Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Ali, o cineasta de "Tropa de Elite" escreve: "o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de 'samurai ronin,' uma alusão à independência' política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi" afirma o diretor de O Mecanismo, lamentável panfleto de louvação a Lava Jato, que serviu de peça de suporte do golpe de 2016.
Padilha afirma simplesmente que Moro "hoje é empregado da família Bolsonaro".
Referindo-se ao principal projeto de lei do governo Bolsonaro depois da reforma da Previdência, o cineasta escreve: "é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia."
Num país que desde 1 de janeiro de 2019 enfrenta um período histórico que pode se revelar longo e penoso, o natural seria valer-se do texto de Padilha como instrumento de reflexão política. Afinal, trata-se de um campeão de bilheterias que deixou o universo Lava Jato-Bolsonaro, onde era uma voz de primeira grandeza, para denunciar um ministro que desfila como possível opção numa futura sucessão presidencial.
Em vez disso, numa auto-suficiência que beira a irracionalidade, a postura-padrão em nossos botequins tem sido fazer pouco do artigo de Padilha, como se a oposição a Bolsonaro estivesse em condições de desprezar o necessário trabalho político de conquistar aliados e enfraquecer o bloco adversário.
A experiência de povos e nações recomenda o contrário.
Mostra que nenhum país pode libertar-se de uma situação política desfavorável, sem que sua população seja levada a refletir sobre a própria experiência, reexaminando antigas opiniões e atitudes.
Em 1984, a campanha por Diretas-Já, que abriu caminho ao fim da ditadura, foi liderada por Ulysses Guimarães - simplesmente um deputado que, vinte anos antes, em 1964, havia apoiado o golpe militar contra Jango.
No mesmo percurso, no final da década de 1970 o usineiro alagoanoTeotônio Vilela tornou-se um corajoso adversários da tortura e da defesa dos presos políticos.
A ruptura de Padilha tem o valor particular de quem corre o risco de admitir o próprio erro.
As pesquisas mostram que a maioria população está descobrindo que as prioridades do governo Bolsonaro não são as suas. A aprovação do governo não para de cair nos patamares de baixo da pirâmide social.
A denuncia de Padilha mostra que o mal-estar está presente nos andares de cima.
Considerando o desmanche em curso no país, outras rupturas virão.
Alguma dúvida?
Nas conversas de botequim desta difícil etapa da vida brasileira, um dos assunto do momento é o artigo de José Padilha publicado pela Folha, "O ministro anti-Falcone".
Ali, o cineasta de "Tropa de Elite" escreve: "o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de 'samurai ronin,' uma alusão à independência' política que, acreditava eu, balizava a sua conduta. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi" afirma o diretor de O Mecanismo, lamentável panfleto de louvação a Lava Jato, que serviu de peça de suporte do golpe de 2016.
Padilha afirma simplesmente que Moro "hoje é empregado da família Bolsonaro".
Referindo-se ao principal projeto de lei do governo Bolsonaro depois da reforma da Previdência, o cineasta escreve: "é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia."
Num país que desde 1 de janeiro de 2019 enfrenta um período histórico que pode se revelar longo e penoso, o natural seria valer-se do texto de Padilha como instrumento de reflexão política. Afinal, trata-se de um campeão de bilheterias que deixou o universo Lava Jato-Bolsonaro, onde era uma voz de primeira grandeza, para denunciar um ministro que desfila como possível opção numa futura sucessão presidencial.
Em vez disso, numa auto-suficiência que beira a irracionalidade, a postura-padrão em nossos botequins tem sido fazer pouco do artigo de Padilha, como se a oposição a Bolsonaro estivesse em condições de desprezar o necessário trabalho político de conquistar aliados e enfraquecer o bloco adversário.
A experiência de povos e nações recomenda o contrário.
Mostra que nenhum país pode libertar-se de uma situação política desfavorável, sem que sua população seja levada a refletir sobre a própria experiência, reexaminando antigas opiniões e atitudes.
Em 1984, a campanha por Diretas-Já, que abriu caminho ao fim da ditadura, foi liderada por Ulysses Guimarães - simplesmente um deputado que, vinte anos antes, em 1964, havia apoiado o golpe militar contra Jango.
No mesmo percurso, no final da década de 1970 o usineiro alagoanoTeotônio Vilela tornou-se um corajoso adversários da tortura e da defesa dos presos políticos.
A ruptura de Padilha tem o valor particular de quem corre o risco de admitir o próprio erro.
As pesquisas mostram que a maioria população está descobrindo que as prioridades do governo Bolsonaro não são as suas. A aprovação do governo não para de cair nos patamares de baixo da pirâmide social.
A denuncia de Padilha mostra que o mal-estar está presente nos andares de cima.
Considerando o desmanche em curso no país, outras rupturas virão.
Alguma dúvida?
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