terça-feira, 7 de maio de 2019

Bateu o desespero na economia

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Em sua excelente coluna de domingo na Folha, Vinicius Torres Freire, diante da estagnação econômica, diz que “começa a bater o desespero”.

“Economistas sorriem amarelo, sem graça com as previsões furadas de recuperação. Mais que isso, parecem desnorteados, sem explicações precisas para o fato de mesmo o broto verde e mirrado do PIB estar murchando. Empresários parecem com medo, nervosos ou acham que a retomada de 2019 deu chabu… Gente do governo começa a falar em ‘pacotes’ e ‘medidas’ para estimular o crescimento.”

Mas como poderia ser de outra maneira?

No fim dos quatro anos de desenvolvimentismo equivocado do governo Dilma, o país se viu diante de uma crise fiscal e de uma recessão. Desde janeiro de 2015 (com uma breve interrupção quando Nelson Barbosa foi ministro da Fazenda) estamos vivendo quatro anos de liberalismo econômico ainda mais equivocados, o governo agindo de forma procíclica e, assim, impedindo que a recuperação cíclica aconteça.

Quando acontece um desajuste econômico, como aconteceu a partir de 2014, há duas possibilidades: ou o desajuste se expressa em aumento do deficit público, excesso de demanda e inflação, ou o deficit fiscal está acompanhado por falta de demanda, crise econômica, como aconteceu em 2015.

Diante do primeiro caso, o ajuste fiscal é a solução correta, diante do segundo, é preciso lembrar Keynes e, não obstante a crise fiscal, expandir o investimento público enquanto se corta a despesa corrente do Estado.

Ora, os liberais que nos governam não reconhecem essa distinção.

Para eles a solução mágica é cortar a despesa pública, seja ela corrente ou de investimento.

E é o que têm feito desde a alucinada gestão de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

O investimento público vem sendo cortado impiedosamente, mais do que a despesa corrente porque é mais fácil cortá-lo. O Banco Central, entre janeiro e setembro de 2015 continuou aumentando a Selic, a manteve em 14,25% por um ano inteiro, e só a partir de agosto de 2016 começou a reduzi-la, mas timidamente.

O crédito, que a partir de 2014 foi espremido pela crise financeira, assim continuou nos anos seguintes, os bancos aumentando compensatoriamente sua margem para proteger seus lucros.

O BNDES, que financiava grande parte do investimento privado inclusive as privatizações e concessões de serviços públicos, perdeu o crédito do Tesouro e vem sendo deliberadamente desmontado.

Os valores das aprovações e das liberações do BNDES no 3ª trimestre de 2017 correspondiam, respectivamente, a 20% e 25% dos montantes alcançados no último trimestre de 2014.

Mas diante da estagnação o que faz o governo que está aí há quatro meses? Absolutamente nada.

Pouco importa que o elevado desemprego aumente, que a desigualdade volte a aumentar, que as empresas, sufocadas pela falta de demanda, se encolham senão quebrem.

Não adota nenhuma política contracíclica.

Só fala na reforma da Previdência, que realmente é necessária, mas terá efeitos apenas no longo prazo.

Como diz o grande jornalista, Janio de Freitas, também hoje na Folha, “Paulo Guedes, na verdade, está voando entre os astros, distraído. A desculpa é a espera da “reforma da Previdência”, como se fosse um milagre que a tudo ativaria, inclusive a Paulo Guedes.”

Os brasileiros não têm diante de si um governo, mas um desgoverno.

Que nos envergonha. Os supostos governantes apenas repetem mantras e propostas arquiconservadoras.

Por isso, ainda na Folha de hoje, Antonio Prata escreve uma crônica antológica.

Os brasileiros que se dividiam entre desenvolvimentistas e neoliberais, ou entre de centro-esquerda e de centro-direita, agora começam a esquecer duas diferenças diante da loucura bolsonarista. E conclui Prata: “Precisamos de um movimento como o das Diretas Já. Do sociólogo ao metalúrgico. Da feminista negra ao pastor.”

Sim, bateu o desespero. Não apenas nos neoliberais que apoiam o governo na esperança de que ele faça as reformas. Não apenas nos conservadores que nada têm a ver com os olavos de carvalho da vida.

Estamos todos desesperados, ou, melhor, estamos todos indignados.

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