torcida vai tirar o Brasil do buraco em que se afunda cada vez mais.
Assim como já tem gente com saudades do Temer, “aquele grande estadista”, logo podermos sentir falta no MEC do colombiano ensandecido que não sabia falar português.
Se for assim, é melhor deixar tudo como está para não piorar ainda mais.
No lugar do chanceler do Olavo de Carvalho, o caçador de ursos, quem eles nomeariam?
Melhor nem pensar nisso.
Vida que segue.
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