Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Contrariando a visão convencional de que a eleição presidencial de 2018 expressou uma profunda virada ideológica na sociedade brasileira, duas pesquisas do Datafolha contem notícias devastadoras para os principais projetos do governo Bolsonaro.
Vinte e quatro horas depois da revelação de que a população recusa a reforma da Previdência por 51% a 41%, descobre-se que o pacote anti-crime de Sérgio Moro é alvo de uma recusa ainda mais enfática. Para 64%, a posse de armas, que Bolsonaro liberou como primeira medida de governo, simplesmente deve ser proibida.
Na mesma toada, 79% acreditam que policiais responsáveis por mortes ocorridas em serviço devem ser investigados como qualquer outra pessoa, em vez de protegidas por medidas que, em nome da proteção a seu trabalho, favorecem um deprimente histórico de violência e impunidade, que tem como exemplo mais recente a fuzilaria de Guadalupe, onde morreu o músico Evaldo Rosa.
Nos 100 dias do governo Bolsonaro, a mensagem é clara. Sérgio Moro pode ter a popularidade de um ídolo musical. Paulo Guedes não chegou a tanto, mas fica feliz quando tira selfies em viagem de avião.
Quando faz uma pausa para refletir sobre sua existência e de sua família, a maioria vai no essencial. Quer uma vida de paz. Não acredita na violência como solução para nenhum de seus problemas, mesmo a falta de segurança.
Também não abre mão de uma existência com dignidade, onde a noção de igualdade se combina com a ideia de justiça social -- e por isso condena mudanças destinadas a desfigurar a Previdência Social em benefício de investidores do mercado financeiro.
Expressão clara da vontade popular, recados dessa natureza não chegam a mudar as convicções mais profundas das autoridades, mas, sob um regime democrático, costumam ter o efeito saudável de estimular alterações de rumo e acertos de rota. É bom que seja assim.
A experiência de povos e países ensina que nenhuma crise -- econômica, social, política -- é tão grave nem tão difícil de resolver como aquela produzida e realimentada por autoridades que insistem em fazer seu trabalho sem contar com o apoio, ora ativo, ora silencioso, da maioria da população.
A persistência, de cima para baixo, em torno projetos que não dispõem do devido respaldo na sociedade costuma produzir situações insustentáveis, de permanente tensão política, que acabam resolvidas por métodos conhecidos.
Ou a sociedade se vale dos recursos oferecidos pela democracia para mudar de governo. Ou este tenta livrar-se da sociedade através de métodos autoritários e até ditaduras.
Divulgadas em momento mais do que oportuno, quando o Planalto inicia uma guerra selvagem para aprovar a reforma da Previdência, e a violência policial-militar permanece agindo descanso, estes levantamentos dão nova legitimidade a resistência e devem estimular ações unificadas das forças de oposição, esfaceladas desde a derrota em outubro.
Alguma dúvida?
Contrariando a visão convencional de que a eleição presidencial de 2018 expressou uma profunda virada ideológica na sociedade brasileira, duas pesquisas do Datafolha contem notícias devastadoras para os principais projetos do governo Bolsonaro.
Vinte e quatro horas depois da revelação de que a população recusa a reforma da Previdência por 51% a 41%, descobre-se que o pacote anti-crime de Sérgio Moro é alvo de uma recusa ainda mais enfática. Para 64%, a posse de armas, que Bolsonaro liberou como primeira medida de governo, simplesmente deve ser proibida.
Na mesma toada, 79% acreditam que policiais responsáveis por mortes ocorridas em serviço devem ser investigados como qualquer outra pessoa, em vez de protegidas por medidas que, em nome da proteção a seu trabalho, favorecem um deprimente histórico de violência e impunidade, que tem como exemplo mais recente a fuzilaria de Guadalupe, onde morreu o músico Evaldo Rosa.
Nos 100 dias do governo Bolsonaro, a mensagem é clara. Sérgio Moro pode ter a popularidade de um ídolo musical. Paulo Guedes não chegou a tanto, mas fica feliz quando tira selfies em viagem de avião.
Quando faz uma pausa para refletir sobre sua existência e de sua família, a maioria vai no essencial. Quer uma vida de paz. Não acredita na violência como solução para nenhum de seus problemas, mesmo a falta de segurança.
Também não abre mão de uma existência com dignidade, onde a noção de igualdade se combina com a ideia de justiça social -- e por isso condena mudanças destinadas a desfigurar a Previdência Social em benefício de investidores do mercado financeiro.
Expressão clara da vontade popular, recados dessa natureza não chegam a mudar as convicções mais profundas das autoridades, mas, sob um regime democrático, costumam ter o efeito saudável de estimular alterações de rumo e acertos de rota. É bom que seja assim.
A experiência de povos e países ensina que nenhuma crise -- econômica, social, política -- é tão grave nem tão difícil de resolver como aquela produzida e realimentada por autoridades que insistem em fazer seu trabalho sem contar com o apoio, ora ativo, ora silencioso, da maioria da população.
A persistência, de cima para baixo, em torno projetos que não dispõem do devido respaldo na sociedade costuma produzir situações insustentáveis, de permanente tensão política, que acabam resolvidas por métodos conhecidos.
Ou a sociedade se vale dos recursos oferecidos pela democracia para mudar de governo. Ou este tenta livrar-se da sociedade através de métodos autoritários e até ditaduras.
Divulgadas em momento mais do que oportuno, quando o Planalto inicia uma guerra selvagem para aprovar a reforma da Previdência, e a violência policial-militar permanece agindo descanso, estes levantamentos dão nova legitimidade a resistência e devem estimular ações unificadas das forças de oposição, esfaceladas desde a derrota em outubro.
Alguma dúvida?
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