Charge: Cristóvão Villela |
Sangue frio e olho vivo. Já é possível retirar duas conclusões rápidas sobre as manifestações de apoio a Bolsonaro.
Primeiro, foram ações de uma franja mais ressentida e enfurecida da contrarrevolução, mas sem conseguir arrastar setores de massa da classe média. Neste domingo (26), a mágoa da classe média com o Brasil em estagnação e decadência saiu às ruas vestida de amarelo. A ansiedade, a angústia, a insegurança diante do futuro continua radicalizando setores sociais intermédios, que fantasiam que a sua vida deveria ser mais segura, como se vivessem na Europa, ou nos EUA, que passaram a visitar em excursões. O que move esta multidão zangada é uma visão do mundo. Compartilham a percepção ingênua de que o problema do Brasil é a roubalheira. Mas é muito mais do que o mal-estar com a corrupção. É o cada um por si, todos contra todos.
É uma nostalgia romantizada de ordem e autoridade em cidades em que o abismo social da desigualdade permanecia segregado e invisível nas favelas e periferias. É um medo social profundo diante do perigo de empobrecimento em uma sociedade em que o dinheiro define o estatuto do privilégio. É uma hostilidade ofendida contra os impostos que pagam e os serviços públicos que não recebem. É uma uma aflição triste e uma amargura invejosa. Cobiçam o modo de vida dos, realmente, muito ricos. Têm muita pena de si mesmos. Desprezam a condição da maioria pobre.
É o ódio contra a auto-organização orgulhosa dos LGBT’s, o rancor contra o movimento negro que legitima as campanhas que criminalizam o racismo, o horror diante do feminismo que arrebata a nova geração de mulheres jovens. Tudo isso associado à repulsa e desrespeito que têm pelos sindicatos e movimentos populares, a aversão e desdém que têm pela esquerda. Têm muita pena de si mesmos,
O bolsonarismo errou ao convocá-las sob a bandeira bonapartista, embora tenham tentado, nos últimos dias, se reposicionar, atabalhoadamente.
A condução errática, ziguezagueante de Bolsonaro – convoca, mas não vai – teve um efeito desagregador de sua base. Não conseguiu o impacto que necessitava para desafiar o centrão com a bandeira de “todo o poder ao capitão”. Em consequência, dividiu a extrema direita. A “operação abafa e enquadramento” de Bolsonaro, a partir de amanhã, terá mais dificuldades. Segundo, o outro lado: esta divisão na extrema direita levou a ala neofascista a sair sozinha nas ruas, pela primeira vez. Arriscaram. Saíram sob suas próprias bandeiras. Isso foi uma mudança de qualidade. A primeira conclusão é mais importante que a segunda. Muito mais importante. Mas não anula a segunda.
Foi derrota parcial. Eram muito menos numerosos que a grandiosa mobilização de jovens em defesa da Educação pública. Perderam a hegemonia nas ruas que haviam conquistado em 2015/16. Mas não era uma iniciativa “frontal”. Desde o início era um movimento “lateral”. Reposicionaram-se nos últimos dias. Uma corrente neofascista dura está, todavia, em construção.
Estão no governo e na disputa pelo poder. Portanto, também acumularam forças.
Os neofascistas são uma gente esquisita e perigosa. Muito perigosa.
Primeiro, foram ações de uma franja mais ressentida e enfurecida da contrarrevolução, mas sem conseguir arrastar setores de massa da classe média. Neste domingo (26), a mágoa da classe média com o Brasil em estagnação e decadência saiu às ruas vestida de amarelo. A ansiedade, a angústia, a insegurança diante do futuro continua radicalizando setores sociais intermédios, que fantasiam que a sua vida deveria ser mais segura, como se vivessem na Europa, ou nos EUA, que passaram a visitar em excursões. O que move esta multidão zangada é uma visão do mundo. Compartilham a percepção ingênua de que o problema do Brasil é a roubalheira. Mas é muito mais do que o mal-estar com a corrupção. É o cada um por si, todos contra todos.
É uma nostalgia romantizada de ordem e autoridade em cidades em que o abismo social da desigualdade permanecia segregado e invisível nas favelas e periferias. É um medo social profundo diante do perigo de empobrecimento em uma sociedade em que o dinheiro define o estatuto do privilégio. É uma hostilidade ofendida contra os impostos que pagam e os serviços públicos que não recebem. É uma uma aflição triste e uma amargura invejosa. Cobiçam o modo de vida dos, realmente, muito ricos. Têm muita pena de si mesmos. Desprezam a condição da maioria pobre.
É o ódio contra a auto-organização orgulhosa dos LGBT’s, o rancor contra o movimento negro que legitima as campanhas que criminalizam o racismo, o horror diante do feminismo que arrebata a nova geração de mulheres jovens. Tudo isso associado à repulsa e desrespeito que têm pelos sindicatos e movimentos populares, a aversão e desdém que têm pela esquerda. Têm muita pena de si mesmos,
O bolsonarismo errou ao convocá-las sob a bandeira bonapartista, embora tenham tentado, nos últimos dias, se reposicionar, atabalhoadamente.
A condução errática, ziguezagueante de Bolsonaro – convoca, mas não vai – teve um efeito desagregador de sua base. Não conseguiu o impacto que necessitava para desafiar o centrão com a bandeira de “todo o poder ao capitão”. Em consequência, dividiu a extrema direita. A “operação abafa e enquadramento” de Bolsonaro, a partir de amanhã, terá mais dificuldades. Segundo, o outro lado: esta divisão na extrema direita levou a ala neofascista a sair sozinha nas ruas, pela primeira vez. Arriscaram. Saíram sob suas próprias bandeiras. Isso foi uma mudança de qualidade. A primeira conclusão é mais importante que a segunda. Muito mais importante. Mas não anula a segunda.
Foi derrota parcial. Eram muito menos numerosos que a grandiosa mobilização de jovens em defesa da Educação pública. Perderam a hegemonia nas ruas que haviam conquistado em 2015/16. Mas não era uma iniciativa “frontal”. Desde o início era um movimento “lateral”. Reposicionaram-se nos últimos dias. Uma corrente neofascista dura está, todavia, em construção.
Estão no governo e na disputa pelo poder. Portanto, também acumularam forças.
Os neofascistas são uma gente esquisita e perigosa. Muito perigosa.
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