sábado, 18 de maio de 2019

Bolsonaro assume opção pelo golpe de Estado

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Sempre que se imagina o fim precoce do governo Jair Bolsonaro, convém recordar as opções legais para isso acontecer.

Para a renúncia, é preciso aguardar pela concordância do principal interessado.

Para a apresentação e aprovação de um pedido de impeachment, é preciso contar com uma maioria parlamentar de dois terços, sem falar na indispensável concordância do Judiciário.

Essas condições mostram que a queda de Bolsonaro, mesmo que seja vista como uma necessidade para interromper um processo selvagem de auto-destruição do país, está longe de ser uma opção simples e fácil.

Envolve reações e contra-reações, num processo que mobiliza forças e interesses de envergadura, internos e externos.

Implica, em primeiro lugar, a postura do próprio presidente, como mostra a leitura de um tenebroso texto atribuído a um obscuro militante do Novo, que o próprio Bolsonaro compartilhou em suas redes sociais 48 horas depois do protesto de 15 maio, quando 2 milhões de brasileiros e brasileiras foram às ruas do país.

Ali, depois de retratar o que seria um país "ingovernável", vislumbra-se um golpe de Estado como a única saída para os impasses do país, solução inevitável para derrotar o que chama de força das "corporações" que estariam dominando as várias esferas da República desde sempre.

"A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado, sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada", diz o texto que o presidente compartilhou.

Pela retórica, o texto repete os argumentos típicos das intervenções de força contra os regimes democráticos. Elas sempre procuram forjar justificativas para gestos condenáveis, que contrariam a Constituição de um país e colocam uma nação inteira sob um regime de treva.

Numa passagem particularmente significativa, o texto utiliza o recente conflito entre o guru-pornógrafo Olavo de Carvalho com os ministros militares como mais um argumento para uma intervenção de força: "Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante".

Ou seja: não se quer dar um golpe para instalar uma ditadura mas para libertar o país de um "cárcere sufocante". Entendeu? Como sempre acontece, é mais fácil entender um texto político em seu contexto mais amplo.

Definido como "pária" internacional pelo Financial Times, Bolsonaro compartilhou tais aberrações políticas sobre o Brasil num momento em que seus aliados começam a preparar um ato público para o dia 26.

Nesta data, o bolsonarismo tentará disfarçar o próprio isolamento político, configurado nas ruas de 15 de maio - e ainda nos conflitos no Congresso, na decepção de empresários e de aliados políticos que lhe deram apoio para derrotar o PT em 2018, para não mencionar o aperto das investigações contra seu filho Flávio, o amigo Queiroz e os fantasmas das milícias.

Se tivesse a postura de um presidente da República, Bolsonaro teria tomado iniciativas para responder aos protestos legítimos da população contra cortes na educação pública. É sua obrigação.

Portando-se como um chefe de facção, Bolsonaro investe na divisão do país, elevando a polarização da sociedade para um novo patamar de confronto, de consequências imprevisíveis.

Aqui, numa demonstração grotesca de sua falta de compromissos com a Constituição que jurou defender em 1 de janeiro, compartilha um texto onde se defende uma "ruptura institucional irreversível".

Alguma dúvida?

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