Por Ayrton Centeno, no jornal Brasil de Fato:
O Brasil vive uma situação insólita: possui excesso de democratas mas convive com muito pouca democracia. Democratas saíram às ruas no domingo 26 para, muitos deles, pedirem o fim da democracia com o fechamento do Congresso e do Supremo. Democraticamente.
É preciso admitir, porém, que nem o parlamento nem o judiciário são, por assim dizer, entusiastas da democracia. Ambos assinaram embaixo dos golpes de estado de 1964 e de 2016. Mais delicada ainda a situação do STF. Embora entre suas atribuições conste o papel de “Guardião da Constituição”, num momento e noutro, achou por bem cuidar mais de suas lagostas do que da Carta Magna. Assim, em Pindorama, o amor dos democratas por sua condição convive sem sobressaltos com sua ojeriza à democracia.
Democratas derrubaram um regime democrático em 1964. Atrás dos canhões, militavam na União Democrática Nacional (UDN) e no Partido Social Democrata (PSD). Embora o governo João Goulart fosse democrático, com plenas liberdades e imprensa livre para atacá-lo dia e noite, os mais democratas entre os democratas entenderam que não era bem assim e, para defender a democracia, implantaram uma ditadura. Democrática, é claro, autodenominada “Revolução Democrática de 31 de Março de 1964”.
Tão democrática que o jornal O Globo decidiu saudá-la com a manchete “Ressurge a Democracia”… O jornal da família Marinho entendia que a democracia golpeada era uma ditadura disfarçada. Então, aderiu à democracia disfarçada de ditadura.
Em 1984, ao se deparar com gigantesco comício na Praça da Sé, com a multidão reclamando democracia, a TV Globo não acreditou naquela bizarrice e interpretou aquilo como um parabéns pelo aniversário de São Paulo. Demorou 50 anos a se dar conta do lapso. Algo que se revelou conveniente, uma vez que, ao longo daquele produtivo auto-engano, transformou-se, sem querer querendo, num dos maiores impérios de comunicação do planeta.
Da mesma forma que em 1964, os três principais partidos que urdiram o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff orgulham-se da democracia tanto que a carregam em seus nomes: o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Democratas (DEM).
É democracia de sobra, para ninguém botar defeito. Ou melhor, sempre tem alguém que bota defeito: O DEM, por exemplo, foi parido como Arena e saiu das entranhas da ditadura, mesma genitora do MDB. E o PSDB, por sua vez, nasceu de uma costela – a que supostamente seria menos fisiológica – do MDB.
Tudo parece nos levar, infinitamente, ao mesmo movimento, o de construir uma sociedade de democratas mas sem democracia, esse troço que tanto nos atrapalha. Que nos expõe em shoppings, aeroportos e universidades à pior das gentalhas. Mas um dia a gente chega lá. Enquanto isso não acontece vamos gritar “Intervenção Militar Já!” Democrática, é claro.
É preciso admitir, porém, que nem o parlamento nem o judiciário são, por assim dizer, entusiastas da democracia. Ambos assinaram embaixo dos golpes de estado de 1964 e de 2016. Mais delicada ainda a situação do STF. Embora entre suas atribuições conste o papel de “Guardião da Constituição”, num momento e noutro, achou por bem cuidar mais de suas lagostas do que da Carta Magna. Assim, em Pindorama, o amor dos democratas por sua condição convive sem sobressaltos com sua ojeriza à democracia.
Democratas derrubaram um regime democrático em 1964. Atrás dos canhões, militavam na União Democrática Nacional (UDN) e no Partido Social Democrata (PSD). Embora o governo João Goulart fosse democrático, com plenas liberdades e imprensa livre para atacá-lo dia e noite, os mais democratas entre os democratas entenderam que não era bem assim e, para defender a democracia, implantaram uma ditadura. Democrática, é claro, autodenominada “Revolução Democrática de 31 de Março de 1964”.
Tão democrática que o jornal O Globo decidiu saudá-la com a manchete “Ressurge a Democracia”… O jornal da família Marinho entendia que a democracia golpeada era uma ditadura disfarçada. Então, aderiu à democracia disfarçada de ditadura.
Em 1984, ao se deparar com gigantesco comício na Praça da Sé, com a multidão reclamando democracia, a TV Globo não acreditou naquela bizarrice e interpretou aquilo como um parabéns pelo aniversário de São Paulo. Demorou 50 anos a se dar conta do lapso. Algo que se revelou conveniente, uma vez que, ao longo daquele produtivo auto-engano, transformou-se, sem querer querendo, num dos maiores impérios de comunicação do planeta.
Da mesma forma que em 1964, os três principais partidos que urdiram o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff orgulham-se da democracia tanto que a carregam em seus nomes: o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Democratas (DEM).
É democracia de sobra, para ninguém botar defeito. Ou melhor, sempre tem alguém que bota defeito: O DEM, por exemplo, foi parido como Arena e saiu das entranhas da ditadura, mesma genitora do MDB. E o PSDB, por sua vez, nasceu de uma costela – a que supostamente seria menos fisiológica – do MDB.
Tudo parece nos levar, infinitamente, ao mesmo movimento, o de construir uma sociedade de democratas mas sem democracia, esse troço que tanto nos atrapalha. Que nos expõe em shoppings, aeroportos e universidades à pior das gentalhas. Mas um dia a gente chega lá. Enquanto isso não acontece vamos gritar “Intervenção Militar Já!” Democrática, é claro.
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