Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:
Em sua peculiar forma de se expressar, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou, na sexta-feira passada (10/5), que esta semana poderia trazer “um tsunami” para o governo, e consequentemente para o país. Não deu nenhuma pista de quando, como e de onde surgiria essa onda devastadora, mas assegurou que seu governo saberá enfrentá-la.
Certamente, uma das possibilidades de tsunami está relacionada aos escândalos que rodeiam o trio de filhos presidenciais. O anúncio desta noite de segunda-feira (13/5), de que a Justiça determinou a quebra dos sigilos bancários do filho senador, Flávio Bolsonaro, e de seu ex-assessor, Fabrício Queiróz (espécie de operador da família presidencial), disparou os alarmes, que poderiam ser mais sonoros futuro, já que os outros dois filhos também estão sob investigação – por isso mesmo, os analistas políticos brasileiros indicam que este seria só um primeiro movimento mais brusco das águas, que poderia ser seguido por outros.
A ponto de completar seus primeiros cinco meses liderando o governo com arrancada mais turbulenta da história da república brasileira – ou seja, dos últimos 130 anos –, o mandatário ultradireitista reforçou, com suas palavras, o clima de profunda incerteza em que o país vive desde o dia 1º de janeiro de 2019.
Nesse curto período, Bolsonaro viu sua popularidade desabar de forma significativa, desgastando as expectativas de um dos setores que mais apostaram em sua gestão: a banca e o mercado financeiro. As projeções para o desempenho da economia, que em janeiro indicavam um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, agora esperam por uma expansão que, na mais otimista das hipóteses, será de 1,5%. Por outro lado, também se fortalecem as projeções de um crescimento negativo, ou muito próximo a 1%, o que levaria a um cenário de mais recessão, bem conhecido pelo país, já que o vem castigando desde o golpe institucional que destituiu a então presidenta Dilma Rousseff, em 2016.
Nas últimas semanas, os conflitos entre os setores que compõem o governo se aprofundaram de forma preocupante, especialmente os relacionados ao grupo dos militares e o chamado “campo ideológico”, que segue as a linha de pensamento do astrólogo – autodenominado filósofo – Olavo de Carvalho, residente em Richmond, no estado norte-americano da Virgínia.
Entre outras delicadezas, Carvalho classificou o general da reserva Alberto dos Santos Cruz, que ocupa a Secretara Geral de Governo, como “bosta engomada”. A escalada de grosserias disparadas pelo astrólogo contra o núcleo militar do governo é constantemente reforçada por um dos filhos do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, que controla as redes sociais do padre.
Reunidos com o presidente, os militares de mais alta patente que integram o governo pressionaram para que se coloque um ponto final nas agressões, e principalmente na ampliação do alcance das mesmas, por obra do filho presidencial.
O presidente, entretanto, deixou clara sua admiração pelo astrólogo, e indicou que seu filho tem liberdade para se expressar.
O crescente mal-estar seria, portanto, uma das razões do possível tsunami anunciado: um abandono coletivo dos quase duzentos militares que ocupam postos destacados nos mais variados níveis do governo.
Segundo os jornalistas que acompanham a dinâmica de Brasília, as Forças Armadas se encontram, neste momento, numa espécie de beco sem saída. Esperavam ser uma força de contenção das atitudes mais conflitivas de Bolsonaro, mas já perceberam que tal missão é impossível. Abandonar o governo seria dar início a um período de instabilidade, cujas consequências são imprevisíveis.
Outra frente do tsunami poderia surgir nesta quarta-feira (15/5), na qual estão previstas manifestações por todo o país contra o corte do orçamento destinado à educação.
Dependendo da dimensão dos protestos, a jornada poderia marcar o ponto de partida para uma série de atos espalhados pelo país, contra o governo que, em apenas cinco meses, não apresentou nenhuma iniciativa destinada a superar a crise que aflige os brasileiros.
Há, em todo caso, outras possíveis causas de tsunami, como o que foi previsto pelo capitão presidente.
A absoluta falta de qualquer articulação eficaz com o Congresso levou o governo a sofrer uma série de derrotas na semana passada. Para esta semana, se anuncia um panorama preocupante. Entre outros temas em votação estará o da reestruturação dos ministérios, adotada por Bolsonaro pela via de um decreto presidencial que requer aprovação do Legislativo antes do dia 3 de junho, ou perderá sua validade.
A virtual paralisia do governo, por outra parte, provoca um grave desgaste na opinião pública. A tensão vai crescendo, e indica que poderia haver não um único tsunami, mas sim uma sequência deles. Veremos o que acontecerá.
* Publicado originalmente no jornal argentino Página12. Tradução de Victor Farinelli.
Em sua peculiar forma de se expressar, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou, na sexta-feira passada (10/5), que esta semana poderia trazer “um tsunami” para o governo, e consequentemente para o país. Não deu nenhuma pista de quando, como e de onde surgiria essa onda devastadora, mas assegurou que seu governo saberá enfrentá-la.
Certamente, uma das possibilidades de tsunami está relacionada aos escândalos que rodeiam o trio de filhos presidenciais. O anúncio desta noite de segunda-feira (13/5), de que a Justiça determinou a quebra dos sigilos bancários do filho senador, Flávio Bolsonaro, e de seu ex-assessor, Fabrício Queiróz (espécie de operador da família presidencial), disparou os alarmes, que poderiam ser mais sonoros futuro, já que os outros dois filhos também estão sob investigação – por isso mesmo, os analistas políticos brasileiros indicam que este seria só um primeiro movimento mais brusco das águas, que poderia ser seguido por outros.
A ponto de completar seus primeiros cinco meses liderando o governo com arrancada mais turbulenta da história da república brasileira – ou seja, dos últimos 130 anos –, o mandatário ultradireitista reforçou, com suas palavras, o clima de profunda incerteza em que o país vive desde o dia 1º de janeiro de 2019.
Nesse curto período, Bolsonaro viu sua popularidade desabar de forma significativa, desgastando as expectativas de um dos setores que mais apostaram em sua gestão: a banca e o mercado financeiro. As projeções para o desempenho da economia, que em janeiro indicavam um crescimento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, agora esperam por uma expansão que, na mais otimista das hipóteses, será de 1,5%. Por outro lado, também se fortalecem as projeções de um crescimento negativo, ou muito próximo a 1%, o que levaria a um cenário de mais recessão, bem conhecido pelo país, já que o vem castigando desde o golpe institucional que destituiu a então presidenta Dilma Rousseff, em 2016.
Nas últimas semanas, os conflitos entre os setores que compõem o governo se aprofundaram de forma preocupante, especialmente os relacionados ao grupo dos militares e o chamado “campo ideológico”, que segue as a linha de pensamento do astrólogo – autodenominado filósofo – Olavo de Carvalho, residente em Richmond, no estado norte-americano da Virgínia.
Entre outras delicadezas, Carvalho classificou o general da reserva Alberto dos Santos Cruz, que ocupa a Secretara Geral de Governo, como “bosta engomada”. A escalada de grosserias disparadas pelo astrólogo contra o núcleo militar do governo é constantemente reforçada por um dos filhos do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, que controla as redes sociais do padre.
Reunidos com o presidente, os militares de mais alta patente que integram o governo pressionaram para que se coloque um ponto final nas agressões, e principalmente na ampliação do alcance das mesmas, por obra do filho presidencial.
O presidente, entretanto, deixou clara sua admiração pelo astrólogo, e indicou que seu filho tem liberdade para se expressar.
O crescente mal-estar seria, portanto, uma das razões do possível tsunami anunciado: um abandono coletivo dos quase duzentos militares que ocupam postos destacados nos mais variados níveis do governo.
Segundo os jornalistas que acompanham a dinâmica de Brasília, as Forças Armadas se encontram, neste momento, numa espécie de beco sem saída. Esperavam ser uma força de contenção das atitudes mais conflitivas de Bolsonaro, mas já perceberam que tal missão é impossível. Abandonar o governo seria dar início a um período de instabilidade, cujas consequências são imprevisíveis.
Outra frente do tsunami poderia surgir nesta quarta-feira (15/5), na qual estão previstas manifestações por todo o país contra o corte do orçamento destinado à educação.
Dependendo da dimensão dos protestos, a jornada poderia marcar o ponto de partida para uma série de atos espalhados pelo país, contra o governo que, em apenas cinco meses, não apresentou nenhuma iniciativa destinada a superar a crise que aflige os brasileiros.
Há, em todo caso, outras possíveis causas de tsunami, como o que foi previsto pelo capitão presidente.
A absoluta falta de qualquer articulação eficaz com o Congresso levou o governo a sofrer uma série de derrotas na semana passada. Para esta semana, se anuncia um panorama preocupante. Entre outros temas em votação estará o da reestruturação dos ministérios, adotada por Bolsonaro pela via de um decreto presidencial que requer aprovação do Legislativo antes do dia 3 de junho, ou perderá sua validade.
A virtual paralisia do governo, por outra parte, provoca um grave desgaste na opinião pública. A tensão vai crescendo, e indica que poderia haver não um único tsunami, mas sim uma sequência deles. Veremos o que acontecerá.
* Publicado originalmente no jornal argentino Página12. Tradução de Victor Farinelli.
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