Foto: Franklin Freitas |
As grandes manifestações que pela segunda vez tomaram conta do país neste 30 de maio contra os cortes na educação, protagonizadas por professores e estudantes, não se limitaram a esta pauta como quer fazer crer a mídia monopolista.
Somam-se a aos protestos cada vez mais pessoas mobilizadas pela luta para impedir o fim das aposentadorias, a liquidação total de direitos e a entrega da riqueza nacional. Os sentimentos comuns entre os manifestantes são a indignação diante da destruição do país, a obrigação cidadã de resistir às políticas retrógradas e obscurantistas do governo e a forte oposição ao conjunto da agenda econômica dos que estão no poder.
Não é à toa que uma das palavras de ordem mais entoadas tem sido “a nossa luta unificou, é estudante junto com trabalhador.” Contudo, para a mídia, o descontentamento crescente de parcela expressiva da população é movido exclusivamente pelos cortes lineares e brutais das verbas das universidades, capazes de inviabilizar seu funcionamento, paralisando o ensino e a pesquisa.
Domingo passado, 26 de maio, as ruas do país receberam uma espécie de seleção dos brasileiros mais estúpidos, recalcados, de baixa autoestima e que carregam um sentimento de vingança em relação aos que pensam, refletem, estudam e são dotados de senso crítico.
Pois bem, para se apropriar do movimento destes hunos, a Globo e suas irmãs siamesas não hesitaram em transformar a defesa incondicional que os manifestantes fizeram do presidente fascista em uma gloriosa e cívica jornada em defesa das bandeiras que lhes interessam: a reforma da previdência e o pacote de Moro.
Nenhuma surpresa, a não ser para os que acreditaram que a mídia mafiosa estava mesmo em rota de colisão irrefreável com Bolsonaro. Isso, diga-se de passagem, pode até acontecer, mas só depois que ele entregar a mercadoria dos sonhos do mercado financeiro e dos grupos de mídia: o fim da previdência pública e a consagração do estado policial resultante da aprovação do “pacote anticrime” de Moro.
Da manipulação descarada das manifestações de 2013 à caçada e à prisão de Lula; do jornalismo de guerra contra Dilma à consumação do golpe de estado; da criminalização do PT e da demonização da atividade política à criação de uma legião de descerebrados movidos a ódio, todos, literalmente todos os episódios que culminaram na maior tragédia da nossa história têm as digitais do cartel da mídia.
E aqui não espaço para ilusões: só desfrutaremos de um regime genuinamente democrático quando a mídia for democratizada e regulada economicamente. Todas as democracias avançadas do mundo já trilharam este caminho. E isso nada tem a ver com posicionamento político-ideológico de governo. Na Europa e nos EUA é questão de Estado.
Não sei se teríamos correlação de forças favorável à regulação democrática da mídia durante os governos petistas. Mas, sem dúvida, o erro estratégico mais grave de Lula e Dilma, cujas consequências sentimos na pele duramente nos dias atuais, foi não ter pelo menos enfrentado este debate com a sociedade, para tentar mudar uma possível correlação de forças adversa. Havia capital político para isso, especialmente no segundo mandato de Lula.
Volto ao assunto no próximo artigo.
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