Por Luís Felipe Miguel, no Diário do Centro do Mundo:
A Folha quer nos fazer acreditar que as manifestações de ontem foram predominantemente em favor de Guedes e do fim da previdência.
Mesmo no próprio jornal, não há uma foto que corrobore essa afirmação. A custo, em toda a cobertura, aparecem dois depoimentos nesta direção – um deles de um jovem ajudante de pedreiro que afirma estar na rua “pelo pacote do Moro, pela reforma da previdência e contra os ministros do STF”.
A última parte do discurso do ajudante de pedreiro é, na verdade, a que dominou as ruas. Ele mesmo desenvolve a ideia, na continuação de sua fala: “Bolsonaro está tentando governar, mas tem interferência do Parlamento”.
O jornal nem escondia sua frustração com o fato de que Rodrigo Maia, “um dos principais defensores da reforma da Previdência”, era “contraditoriamente” criticado nos atos.
O fato é que o desmonte dos direitos e do que nos resta de Estado social tem dificuldade de ganhar as ruas. Guedes faz sucesso entre ricos e wannabes, mas pouco fora deste círculo tão minoritário. A destruição da democracia se mostra bem mais popular. Justamente por isso, o programa ultraliberal costuma se acoplar a projetos autoritários.
No Brasil, muitos que sonharam com uma restrição contida das instituições liberal-democráticas (retirar a Dilma, criminalizar o PT, sanitizar o processo eleitoral) agora estão torcendo o nariz para Bolsonaro. Em parte, talvez, por uma sincera repulsa ao autoritarismo explícito do ex-capitão. Mas em grande parte porque ele está falhando em seguir a prioridade “certa”, que é o desmonte do sistema previdenciário.
A parcela da direita que quer se dissociar do governo tem uma tarefa difícil pela frente. Os rapazes do MBL podiam se pôr à prova agora e chamar uma passeata com a palavra de ordem deles: “Pela reforma da Previdência, com o Centrão, com o Supremo, com tudo”. Vamos ver quanta gente vai.
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