Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
No dia 29 de dezembro de 2018, três dias antes da posse de Bolsonaro, escrevi uma coluna na página 2 da Folha com este título:
“Vem aí outro Jânio Quadros?”.
Diante do desastre ferroviário do governo Bolsonaro, como diria Mino Carta, em menos de cinco meses já tem muita gente comparando estes dois presidentes, mas isso é injusto.
Jânio também tinha jeito de maluco, mas era professor, um homem culto.
Antes ser de eleito presidente, foi prefeito e governador de São Paulo e, em seu governo, contou com ministros muito competentes e respeitados.
Bolsonaro é completamente tosco, um ignaro, militar expulso do Exército por indisciplina, que durante sete mandatos foi um deputado do baixo clero, completamente inexpressivo, dedicado a xingar seus adversários e defender a ditadura e a tortura. E seu ministério é uma piada, um circo de horrores.
O que, afinal, eles tinham em comum?
Foi o que escrevi no texto da véspera da posse:
“Jânio não era um homem de partido, não pertencia a nenhum clã político, combatia a velha política, andava em mangas de camisa, encarava o moralismo autoritário e fez da vassoura seu símbolo numa campanha baseada no combate à corrupção”.
As semelhanças terminavam aí. Mas agora surge outro replay, como está no subtítulo da coluna:
“Após surgir como um furacão, ele jogou tudo para o alto e afundou o país”.
É o que está prestes a acontecer novamente.
Em lugar da vassoura, Bolsonaro faz arminha com os dedos, ameaça metralhar os adversários, tem chiliques quando fala com a imprensa e não faz a menor ideia de para onde está indo.
Temo que, como Jânio, ele também esteja pensando em fechar o Congresso num autogolpe para voltar nos braços do povo.
Se não deu certo com Jânio, que era muito mais preparado do que ele, e acabou indo no seu Fusquinha para Santos, onde embarcou num navio cargueiro para a Inglaterra, agora um surto autoritário desses só pode acabar em tragédia.
Estamos falando de algo que aconteceu quase 60 anos atrás, e parece que o Brasil não aprendeu nada.
Elegemos outro doido varrido, um ex-militar ressentido, que só quer se vingar dos seus superiores, e de todos os que se colocarem no seu caminho para cumprir as leis e defender a democracia.
Jânio podia ser louco, mas não rasgava dinheiro, ao contrário desse idiota inútil, que está destruindo o país, para combater o “comunismo” que só existe na imaginação dele.
Além disso, o vice de Jânio era João Goulart, um democrata trabalhista, que queria fazer as reformas de base e defender o patrimônio e a soberania nacionais, na contramão do entreguismo do capitão Jair Bolsonaro, disposto a oferecer o Brasil de porteira fechada.
As lições do passado deveriam servir para não repetirmos os mesmos erros, mas agora é tudo muito pior.
Dá até saudade dos tempos alucinados de Jânio Quadros e dos seus bilhetinhos. Era tudo muito mais engraçado.
Esse pessoal boçalnariano não tem graça nenhuma. Além de medíocres, são todos figurinhas tristes.
Quem será capaz de parar este trem fantasma desgovernado?
Vida que segue.
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